JABOATÃO

Sem a Barragem do Engenho Pereira, Rio Jaboatão segue fazendo estragos

Como Plano de Macrodrenagem não tem se mostrado suficiente para evitar enchentes, construção de barragem, junto com medidas de desassoreamento, seria a solução

Plano de Macrodrenagem não tendo dado conta do volume de águas que chega no inverno, explica Prefeitura de Jaboatão - Foto: Divulgação

A tragédia provocada pelas chuvas em maio de 2022, no Grande Recife, é considerada o maior desastre de causas naturais registrado na história de Pernambuco e Jaboatão dos Guararapes foi o município com maior número de mortes: 64 das 129 vítimas fatais. Um ano depois, deslizamentos e enchentes voltam a assombrar a cidade. 

Diante das mudanças climáticas e intensificação das ocorrências de chuvas, a situação tende a se agravar. O Plano de Macrodrenagem, lançado pela Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes em 2017, e que vem recebendo anualmente investimentos de R$ 15 milhões, não tem se mostrado suficiente para evitar enchentes e alagamentos. A drenagem e macrodrenagem naquele município ficam comprometidas porque o assoreamento do rio Jaboatão tende a fazer a água transbordar. 

A construção da Barragem do Engenho Pereira seria a solução, juntamente com medidas de desassoreamento da calha do rio e dos diversos canais que se conectam com o Jaboatão. Outro desafio é educar a própria população para evitar o despejo de entulhos e lixo na rede de drenagem e também nos cursos d'água do Jaboatão.

A barragem
Projetada para acumular 25 milhões de metros cúbicos de água, a Barragem do Engenho Pereira foi concebida para contenção de enchentes do Rio Jaboatão e também para solucionar o abastecimento de água da cidade de Moreno e de algumas localidades de Jaboatão dos Guararapes, sendo ainda um reforço complementar para a Região Metropolitana do Recife.
 
Até 2014, ano em que as obras pararam, foram investidos R$ 50 milhões na construção da barragem, recursos bancados exclusivamente pelo Governo do Estado. Os últimos cálculos indicam que serão necessários ainda R$ 54 milhões para a finalização do empreendimento.

Macrodrenagem
O superintendente de Manutenção da Secretaria Executiva de Serviços Urbanos e Defesa Civil (Sesurb), Harley Souza Tavares, defende a barragem. "Essa obra do governo do estado é de suma importância que seja concluída, pois irá atender a diversos municípios, incluindo Jaboatão dos Guararapes", sustenta.

Harley Tavares explica que o Plano de Macrodrenagem de Jaboatão é executado o ano inteiro e os serviços têm sido ampliados. Mas não dão conta do volume de águas que tem chegado inverno a inverno. As ações se baseiam nas próprias vistorias feitas pela prefeitura, demandas oriundas da população, da Ouvidoria da prefeitura, do Ministério Público e da Câmara de Vereadores, além de outras instituições.

De acordo com o gestor, a prioridade, na macrodrenagem, tem sido o desassoreamento de parte da Lagoa Olho D'água (conhecida como Lagoa do Náutico), com objetivo de melhorar a capacidade de recebimento de águas pluviais nos bairros de Candeias, Piedade e Barra de Jangada para evitar os alagamentos. 

O que dizem os especialistas?
Para o engenheiro pernambucano Kleiton Lins, diretor técnico da Moura Lins Engenharia e especialista em Infraestrutura de Transportes e Hidrologia, o plano de drenagem de Jaboatão é importante, mas não tem fôlego sozinho para prevenir inundações na região, e depende da construção da barragem do Engenho Pereira, uma obra que cabe ao Governo do Estado.

"A barragem foi projetada especialmente para essa finalidade, beneficiando as cidades de Jaboatão dos Guararapes e Moreno. O problema é que não saiu do papel. A situação se repete na Zona da Mata Sul, onde das cinco barragens planejadas em 2010, apenas uma foi concluída", critica. 

O desafio das enchentes, deslizamentos e mortes provocadas pelas chuvas no Grande Recife tem de ser encarado, segundo Lins, como uma questão de gestão metropolitana, sob a liderança do Governo do Estado e com suporte de recursos federais. "Não é algo que um município consiga fazer de forma isolada e também não é obra de um governo apenas, de quatro anos", diz. Para o engenheiro, o tema requer uma política de Estado, de longo prazo e com investimentos de grande porte, o que extrapola a capacidade do governo estadual.

"O Rio Jaboatão nasce em Moreno e desce com grande velocidade ao Baixo Jaboatão. A capacidade de escoamento está reduzida. A cidade cresceu, solo foi ocupado, a taxa de impermeabilização caiu. A barragem diminuiria os alagamentos, controlando a vazão do rio", diz o arquiteto e urbanista Carlos Frederico Moreira Lima, sócio na Moreira Lima Consultores & Projetos, empresa que atua com desenvolvimento urbano em todo o Nordeste.

Há duas décadas atuando em Jaboatão dos Guararapes, Carlos Frederico chama atenção para a necessidade também de dragagem no rio Jaboatão e seus afluentes, de redução da sinuosidade no leito dos rios que integram a bacia, de impedimento à ocupação irregular das margens ribeirinhas e de educação ambiental. "Sem uma população consciente, que respeite as boas práticas de descarte de entulho e resíduos, nada vai funcionar. É um mau uso do rio que se reflete no próprio prejuízo de quem o degrada", conclui.