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Ministra das Finanças holandesa renuncia após receber ameaças de morte de extremistas de direita

A saída de Kaag como ministra das Finanças provavelmente terá impacto na posição holandesa na União Europeia

Ministra das Finanças da Holanda, Sigrid Kaag - John Thys / AFP

A ministra das Finanças da Holanda, Sigrid Kaag, anunciou que vai deixar o cargo de líder do segundo maior partido político do país, citando preocupações de sua família sobre as ameaças recebidas por ela de teóricos da conspiração e extremistas de direita.

"Não é segredo onde está meu dilema: é com minha família", disse Kaag ao jornal holandês Trouw ao anunciar sua decisão de deixar a liderança do partido progressista Democratas 66 (D66). "Meu trabalho tem afetado meus filhos e meu marido", afirmou. "É fato que eles estão preocupados. Minha segurança é um problema para eles."

A decisão de Kaag vem logo após o anúncio surpresa na segunda-feira do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, de que vai deixar a política depois que seu governo de coalizão entrou em colapso em meio a disputas internas sobre a política de migração, o que colocou o país no limbo.

Kaag enfrentou várias ameaças de morte desde que se tornou líder do partido D66 em 2020 e como a primeira mulher a comandar a pasta de Finanças do país em 2022, após ganhar 24 assentos históricos nas eleições do ano anterior, o que a tornou a segunda pessoa mais poderosa da Holanda depois de Rutte.
 

Ela disse que seu mandato como líder do partido foi "também acompanhado de ódio, intimidação e ameaças", segundo um comunicado. "Isso colocou um fardo pesado sobre minha família", destacou.

Sua política progressista e gênero muitas vezes a tornaram alvo de ataques. No início deste ano, foi confrontada por uma multidão enfurecida carregando tochas durante uma visita de trabalho. Um homem com uma tocha acesa foi preso do lado de fora de sua residência no ano passado. Em maio, suas duas filhas pediram a Kaag que deixasse o cargo, pois temiam por sua vida.

"Como ministra em vários gabinetes, líder do partido D66 e como pessoa, ela significou muito para a Holanda. Particularmente, teve que pagar um preço inaceitavelmente alto por isso", disse Rutte em tuíte na quinta-feira.

Um novo governo pode demorar para ser formado após as eleições, que estão previstas para meados de novembro.

"A queda do Gabinete foi desnecessária e lamentável. Ainda há grandes desafios para a Holanda", disse Kaag no comunicado.

Sua decisão de renunciar contribui para o maior abalo na política holandesa nos últimos anos, após o anúncio de Rutte e do ministro de Relações Exteriores, Wopke Hoekstra, de que deixará o comando dos democratas-cristãos. Esse cenário deixa três partidos políticos na coalizão interina sem líderes influentes em um momento em que o Movimento Agricultor-Cidadão, ou BBB (sigla original), está ganhando força. O BBB se tornou o maior partido da Câmara Alta holandesa depois de se opor ao esforço do governo Rutte de reduzir pela metade as emissões de nitrogênio até 2030.

Ao mesmo tempo, os dois partidos de esquerda, GroenLinks e PvdA, prometeram se unir antes das próximas eleições, o que pode alterar o cenário político.

A saída de Kaag como ministra das Finanças provavelmente terá impacto na posição holandesa na União Europeia. O país está historicamente no lado mais favorável ao aperto monetário da UE. Rutte liderou a resistência ao fundo de recuperação da pandemia em 2020. Kaag se envolveu mais com os parceiros da UE enquanto buscava um equilíbrio com os estados membros menos conservadores.