LUTO

Velório público de Zé Celso tem fila ainda nesta manhã e avança além do horário previsto

Admiradores, amigos e colegas do diretor lotam a sede da companhia de teatro desde a última madrugada: "Vamos fazer o que ele nos ensinou", diz marido

Velório de Zé Celso no Teatro Oficina - Paulo Pinto/Agência Brasil

Fãs e amigos formam filas em frente ao Teatro Oficina, em São Paulo, para dar adeus ao dramaturgo, diretor e ator Zé Celso Martinez Corrêa, que morreu em decorrência de um incêndio em seu apartamento, na capital paulista. O velório, que teve início na noite da última quinta-feira (6), se estendeu por toda a madrugada e continua na manhã desta sexta-feira (7), avançando além do horário previsto.



Ao longo da noite e da madrugada, diversos atores, amigos e familiares cantaram e dançaram em homenagem ao fundador do Teatro Oficina, no bairro da Bela Vista, centro da capital paulista. Nesta manhã, o clima é de silêncio — e o interior do teatro está mais vazio. Filas ao lado de fora do edifício organizam a entrada de pequenos grupos, um por vez. A rua Jaceguai está bloqueada para carros.

A previsão era de que o velório fosse fechado às 9h para o público geral, e depois ficasse reservado até às 11h apenas para familiares e amigos próximos. Mas em razão das filas que ainda se formam no local, esse fechamento deve atrasar alguns minutos. O corpo de Zé Celso será cremado.
 

"Grande celebração da vida"
A cerimônia de velório de Zé Celso é traduzida como uma "grande celebração da vida” pelo marido do artista, o também ator e diretor Marcelo Drummond, que foi abraçado por todos. O corpo do dramaturgo chegou ao local por volta das 23h, recebido por um longo cordão humano que se formou em frente ao teatro, com tambores, palmas e gritos de "viva!". Até mesmo o viaduto próximo ao teatro serviu de abrigo para a multidão que se reuniu para celebrar a obra de Zé Celso.

Por volta da meia-noite, o público começou a entrar no teatro, todos de mãos dadas deram voltas no caixão, coberto com a bandeira da Vai-Vai. As pessoas entravam, saudavam Zé, a banda tocava músicas de amor favoritas do artista. O cantor e compositor Chico César cantou uma versão emotiva de "Béradêro". Foi o momento mais triste da noite, com muitos soluços ao fundo e amigos aos prantos.



Amigos ilustres do diretor foram prestar homenagens, entre eles os atores Gabriel Braga Nunes, Andrea Horta, Bárbara Paz e Renato Borghi, bem como a cineasta Monique Gardenberg, aos prantos no local. Antes do início da cerimônia, músicos cantaram algumas das canções favoritas de Zé, como “Dindi”, “Nanã” e “Wave”.

Às 22h, depois de limparem o chão do Oficina, atores e público cantaram em coro “Carinhoso” e “Eu sei que vou te amar”, acompanhados de piano. Entre as músicas todos gritaram por vários minutos “Viva! Viva! Viva!” e “ Zé Celso presente!”.

Muitas pessoas chegaram ao Oficina com palmas verdes, como Zé Celso gostava de usar em seus espetáculos. Os visitantes ocupam todos os espaços do Oficina, e amigos foram ao palco para contar histórias de Zé Celso. Há gente deitada no chão do Oficina, muito choro mas também brindes e gritos de Evoés.

"Não há um roteiro para o que vai acontecer aqui hoje, mas temos um repertório imenso, cada vez chegam mais atores e músicos, será uma celebração à vida", disse Drummond antes do início do velório, acrescentando que esta noite o Oficina fará uma festa para Zé Celso. "Vamos fazer hoje o que ele nos ensinou. E, para quem não puder vir e for acompanhar de casa, digo que está sendo muito, muito difícil, mas a gente está vivo. Vivam! Com vontade, com intensidade, de todas as maneiras que considerarem bela. Vivam!".

Enquanto aguardavam a chegada do corpo de Zé Celso, as centenas de pessoas que foram ao local homenagear o diretor entoaram canções tocadas por músicos que se apresentaram em muitos espetáculos do Uzyna Uzona. Foi especialmente emocionante o coro em “O amor”, de Caetano Veloso, imortalizada por Gal Costa. Quando cantaram o verso que pede “ressuscita-me”, fizeram-o com razão de ser e emoção de sobra.

O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) discursou em homenagem ao dramaturgo e cantou uma música de Bob Dylan, como costuma fazer. Mencionou a disputa entre Zé Celso e o empresário Silvio Santos, dono do SBT, em torno do uso do terreno ao lado do teatro.

"Senti no fundo do coração, da alma. Ele era mais do que meu amigo, era meu irmão", declarou o político, que foi muito aplaudido. "Em agosto, precisamos aprovar o projeto de lei que cria o parque aqui ao lado. Precisamos fazer isso em homenagem a Zé. Faço um apelo ao Silvio para que não crie nenhum obstáculo. Estou conversando com os vereadores. Vai ser muito especial. Peço com carinho ao Silvio que abrace essa causa".

Um telão foi instalado do lado fora, na Rua Jaceguai, para as pessoas que estão na rua acompanharem. E no prédio, projeções de imagens de Zé com frases como “Zé Celso Presente”, “Evoé Zé” e “Zé Celso Vou Pro Infinito”.