Aviso

EUA alerta China sobre ataques hacker contra o país durante reunião de cúpula diplomática

Advertência foi feita pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, ao chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, durante encontro em Jacarta, após Microsoft reportar ciberataques a agências governamentais em Washington

O governo de Biden declarou guerra ao fentanil - Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Estados Unidos e China tiveram o segundo encontro diplomático de alto nível em dois meses nesta quinta-feira, quando o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reuniu-se com o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) realizada em Jacarta. Em meio à tentativa de restabelecer canais de comunicação diretos entre Washington e Pequim e dirimir tensões principalmente no campo militar, Blinken alertou o representante chinês de que a administração de Joe Biden vai responsabilizar e punir hackers que atuam a partir do país asiático, após o anúncio de que e-mails de agências governamentais americanas foram invadidos.

De acordo com o Departamento de Estado americano, as conversas entre Blinken e Wang — que durou cerca de 1h30min — foram "francas e construtivas" e integram parte dos esforços de Washington para manter canais de comunicação abertos com Pequim para reduzir "o risco de percepções errôneas e erros de cálculo". No entanto, fontes anônimas afirmam que o secretário de Estado endereçou diretamente a questão dos ataques cibernéticos.

— [Blinken] deixou claro que qualquer ação contra o governo americano, empresas americanas, cidadãos americanos, é uma grande preocupação para nós e que tomaremos as medidas necessárias para que seus responsáveis prestem contas disso", disse um funcionário de alto escalão do governo dos EUA à France-Presse, pedindo anonimato para discutir o tema.

O ataque hacker lançado de território chinês foi reportado pela Microsoft nesta quinta. De acordo com a gigante de tecnologia americana, os hackers violaram contas de e-mail de agências do governo dos EUA em busca de informações de inteligência.

"O autor de ameaças que a Microsoft vincula a este incidente é um adversário com base na China, que a Microsoft chama de Storm-0558", disse a empresa em uma publicação em seu blog, que iniciou uma investigação sobre "atividades anômalas de e-mail" em 16 de junho. Segundo a gigante americana, Storm-0558 obteve acesso a contas de e-mail de aproximadamente 25 organizações, incluindo agências do governo.

Questionado sobre as alegações de que funcionários do governo americano foram hackeados, o Ministério das Relações Exteriores da China respondeu, nesta quinta, que "Os EUA deveriam relatar seus ataques cibernéticos o mais rápido possível, em vez de espalhar informações falsas e desviar a atenção".

Rede de espionagem

Embora a Microsoft não tenha identificado os alvos atacados, um porta-voz do Departamento de Estado americano disse que "atividades anômalas" foram detectadas e "medidas imediatas" foram tomadas para proteger os sistemas.

Segundo o vice-presidente-executivo da Microsoft, Charlie Bell, a avaliação é que "este adversário se concentra em espionagem, em como obter acesso aos sistemas de e-mail para coleta de dados de Inteligência".

"Esse tipo de adversário motivado pela espionagem busca abusar das credenciais e obter acesso a dados localizados em sistemas confidenciais", acrescentou em texto.

De acordo com o jornal The Washington Post, as contas de e-mail comprometidas foram "desclassificadas", e "o Pentágono, a comunidade de Inteligência e as contas militares de e-mail não parecem ter sido afetadas". Ontem, citando autoridades americanas, o jornal informou, no entanto, que os endereços de e-mail do Departamento de Estado e da secretária de Comércio, Gina Raimondo, foram atingidos.

Canal diplomático

Apesar da preocupação imediata com o caso de espionagem cibernética, o encontro entre Blinken e Wang é parte da tentativa de reconstrução de linhas de comunicação entre os dois governos, que travam uma guerra comercial severa, que levou os dois países a restringirem exportações críticas de tecnologias avançadas.

Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, além do tema dos hackers, os diplomatas tiveram um diálogo de alto nível sobre uma série de questões, incluindo as atividades militares de Pequim e a crise global do fentanil. Wang deixou claro os problemas da China com os EUA em várias questões, enquanto Blinken disse que os EUA protegeriam seus interesses, disseram autoridades presentes no encontro.

O governo Biden está disposto a resolver as arestas com seu principal rival geopolítico, em parte para assegurar a seus aliados que não os está arrastando para um conflito. As autoridades chinesas têm razões para reduzir o atrito: isso lhes daria espaço para se concentrar em impulsionar a recuperação econômica.

A reunião desta quinta ocorreu um mês após a viagem de Blinken a Pequim, a primeira visita do principal diplomata americano à China em quase cinco anos. Durante sua estadia, Blinken se encontrou com o presidente Xi Jinping, com Wang e com o ministro das Relações Exteriores, Qin Gang — Wang Yi é chefe da política externa do Partido Comunista da China, que tem controle sobre o governo.

Desde então, os contatos entre os dois países foram retomados: a Secretária do Tesouro, Janet Yellen, visitou a China na semana passada, e o enviado especial para o clima dos Estados Unidos, John Kerry, o fará no domingo.