Resgate-relâmpago de Bolsonaro baixa fervura contra Tarcísio entre a militância
Articulação de páginas nas redes e aliados esfriaram ataques ao governador de São Paulo, que preserva capital político após manobra
A operação de resgate de Tarcísio de Freitas (Republicanos) do apedrejamento público — feita pouco mais de 24 horas depois do constrangimento sobre a votação da Reforma Tributária —, conseguiu preservar seu capital político. Tanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quanto seus aliados mais próximos perceberam que a fritura poderia deixar o grupo sem presidenciável para 2026.
Eleito governador de São Paulo na esteira da força política de Bolsonaro, Tarcísio foi lançado ao caldeirão fervente da militância na última quinta-feira, depois das desavenças com o ex-chefe por conta da reforma tributária.
As queimaduras, no entanto, saíram do controle. As buscas no Google por "Tarcísio traidor" explodiram, e a base governista na Assembleia Legislativa de São Paulo ameaçou passar um recado ao governador na volta do recesso parlamentar.
O entorno de Bolsonaro então operou um apaziguamento dos ânimos. Na sexta-feira, assim que encerrado o encontro amistoso entre Tarcísio e Bolsonaro, seus aliados se apressaram em baixar a temperatura do fogo.
Um conjunto de perfis em redes sociais criado por gente próxima a Tarcísio passou o fim de semana compartilhando pistas da reconciliação.
No Instagram, Tarcisão do Asfalto (440 mil seguidores), página em apoio ao então ministro da Infraestrutura criada pelo irmão de Michelle Bolsonaro, Diego Torres — hoje assessor especial do governador — publicou: "presidente Bolsonaro curte post do governador Tarcísio. O AMOR ESTÁ NO AR!".
Tarcisio Governador (565 mil seguidores) republicou uma mensagem de Carlos Bolsonaro chamando Tarcísio de "sensacional": "Demonstro minha admiração a ele e que cada dia desenvolva mais o jogo político diante de tantas raposas! Um forte abraço, governador!!!", escreveu Carlos.
Capitão Tarcísio de Freitas (789 mil seguidores) publicou nos últimos três dias quatro registros dos dois aliados juntos, expondo a "lealdade" do ex-ministro. O último vem do próprio senador Flávio Bolsonaro: uma imagem do aperto de mão entre os dois, e o seguinte texto:
"Atacar Tarcísio, além de não ser inteligente, é uma grande injustiça. Foi um ministro competente, trabalhador e aceitou a missão de ser candidato a governador de SP por lealdade a Jair Bolsonaro. Siga firme, mostrando com trabalho sua importância para SP e o Brasil!", escreveu.
A deputada federal Amália Barros (297 mil seguidores), vice-presidente nacional do PL Mulher, publicou uma foto dos dois sorrindo após o encontro, com a legenda: "Direita unida! Homens que admiro!" A operação deu certo, e o caldo esfriou.
No domingo, em uma solenidade em homenagem aos 91 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, data histórica para o estado de São Paulo, Tarcísio definiu a conversa com o ex-chefe como "excelente" e o chamou de "grande amigo".
— Não é possível concordar em tudo. Já era assim quando era ministro. Sempre serei leal e grato ao presidente — afirmou Tarcísio.
Nesta manhã, enquetes promovidas por páginas de direita questionando se Tarcísio seria mesmo traidor do ex-presidente já traziam menos beligerância. As respostas mais curtidas seguiam a linha "se Bolsonaro disse que está tudo bem, então está tudo bem".
Até a manobra de resgate, Tarcísio começava a ser comparado com outras lideranças na direita que foram jogadas aos tubarões do bolsonarismo e acabaram perdendo o capital eleitoral, como João Doria e Wilson Witzel. O primeiro abandonou a corrida presidencial antes mesmo de começá-la, e o segundo sofreu impeachment e amarga o ostracismo político desde então.