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Deputado joga água em premier e dá início a pancadaria no Parlamento de Kosovo

Confusão se iniciou enquanto o primeiro-ministro Albin Kurti falava sobre medidas do governo para diminuir as tensões com os sérvios étnicos no norte do país

Deputado joga água em premier e dá início a pancadaria no Parlamento de Kosovo - Reprodução / Facebook

Uma briga generalizada irrompeu no Parlamento do Kosovo, entre membros do governo e deputados da oposição, nesta quinta-feira, após o deputado Mergim Lushtaku jogar água em Albin Kurti, o primeiro-ministro do país. Ele estava no púlpito falando sobre as medidas que tomará para diminuir as tensões com os sérvios ao norte do país balcânico, onde se concentra esta minoria étnica. A sessão estava sendo transmitida ao vivo, e foi logo interrompida.

Lushtaku, membro do opositor PDK, também jogou água e a própria garrafa em que carregava o líquido em Besnik Bislimi, vice-primeiro-ministro e aliado muito próximo de Kurti. O ministro das Finanças, Hekuran Murati, que estava sentado atrás de Bisljimi, ainda se levanta para tentar proteger os colegas, ao vendo diretamente Lushtaku se aproximando. Ele tentou parar a água usando sua pasta como proteção.

A partir de então, começou a confusão e uma intensa troca de socos entre dezenas de presentes. A situação só se acalmou quando o presidente do Parlamento chamou a polícia. O primeiro-ministro já havia sido levado para longe da multidão pelos seus guarda-costas.

Segundo o portal KoSSev, momentos antes, a oposição havia estendido uma faixa com o desenho de Kurti, zombando dele com um nariz longo de "Pinóquio", insinuando que ele estava falando mentiras. A imagem foi rasgada e retirada por Bislimi.

Os partidos de oposição de Kosovo criticam as políticas de Kurti para o norte, alegando que elas prejudicam as relações com os principais aliados ocidentais. Os Estados Unidos e a União Europeia pressionam o premier para ajudar a acalmar a situação.

A União Europeia é mediadora dos diálogos entre Kosovo e Sérvia, mas congelou alguns fundos comunitários destinados a Pristina, devido à relutância de Kurti em atender suas demandas para reduzir as tensões no norte.

Segundo o The Guardian, o chefe de governo anunciou na quarta-feira que reduziria o número de policiais especiais que ficam do lado de fora de quatro prédios municipais, em áreas de maioria étnica sérvia ao norte, e realizaria novas eleições para prefeito em cada uma das cidades. A medida irritou os opositores, que argumentaram que Kurti "fez experimentos" por meses, e colocou em risco a posição internacional de Kosovo, apenas para recuar posteriormente.

Qual é a raiz do imbróglio?

Entre os 1,8 milhão de kosovares, apenas cerca de 120 mil são etnicamente sérvios — a maciça maioria é de albaneses étnicos. Aproximadamente um terço desta minoria, em grande parte leais a Belgrado, vivem no norte do país, perto da fronteira com a Sérvia. Em tais regiões, a bandeira da nação vizinha tremula por toda parte, usa-se dinheiro sérvio e qualquer intervenção policial gera tensão. Kosovo é uma antiga província da Sérvia, cuja independência declarada em 2008 não é reconhecida pelo país, e por nações como Rússia e China.

Os atritos ente Pristina e Belgrado duram séculos. Para os sérvios, a região é parte central de seu Estado, palco de uma batalha em 1839 contra o Império Turco-otomano que os nacionalistas veem como um marco. Abriga também símbolos importantes da História sérvia, como monastérios cristãos ortodoxos. Os problemas se intensificaram após a morte do marechal Josip Broz Tito, o arquiteto da Iugoslávia, em 1980, com movimentos demandando mais autonomia para a maioria albanesa.

A violência mais recente estourou em maio, quando prefeitos de etnia albanesa tomaram posse, ajudados pela tropa de choque de Kosovo, após uma eleição que os sérvios no norte boicotaram amplamente os pleitos em quatro cidades, a pedido da Lista Sérvia, o partido mais popular do grupo, muito próximo de Belgrado.

Apoiados financeiramente pelo governo sérvio, os moradores da área não pagam conta de água, eletricidade ou impostos, o que causa um déficit nos cofres públicos de dezenas de milhões de dólares. Um acordo de 2013 que previa a criação de uma associação de dez "municípios" para a minoria nunca saiu do papel.