Morre Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura
Ex-ministro e engenheiro chegou a ser indicado ao prêmio Nobel da Paz
O engenheiro agrônomo e ex-ministro da Agricultura (1974-1979), Alysson Paolinelli, faleceu nesta quinta-feira (29), aos 86 anos. Ele também foi presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (ABRAMILHO) e chegou a ser indicado ao prêmio Nobel da Paz por favorecer o aumento da produção alimentar no mundo.
Paolinelli nasceu em Minas Gerais, onde chegou a dirigir a secretaria de Agricultura Estadual por três vezes. Liderou a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e atualmente era catedrático da Universidade de São Paulo (USP), trabalhando à frente do projeto Biomas.
Quando exerceu o cargo de ministro durante o mandato presidencial de Ernesto Geisel (19774-1979), investiu em ciência e tecnologia e ajudou a impulsionar a modernização da agricultura tradicional, a exemplo do Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados (Prodecer).
Lideranças políticas brasileiras lamentaram a morte do agrônomo, como o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), vice-líder do Governo Lula (PT) no Congresso, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
“O Brasil perde o grande nome do desenvolvimento da agricultura nacional para garantir o abastecimento mundial. Um legado imortal por desbravar nosso clima tropical e adaptar nossa produção rumo à uma era de abundância e prosperidade que sustenta nosso país”, afirmou uma nota emitida pelo Instituto Pensar Agro.
Confira abaixo o depoimento do presidente do Grupo EQM e fundador da Folha de Pernambuco, Eduardo de Queiroz Monteiro:
Por toda história que carrega, Alysson Paolinelli foi sem nenhuma dúvida o homem mais importante da agricultura brasileira. Eu falo da agricultura contemporânea, competitiva, desse país que tem no agronegócio um setor imprescindível no mundo. E o trabalho dele começa lá atrás, ainda no regime militar, quando ele, na condição de ministro da Agricultura, quando ele captou quadros importantes nas universidades, para estabelecer uma base científica na Embrapa, inclusive com visitas ao exterior, cursos fora, para que a Embrapa tivesse um material humano de altíssimo nível. E foi a partir desses investimentos da Embrapa que a agricultura brasileira ajustou as sementes de clima temperado da soja para o clima tropical, e os nossos cerrados foram em grande parte ocupados pela agricultura competitiva de grãos: no milho, na soja, no algodão. E hoje nós temos sem nenhum favor a agricultura mais competitiva do mundo. Eu considero que Alysson Paolinelli, quando secretário de Estado da Agricultura muitas vezes, depois como ministro da Agricultura, depois como presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), depois como presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Grãos e depois até, em 2021 e 2022, disputou a condição do Prêmio Nobel da Paz, tem notável relevância na questão alimentar mundial, por tudo que fez para a agricultura brasileira.
Eu dou esse depoimento, sobretudo registrando que ele era amigo de meu pai (Armando de Queiroz Monteiro Filho, empresário e ex-ministro - 1925-2018). Meu pai foi ministro da Agricultura, eles tinham uma associação onde se reuniam algumas vezes. Portanto, registro aqui a enorme perda, a insuperável perda de um homem com um talento e um comprometimento com a agropecuária brasileira. Nós perdemos, mas evidentemente que o exemplo de Alysson Paolinelli é imorredouro, por tudo que ele representa, pelo significado da sua obra, é evidentemente um talento, uma obra que vai perpassar as várias gerações, e o seu exemplo, a sua extraordinária contribuição, ficarão para sempre na história contemporânea do Brasil. O Brasil e a classe política haverão de fazer um reconhecimento histórico da extraordinária contribuição do ministro Alysson Paolinelli à agricultura brasileira. Nós vamos conhecer muito mais agora a obra dele, na medida em que se divulgue tudo que ele fez e o que ele legou a nós agricultores, eu me considero um agricultor e posso dizer que todos guardamos em relação a ele um grande e extraordinário reconhecimento.
Eduardo de Queiroz Monteiro
Presidente do Grupo EQM