Saúde

Austrália autoriza o uso médico do ecstasy e de fungos alucinógenos

Tratamento deve ter ao menos três sessões, em um prazo que dura de cinco a oito semanas. Cada sessão pode custar aproximadamente R$ 3.200

Comprimidos de ecstasy (MDMA) - Reprodução/Drug Enforcement Administration (DEA)

A Austrália se torna neste sábado (1º) um dos primeiros países a autorizar o uso do ecstasy e dos fungos alucinógenos, como a psilocibina, para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático e alguns tipos de depressão. Estas substâncias já haviam sido legalizadas no país há alguns meses, pela agência de controle de drogas nacional. A partir de agora, elas poderão ser prescritas por psiquiatras.

No Canadá e nos Estados Unidos, já é permitido o uso médico de um ou mesmo ambos os compostos, mas somente em ensaios clínicos ou casos específicos. Em fevereiro, a Austrália reclassificou essas substâncias, depois de a Agência de Produtos Terapêuticos afirmar que os ensaios haviam revelado que são "relativamente seguras", quando utilizadas em um "entorno médico controlado".

Os defensores do tratamento esperam que essas substâncias possam ajudar pacientes que não responderam a outros medicamentos.

Mike Musker, pesquisador de saúde mental e prevenção do suicídio da Universidade do Sul da Austrália, afirmou à AFP que o MDMA (ecstasy) pode tratar o estresse pós-traumático, e que a psilocibina pode aliviar a depressão.

— O MDMA dá às pessoas a sensação de estarem conectadas, facilita a ligação com seus terapeutas, e as faz falarem sobre suas más experiências pessoais — explicou o especialista, acrescentando que a psilocibina proporciona aos pacientes um "efeito psicoespiritual que não se obtém com as drogas tradicionais": — Pode fazer você se sentir diferente em relação a si mesmo e à sua vida. Com sorte, te dará vontade de viver.

Contudo, Musker não acredita que passará a haver um uso generalizado dessas drogas para tratar pacientes, até o ano de 2024. O processo não será tão simples quanto parece. O tratamento com MDMA deve contar ao menos com três sessões, de oito horas de duração cada, em um prazo que dura de cinco a oito semanas.

Isso obriga os terapeutas a acompanharem os seus pacientes, fazendo com que cada sessão possa custar aproximadamente 1.000 dólares australianos (cerca de R$ 3.200 na cotação atual).

Falta de opções
O médico David Caldicott, consultor de medicina de emergência e pesquisador clínico sobre fármacos na Universidade Nacional da Austrália, disse à AFP que essa reforma coloca o país "muito à frente do resto", na exploração dos benefícios médicos dessas substâncias.

Entretanto, para Susan Rossell, neuropsicóloga cognitiva da Universidade de Swinburne, ainda que esses tratamentos tenham potencial, ela acredita que o país "está se adiantando em cinco anos ao que deveria".

— Se olharmos para as intervenções realizadas em qualquer outro tipo de doença, seja algo cardiovascular ou um câncer, não se pode colocar um medicamento no mercado tão rapidamente, como foi feito nesse caso — apontou.

Um porta-voz do Departamento de Saúde australiano indicou que a decisão de mudar o regramento indica que ainda não está bem demonstrada a evidência do uso dessas substâncias no tratamento de doenças mentais.

— No entanto, os benefícios para alguns pacientes vão ser maiores que os riscos — explicou. — Atualmente, há uma falta de opções para pacientes com doenças mentais específicas, que são resistentes aos tratamentos.