Titan

Submarino do Titanic: pressão, implosão e água salgada podem dificultar análise de restos mortais

Segundo especialistas, análise de DNA pode ser realizada mesmo com uma parte mínima de remanescente humano

Submersível Titan - OceanGate Expeditions / AFP

Os destroços do submersível Titan, que implodiu no fundo do Atlântico enquanto tentava alcançar os destroços do Titanic, foram trazidos de volta à superfície nesta quarta-feira. Junto às partes da embarcação, foi encontrado matéria orgânica, supostamente restos mortais dos passageiros.

Segundo especialistas, mesmo com uma parte mínima de remanescente humano, é possível fazer a análise de DNA, mas as condições do caso podem trazer desafios.

Os pedaços de metal, incluindo a calota de vante (parte dianteira) com a vigia que os cinco homens usariam para ver os destroços do Titanic, foram descarregados do navio Horizon Arctic, em um cais da Guarda Costeira Canadense.

Profissionais médicos dos Estados Unidos “realizarão uma análise formal de supostos restos humanos que foram cuidadosamente recuperados nos destroços no local do incidente”.

De acordo com Willy Hauffe, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, as condições nas quais os destroços e o material orgânico foram encontrados dificultam o trabalho dos especialistas.

— Com aproximadamente quatro mil metros de profundidade, a pressão é absurda. Lá embaixo, um corpo humano se comporta como se fosse uma gelatina e, de acordo como o metal do submarino foi rompido, as pessoas são despedaçadas — afirmou o perito. — A ação do mar, da água salgada e animais também deve ser considerada.

Os restos do Titan foram encontrados em um campo de destroços no fundo do mar, a 500 metros da proa do Titanic. O naufrágio fica a 3,8 mil metros abaixo da superfície do oceano e a mais de 640 km da costa de Terra Nova, no Canadá. No entanto, segundo o especialista, mesmo com empecilhos que dificultam a análise, ainda é possível encontrar o perfil genético do DNA em pedaços minúsculos de matéria orgânica.

— Pode sobrar um pedaço de unha, por exemplo, e a partir daquilo já é possível buscar a identificação. Em casos de desastres, é usado um protocolo específico para descobrir quem são as vítimas a partir de pequenos fragmentos, como é o caso de acidentes aéreos, por exemplo. No caso do submarino, o impacto foi muito parecido com o sofrido em impactos de avião — explicou Hauffe.

A avaliação é feita a partir da análise cromossômica do DNA das células presentes no material coletado, seja ele tecido, osso, dente, ou qualquer outro remanescente humano. Primeiramente, será identificado se o conteúdo é humano ou uma substância vinda de outro animal ou vegetal.

Depois, é coletada uma amostra de referência de parentes próximos, para que seja possível uma comparação das características hereditárias e, por fim, a identificação da vítima.

Os destroços foram encontrados quase uma semana após o término de uma operação internacional de busca e resgate, mas o processo de avaliação do DNA no material orgânico pode levar ainda mais tempo, de acordo com as condições da amostra encontrada na carcaça do submarino.

— O tempo depende de como está o material que foi encontrado. Se a amostra estiver muito danificada ou com poucas células, é preciso realizar um processo de amplificação e replicação, para que seja possível analisar a mostra — disse o especialista. — Esse processo, normalmente, leva de duas a quatro semanas e acaba prolongando o tempo até o resultado final. Em casos de bom material, é possível identificar as características da matéria em uma semana.

Além da marinha americana, os canadenses afirmaram também estarem realizando sua própria investigação. Foi o cargueiro Polar Prince, de bandeira canadense, que rebocou o Titan para o mar no fim de semana do desaparecimento, mas perdeu contato com ele cerca de 1 hora e 45 minutos depois que o submersível foi lançado nas profundezas do oceano.

As vítimas foram o aventureiro britânico Hamish Harding, pai e filho Shahzada e Suleman Dawood, o presidente-executivo americano da empresa responsável pela embarcação, Stockton Rush, e o francês Paul-Henri Nargeolet.