Sem avanços decisivos na frente de batalha, onde russos e ucranianos lutam por cada metro
Nenhum dos beligerantes parece ter registrado um avanço decisivo
As tropas russas conseguiram alguns avanços no leste da Ucrânia e as forças de Kiev tiveram tímidos progressos no sul, o que faz com o que a linha de frente siga, em grande medida, congelada mais de um mês depois do início da contraofensiva ucraniana.
Nenhum dos beligerantes parece ter registrado um avanço decisivo.
O Exército ucraniano retomou 37 quilômetros quadrados controlados pelos russos no sul e no leste em uma semana, anunciou, nesta segunda-feira (3), a vice-ministra da Defesa, Ganna Maliar.
"A semana passada foi difícil, mas realizamos progressos. Avançamos passo a passo", resumiu no Telegram o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, depois de Moscou ter fortificado durante meses suas linhas de defesa, que, às vezes, têm estruturas de mais de 30 quilômetros de profundidade.
Para o almirante Rob Bauer, presidente do Comitê Militar da Otan "há um número considerável de russos na Ucrânia. Há consideráveis obstáculos ofensivos".
"A contraofensiva é difícil. A gente nunca deve pensar que é uma caminhada fácil", afirmou, defendendo que os militares ucranianos sejam "cautelosos".
Para complicar a tarefa dos ucranianos, as forças russas lançaram recentemente ataques em várias regiões do Donbas, no leste, uma região que Moscou anexou oficialmente em 2022, mas que não conquistou integralmente e é um dos seus principais objetivos.
A Ucrânia afirma que há ofensivas russas em Avdiivka, Marinka e Lyman, em Donetsk e em Svatove, em Luhansk.
O historiador militar francês, Michel Goya, afirmou que é imprudente tirar conclusões precipitadas, já que explicou à AFP que a frente permanece, em grande medida, imóvel, sem que nenhum dos dois lados disponha dos meios para sufocar o outro.
Falta de munição
"Faz sete meses que a frente mal se moveu", explicou o autor do livro: "L'ours et le renard: histoire immédiate de la guerre en Ukraine" (O urso e a raposa: história imediata da guerra na Ucrânia, em tradução literal).
Para o especialista, isso se deve à solidez das linhas defensivas, mas também à "falta de apoio", sobretudo de artilharia, para neutralizar as defesas inimigas, e lançar a infantaria e os carros de combate.
"O problema para a ofensiva ucraniana no sul, por exemplo, é que há muito menos unidades de apoio que de combate. Por isso, os ucranianos estão apenas utilizando uma fração das suas brigadas: não podem apoiar mais", apontou Goya.
Para o especialista, um avanço requer lançar uma enorme quantidade de projéteis e os ucranianos não os têm.
"E os russos também não, embora tenham tido em algum momento", concluiu, destacando que o exército de Vladimir Putin conta "com mais peças de artilharia do que os ucranianos, mas reduziu seus esforços devido à falta de uma quantidade suficiente de munições".
A Ucrânia tem que ponderar os progressos feitos pelo outro lado, que aprendeu com a sua experiência no terreno.
"A Ucrânia enfrenta um exército russo que é claramente diferente do de 2022", indicou Ivan Klyszcz, pesquisador do Centro Internacional para a Defesa e a Segurança (ICDS), sediado na Estônia.
Após os erros dos russos nos primeiros dias da guerra, "as forças de Moscou se adaptaram ao campo de batalha e ajustaram suas táticas e métodos", apontou o especialista.
Um exemplo é a bem-sucedida utilização, nos últimos meses, de pequenos drones explosivos Lancet para atacar diariamente as baterias de artilharia ocidental que as forças ucranianas possuem.