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Meta de inflação de 3% reforça queda de juros em agosto e tira "bode da sala", dizem economistas

Especialistas afirmam que a permanência da meta pelo CMN traz sinalização positiva

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A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação em 3% nos próximos dois anos, e mudar o regime para contínuo apenas a partir de 2025, foi recebida com alívio por economistas do mercado financeiro. Apesar do fim do sistema de ano-calendário já ser esperado, analistas ainda monitoravam o risco de uma elevação da meta pelo grupo.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a decisão do CNM "tira o bode da sala" e melhora as expectativas em relação a uma queda dos juros. A avaliação dele é que a manutenção da meta alivia um dos focos de tensão dos agentes financeiros, que era um possível afrouxamento do governo com o regime de inflação:

— Existia uma tensão em relação ao foco da meta e uma leniência em relação a ela. Se isso acontecesse, as expectativas de juros iriam subir para além do que está precificado e, consequentemente, a gente poderia ver um reflexo na condução da Selic.

Mais cedo, às vésperas do encontro do CNM, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia defedido uma meta de inflação que não fosse "tão rígida". Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho de administração da Jive Investments, avalia que, apesar das narrativas, o ministério da Fazenda tem acertado.

— Apesar da narrativa, inclusive de hoje, do Lula, eles tomaram a melhor decisão possível. Se eles tivessem subido a meta, seria muito contraproducente. A inflação projetada para o ano que vem já está mais perto de 3%, as expectativas estão caindo gradualmente, o risco fiscal diminui, a inflação de curto prazo tem surpreendido favoravelmente. Tudo isso junto vai criando as condições para o BC reduzir a taxa de juros — diz Figueiredo.

Na última reunião do Copom, na semana passada, o Comitê de Política Monetária manteve em 13,75% a taxa básica de juros, com um comunicado que abriu divergência sobre o início de afrouxamento da política monetária em agosto.

Mais cedo, durante a divulgação do Relatório de Inflação, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou sobre os ruídos em relação ao texto do Copom da semana anterior e explicou que o documento deixava uma "porta aberta" para queda dos juros em agosto.

— Essa mudança era esperada e foi um aperfeiçoamento do sistema. As metas dos próximos anos foram mantidas. E a decisão chancelou o mercado para novas quedas de expectativas de inflação, especialmente para 2025 e 2026. Está aberto o caminho para a queda de juros, sem questões institucionais ou conjunturais — afirmou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Ele observa que este ano a expectativa de inflação caminha para algo entre 4,5% e 5% (a projeção da MB é de 4,9%), enquanto há pouco tempo ela estava em 6% — quase dois pontos percentuais a mais. Vale lembra que a atividade econômica está sob controle, inclusive abaixo do potencial, o que tecnicamente indica que o cenário permite baixa de juros com segurança.

O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, avalia que a mudança para um sistema de meta contínua é acertada porque as características da inflação no Brasil são diferentes da de outros países que adotaram metas de inflação.

Agostini observa que entre 25% a 27% do IPCA correspondem a preços administrados, ou seja, serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou regulados pelo setor público. Ele dá o seguinte exemplo: se o país se mantém na meta de inflação, durante o ano inteiro e, em dezembro, o governo decide aumentar em 20% o preço dos combustíveis.

— Isso estoura a meta e o sistema perde credibilidade? Não deveria, mas pelo sistema anterior, isso acontecia. Portanto, a mudança para meta contínua foi acertada, pois dessa forma se consegue acomodar aumento de preços ao longo do tempo. Não faz sentido no Brasil, um sistema de metas que olha o ano calendário — explica o economista.

Agostini afirma ainda que, com o novo sistema, será possível acomodar choque de ofertas, como aconteceu no caso da energia em algumas oportunidades no Brasil. Por isso, o Brasil até criou o sistema de bandeiras verde, amarela e vermelha.

Com a mudança, completa o economista, será possível ao Banco Central fazer uma política monetária mais de longo prazo, sem precisar sufocar a economia com juros altos para fazer os preços livres caírem "ao chão" e a inflação chegar ao centro da meta, diz Agostini.

A economista Paloma Lopes, da Valor Investimentos, também avalia como positiva a mudança para meta contínua, mas observa que talvez fosse melhor não fazer o anúncio dessa alteração agora. Ela avalia que há risco de mudar a ancoragem das expectativas de inflação, que estão em queda.

— Se não mudou nada agora e o novo sistema só vai entrar em vigor em 2025, então por que anunciar agora? Meu receio é que haja um descolamento da ancoragem das expectativas de inflação. Talvez isso possa causar uma turbulência desnecessária. Acredito que o anúncio foi feito mais por questão política do que econômica — diz a economista.