França repatriou mulheres e menores de campos de prisioneiros na Síria
Repatriação aconteceu nesta terça-feira (4) e envolveu, entre outros, familiares de combatentes jihadistas e presos
A França repatriou, nesta terça-feira (4), 10 mulheres e 25 menores, familiares de combatentes jihadistas e presos em campos controlados pelos curdos no nordeste da Síria, na quarta operação desse tipo em um ano.
"Os menores foram enviados aos serviços encarregados da ajuda social e da infância" e serão objeto de um acompanhamento médico e social, enquanto "os adultos serão entregues às autoridades judiciais competentes", explicou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
As adultas, que viajaram voluntariamente para as regiões controladas por grupos jihadistas na Síria e no Iraque, "foram entregues às autoridades judiciais competentes", continuou a pasta.
Das dez mulheres, sete foram imediatamente presas, apontou a promotoria antiterrorista em uma nota. As outras três compareceram ante um juiz ao longo do dia, acrescentou.
Todas têm entre 23 e 40 anos. As autoridades também prenderam uma adolescente de 17 anos, parte do grupo de menores.
Milhares de europeus viajaram para a Síria e Iraque para se unirem às fileiras do grupo Estado Islâmico (EI), e, em diversas ocasiões, levaram suas esposas e filhos para viver com eles.
O retorno desses familiares se converteu em uma questão delicada para os países da Europa desde a queda do autoproclamado "califado" do EI em 2019.
Tanto Espanha, quanto Bélgica, Holanda, Alemanha e França repatriaram alguns familiares de combatentes do EI, detidos em acampamentos controlados pelas forças curdas, como os de Al Hol e Roj.
- Temores da população -
Na França, até um ano atrás, aplicava-se uma política de "caso por caso" para o retorno dessas mulheres e menores.
Mas as autoridades mudaram a normativa e, em julho de 2022, anunciaram o retorno de 16 mulheres e 35 crianças em uma primeira operação.
Desde então houve outras duas repatriações, em outubro de 2022, de 15 mulheres e 40 menores, e, em janeiro de 2023, de 15 mulheres e 32 crianças.
Na França, atingida por violentos atentados jihadistas em 2015, qualquer adulto que viajou e permaneceu na região sírio-iraquiana está sujeito a processos judiciais.
Anne-Clémentine Larroque, historiadora e especialista em islamismo, argumenta que é necessário considerar muitas dessas mulheres como "combatentes" e não como meras acompanhantes de seus maridos.
Quanto às crianças, a especialista acredita que seu nível de doutrinação depende da idade.
"Há uma grande diferença entre um menor que tem quatro anos e volta agora e um que tem 12 ou 13 e foi "filho do califado", explicou.
"Pode-se conhecer o nível de impregnação, o que lhes foi dado ou doutrinado se têm certa idade porque falam. Mas se são muito jovens, isso é algo que ignoraremos", acrescentou.
- Última repatriação? -
O ministério francês não indicou quantas mulheres e crianças francesas seguiam presas na Síria.
Uma fonte próxima à pasta assegurou, em maio, à AFP que cerca de 80 ainda permaneciam nos campos e não queriam voltar.
"Ainda há uma centena de crianças nesses campos que não conhecem outra coisa além de sujeira, arame farpado e violência", declarou, nesta terça, Maria Dosé, advogada que representa as famílias de mulheres e crianças mantidas nos campos do nordeste da Síria.
O Coletivo de Famílias Unidas, que reúne os parentes de franceses que foram para essa região, teme que essa operação seja a última.
Representantes do governo francês viajaram ao campo de Roj em maio e falaram com "todas as mulheres francesas", indicou o coletivo, que denuncia condições de vida "incompatíveis com o respeito e com a dignidade humana" nos campos.
Durante os encontros, perguntaram a elas "se aceitavam ou não ser repatriadas com seus filhos durante uma repatriação (...) apresentada como a última", assegurou.