Threads, aplicativo rival do Twitter, é lançado em meio a polêmicas sobre privacidade
Nova rede social ligada ao Instagram terá textos de até 500 caracteres, mas é alvo de questionamentos sobre compartilhamento de dados entre plataformas
Com lançamento adiantado para esta quarta-feira (5) pela Meta, o novo aplicativo Threads - criado pela empresa de Zuckerberg no intuito de rivalizar com o Twitter - estreou em meio a questionamentos sobre privacidade do usuário e aspectos legais de compartilhamento de dados entre plataformas. A rede está disponível em 100 países, mas decidiu deixar de fora a União Europeia por questões regulatórias.
O Threads permitirá que usuários façam login com sua conta do Instagram, importando os dados da outra plataforma da Meta. Mas tal prática pode esbarrar em questões concorrenciais, a depender da legislação.
Além disso, a rede prevê coletar uma série de informações - dentre elas, financeiras, confidenciais, de saúde e condicionamento físico - dados que até então, o seu rival Twitter, por exemplo, não solicita aos usuários.
Pouco antes da plataforma ser disponibilizada, um alerta feito por Jack Dorsey, co-fundador do Twitter, sobre a quantidade de dados pessoais captadas pelo Threads, e uma sinalização da União Europeia de que a rede social não será lançada na Europa num futuro próximo - já ameaçavam a inscrição de usuários da rede, que busca angariar usuários da rede social de Elon Musk.
Complexidade regulatória
Na avaliação de Mariana Rielli, pesquisadora e líder de projetos da Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa, o fato de a companhia postergar o lançamento na União Europeia deixa claro o alto grau de complexidade da legislação, uma vez que há leis aprovadas que não entraram em vigor e outras que ainda estão em discussão.
Para Mariana, mais do que uma questão sobre privacidade, que ainda depende da política de proteção de dados a ser adotada pelo Threads, há uma clara questão concorrencial:
—(A questão concorrencial) Isso é, com certeza, um dos elementos que leva o produto a não ser lançado imediatamente na UE. O compartilhamento de dados pode ser considerado injusto do ponto de vista da lei de mercado, porque a empresa compete com serviços que não tem o mesmo propósito, mas está cortando caminho por já ter todos aqueles dados. É uma questão com possíveis efeitos jurídicos e que gera ainda mais polêmica.
O Globo procurou a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para saber se a entidade tomou conhecimento sobre o novo aplicativo e se iria impor algum tipo de limite ou condição, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Empresa decide deixar UE de fora do lançamento
Segundo fonte, a Meta não vai oferecer o novo aplicativo na União Europeia neste primeiro momento por conta de uma incerteza regulatória. A companhia estuda como será feito o compartilhamento de dados entre a nova plataforma e o Instagram.
A Meta aguarda mais orientações sobre a Lei de Mercados Digitais da União Europeia, legislação que entrou em vigor em novembro do ano passado e dispõe sobre as regras de concorrência e regem como grandes plataformas usam seu poder de mercado. A Comissão Europeia está atualmente discutindo os regulamentos com as empresas e é esperado que novas orientações sejam fornecidas em setembro.
Um porta-voz da Comissão de Proteção de Dados (DPC, em inglês) da Irlanda, que regula o tema na União Europeia, disse que a Meta não lançará o Threads na Europa num futuro próximo, segundo o jornal The Independent.
"Todos os seus Threads pertencem a nós"
O alerta sobre coleta de dados foi feito inicialmente por Jack Dorsey, co-fundador do Twitter que atualmente está trabalhando no rival BlueSky. O executivo utilizou seu próprio perfil no Twitter para levantar uma preocupação com relação aos dados coletados pelo novo aplicativo Threads, sugerindo que a plataforma levanta informações demais:
“Todos os seus Threads (tópicos, na tradução livre) pertencem a nós”, escreveu ele, ao publicar uma captura de tela da Apple Store que informa que o aplicativo Threads pode coletar dados relacionados à sua saúde, informações financeiras, informações de contato, informações sensíveis, histórico de navegação, localização e compras, entre outros.
O próprio Elon Musk chegou a responder o tuíte de Dorsey concordando com o fato noticiado pelo ex-executivo.
Segundo o jornal britânico The Guardian, a título de comparação, a BlueSky pode vincular informações de contato, conteúdo do usuário e identificadores. Já o Twitter diz que pode rastrear usuários por meio de compras, informações de contato, localização, contatos e histórico de navegação.
Crise do Twitter abre portas para rivais
A forma como os serviços e produtos do Twitter vêm sendo conduzidos tem gerado uma série de questionamentos por anunciantes e usuários desde que a plataforma foi comprada pelo bilionário Elon Musk, no ano passado.
As decisões mais recentes de moderação de Musk tem levado anunciantes a reduzirem ou até interromperem os gastos com publicidade na plataforma nos últimos meses. Os episódios mais recentes que frustraram os stakeholders incluem a exigência de login para acesso a tuítes e um limite de tuítes a serem visualizados pelas contas gratuitas.
A empresa também anunciou que o Tweetdeck, ferramenta frequentemente usada por empresas, passaria a ser acessível apenas para as contas que pagam pelo Twitter Blue.
Todo esse movimento tem aberto portas para outros aplicativos de trocas de mensagens, como o BlueSky, Mastodon - e agora o Threads, desenvolvido pela Meta.
O Threads é um "aplicativo de conversação baseado em texto" tido como uma alternativa à plataforma de Musk. Em uma reunião interna, o diretor de produtos da Meta, Chris Cox, disse que houve demanda por uma alternativa ao Twitter “de criadores e figuras públicas que estão interessadas em ter uma plataforma que seja administrada de forma sensata”, segundo o site The Verge.