"Ruby Marinho: Monstro Adolescente" estreia nesta semana nos cinemas; leia a crítica
Animação da Dreamworks tem apelo para público-alvo, mas desperdiça potencial de ir além do "feijão com arroz"
Estreia desta semana nos cinemas brasileiros, a animação da Dreamworks “Ruby Marinho: Monstro Adolescente” segue uma fórmula clássica da indústria hollywoodiana que há algum tempo não via a luz do dia: um filme “feijão com arroz” se apropriando de todas as tendências do momento com o único objetivo de fazer algum dinheiro surfando na onda da concorrência de sucesso.
A Dreamworks nunca foi uma fiel seguidora de tal fórmula, costumeiramente utilizada por empresas de baixo orçamento, mas seu uso não é uma novidade para o estúdio. Mas muitas vezes na história recente, a produtora esteve até do lado oposto - o do concorrente “copiado”. Somando isso ao sucesso estrondoso de “Gato de Botas: O Último Pedido” no final de 2022, o modus operandi utilizado em “Ruby Marinho” gera estranheza vindo de quem não parece precisar mais se aproveitar de tendências alheias tão superficialmente.
Na trama, a personagem-título é a primogênita de uma família nuclear de krakens, monstros marinhos mitológicos semelhantes a uma lula. Os Marinho, no entanto, vivem em terra firme, disfarçados como humanos numa pacata cidadezinha litorânea nos Estados Unidos. Quando Ruby acidentalmente entra em contato com o oceano pela primeira vez na vida, ela descobre que sua herança mitológica lhes concede poderes, e que sua mãe esconde mais segredos do que ela imagina, envolvendo até mesmo uma guerra histórica entre povos subaquáticos, que ela almeja resolver com a ajuda de sua nova amiga - a sereia Chelsea.
Quem não esteve atento aos lançamentos recentes da concorrente Pixar talvez não pegue as óbvias inspirações em “Red: Crescer é uma Fera”, desde o drama familiar geracional focado na relação entre filha, mãe e avó, até detalhes como a estruturação e personalidade de todo o elenco coadjuvante, e em “Lucca”, com quem compartilha a temática de criatura marinha se escondendo entre humanos e vivendo uma vida dupla.
A animação se apoia ainda em outros clichês narrativos para preencher seus 90 minutos, como a “confiança indevida em um novo aliado que é secretamente o antagonista” e “jovem escolhida que rejeita seu protagonismo e busca resolver o conflito entre os povos que está destinada a dar continuidade”. Para fechar o ‘frankenstein’ de referências, o estúdio se aproveita da oportunidade para parodiar a ‘pequena sereia’ Ariel e ganhar relevância colocando lenha na fogueira com toda a discussão on-line envolvendo o recente live-action da Disney.
Mas o uso de clichês, a reprodução de tendências ou paródia de personagens clássicos não é uma prática inerentemente ruim. Um dos maiores sucessos da Dreamworks - se não o maior - a franquia “Shrek” usou e subverteu esses elementos e mesmo seus filmes mais fracos ainda são amados. Em seu auge - o primeiro ato - “Ruby Marinho” diverte independente de sua carcaça 'clichê', especialmente com sua dinâmica familiar, os problemas mundanos enfrentados por eles, e a encantadora estética da cidade, seus habitantes e dos próprios krakens.
O que prejudica “Ruby Marinho” é, ironicamente, não sair da superfície. Seguir a cartilha proposta, somado aos visuais coloridos e estilizados, as diversas minorias sociais e políticas representadas, e a trilha sonora com artistas como Blackpink deve fazer o longa cair nas graças do público-alvo, mas a falta de profundidade dos tantos caminhos traçados, num malabarismo de histórias artificialmente mescladas, não cativa nem emociona como os filmes que o inspiraram.