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Brasil investiga se país é "paraíso" para espiões russos, diz Wall Street Journal

Reportagem cita três casos ocorridos ao longo dos últimos anos; autoridades acreditam que podem existir mais ocorrências do tipo

Saiu no "The Washington Post" que as autoridades brasileiras estão investigando os pedidos de cidadania brasileira feitos por espiões russos - Reprodução/ 'The Washington Post'

Autoridades brasileiras investigam a possibilidade do país ter se tornado um "paraíso" para espiões russos com planos de se infiltrar em nações do Ocidente, afirmou o jornal americano Wall Street Journal neste domingo.

"Investigadores brasileiros têm oferecido poucos detalhes públicos, mas eles acreditam que mais agentes secretos podem estar à espreita não detectados no país ou em todo o mundo", diz o veículo, citando fontes anônimas.

A reportagem cita alguns casos de possíveis espiões russos que se utilizavam de identidades de nacionais. Um deles, Sergey Cherkasov, encontra-se detido no Distrito Federal por uso de documentos falsos e é investigado por espionagem. O Departamento de Justiça americano já acusou o russo, que usava o nome de Victor Muller Ferreira, de espionar para Moscou enquanto cursava o ensino superior no país.

A Rússia, por sua vez, alega que Cherkasov é um traficante de drogas e pediu a extradição dele. De acordo com o Wall Street Journal, a acusação russa "atraiu ceticismo de oficiais americanos e brasileiros, mas o próprio Cherkasov disse que ela era precisa".

Documentos falsos
A denúncia apresentada pelo Departamento de Justiça americano, segundo o jornal, aponta que Cherkasov obteve uma certidão de nascimento que o identificava como Victor Muller Ferreira, nascido em 1989. A partir desse documento, ele conseguiu ao longo dos anos construir sua identidade de brasileiro.
 

"Essa suposta estratégia ressalta as lacunas de segurança no sistema de documentação do Brasil que os espiões secretos podem explorar: os oficiais da lei dizem que com apenas um registro de nascimento em lado, uma pessoa pode obter carteira de identidade brasileira e passaporte, desde que documentos ainda não foram obtidos sob essa identidade", diz a reportagem.

Conforme mostrou O Globo, o suposto espião conseguiu autenticar documentos, anular multas eleitorais e concretizar a compra de um apartamento para ter um endereço fixo após presentear uma escrevente com um colar de joias de US$ 400 (R$ 2,2 mil). "Ela fica feliz quando pode ajudar, pedir ajuda é bem fácil", escreveu o russo sobre a suposta fonte, de acordo com o jornal americano.

Muller Ferreira foi detido pelas autoridades holandesas em junho de 2022 ao tentar se infiltrar no Tribunal Penal Internacional (TPI), a corte em Haia que investiga crimes de guerra.

Outro caso citado pelo Wall Street Journal é o de Mikhail Mikushin detido em Outubro de 2022 na Noruega sob a acusação de espionagem. Antes de ser detido, ele trabalhava como pesquisador na Universidade de Tromsø com a identidade brasileira de José Assis Giammaria.

Segundo o jornal, autoridades do Brasil traçaram as origens dos documentos do russo até a cidade de Padre Bernardo (GO). Registros públicos do município indicam que um homem com esse mesmo nome nasceu no local em 1984. Ao Wall Street Journal, moradores da cidade afirmaram não conhecer Giammaria.

O último caso citado pelo Wall Street Journal é o do homem identificado como Gerhard Daniel Campos Wittich, suposto austro-brasileiro dono de uma gráfica de impressoras 3D no Rio de Janeiro que desapareceu após uma viagem no início do ano à Malásia. Como mostrou O Globo, para a namorada, amigos e funcionários, ele disse ter ido fazer um curso ligado a sua atividade profissional.

A Embaixada do Brasil no país chegou a ser acionada, mas conseguiu determinar apenas que Gerhard Wittich passou pela imigração do aeroporto internacional no dia 9 de janeiro. Segundo a imprensa grega, o suposto russo seria namorado da espiã Irina Alexandrovna Smireva, que atendia pelo nome falso de Maria Tsalla e atuava no território europeu. Os dois foram identificados no início de 2023 pelo Serviço Nacional de Inteligência da Grécia (EYP) como um casal que fazia espionagem para o governo da Rússia.