BRASIL

Reforma Tributária: Com articulação de Tarcísio e benção de governadores, Lira consegue votos

Aprovação do novo sistema de impostos ocorreu após negociação intensa entre o relator e governadores

Tarcísio de Freitas - Mauro Pimentel/AFP

A maratona de articulações políticas que resultou na aprovação da Reforma Tributária na Câmara dos Deputados ganhou fôlego na última terça-feira, quando dez governadores do Sul e Sudeste desembarcaram em Brasília, liderados pelo governador de São Paulo, Tarcísio Freitas.

O aliado de Jair Bolsonaro encabeçou o pedido de alterações na proposta do relator, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que atendeu as solicitações e ganhou votos das bancadas estaduais das regiões.

Na noite de terça-feira, Tarcísio e os governadores do Sul e Sudeste se reuniram para organizar as demandas de mudanças no texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Aguinaldo Ribeiro , relator da reforma na Câmara, participou do encontro.

Em seguida, o relator começou a estudar formas de acrescentar o principal pedido dos governadores: o detalhamento da composição para o Conselho Federativo. O órgão vai centralizar a arrecadação do Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS) e redirecionar as parcelas correspondentes para cada ente federal.

Além dos encontros com o relator da Reforma Tributária, Tarcísio de Freitas se reuniu ainda com o ministro da Fazenda e adversário político, Fernando Haddad, na manhã de quarta-feira, o que deu peso aos pedidos de alteração no texto. No mesmo dia, o partido de Tarcísio, Republicanos, fechou questão apoiando a reforma tributária. O cenário de adesão animou ainda mais o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que garantiu a votação no dia seguinte.
 

Após a aprovação da proposta em plenário, na noite de quinta-feira, o relator fez agradecimentos públicos a Tarcísio de Freitas, que foi aplaudido. O texto de consenso, construído com a sugestão de governadores, ficou pronto por volta das 19h e foi aprovado quase três horas depois em primeiro turno.

A última cartada do governador de São Paulo para tentar arrematar o jogo completo foi uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) e a bancada do PL, na manhã desta quinta-feira, dia da votação. Se conseguisse convencer a maior bancada da Câmara a votar favoravelmente, Tarcísio de Freitas conseguiria o carimbo de ouro como fiador da Reforma Tributária. Mas o esforço final não produziu resultado, o PL entregou apenas 20 votos favoráveis de deputados mais alinhados ao governo Lula. A bancada tem 99 parlamentares.

Encontro com Bolsonaro
Tarcísio de Freitas se encontrou a portas fechadas com Bolsonaro, na sede do PL, em Brasília. De acordo com aliados, Tarcísio lembrou a Bolsonaro que a tramitação da Reforma Tributária começou durante o governo dele, em 2019.

O governador argumentou ao ex-presidente que a gestão bolsonarista foi marcada por reformas e que seria contraditório Bolsonaro sair contra uma mudança relevante no sistema de impostos. Tarcísio ainda disse a Bolsonaro que a reforma não é do governo Lula e que o próprio PT está pouco envolvido no tema.

Diante das alegações, o ex-presidente disse então ao governador que nunca foi contra a Reforma Tributária, mas que seria necessário mais tempo para os deputados analisarem o texto proposto.

A reunião com a bancada do PL foi ainda mais difícil para o governador de São Paulo, que ouviu críticas, protestos e vaias.