Grupo russo

Mercenários do Wagner atuam como 'instrutores' em Belarus

Os combatentes do Wagner tiveram um papel importante na ofensiva russa na Ucrânia

Soldados do grupo Wagner - Alexander Nemenov/AFP

Os mercenários da milícia Wagner, que no mês passado protagonizaram uma rebelião frustrada na Rússia, oferecem instrução militar em Belarus, informou, nesta sexta-feira (14), o governo desse país, que apoia a ofensiva militar de Moscou contra a Ucrânia.

Já a Ucrânia admitiu que sua contraofensiva para recuperar territórios conquistados pela Rússia no sul e no leste avança lentamente, em meio a complicadas batalhas.

"Os combatentes da companhia militar privada Wagner atuam como instrutores em várias áreas militares" e treinam "unidades das tropas de defesa territorial" de Belarus, apontou o Ministério da Defesa em Minsk.

Os recrutas aprendem, entre outras coisas, "técnicas de deslocamento no campo de batalha e tiro tático", acrescentou.

Em um vídeo dos exercícios publicados pelo ministério no YouTube, um militar bielorrusso assegura que a experiência é "muito útil" para o exército.

O grupo Wagner, que desempenhou um papel-chave na ofensiva russa na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, se rebelou há três semanas contra o Estado Maior do exército regular.

Os milicianos ocuparam um quartel em Rostov-no-Don, no sul da Rússia, e avançaram algumas centenas de quilômetros em direção a Moscou.

O motim terminou horas depois, com um acordo que previa a ida do chefe do grupo, Yevgueni Prigozhin, para Belarus.

O paradeiro de Prigozhin é incerto. O Kremlin reconheceu que o presidente russo, Vladimir Putin, o recebeu no final de junho, poucos dias depois de sua rebelião, em companhia dos principais comandantes do grupo Wagner.

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos assegurou, na última quinta-feira, que os mercenários do Wagner não participam mais de forma "significativa" dos combates na Ucrânia.

Contraofensiva lenta
A expectativa ucraniana de um enfraquecimento das tropas russas depois da rebelião do Wagner não se confirmou até agora e a contraofensiva ucraniana, lançada em junho, para recuperar territórios do leste e do sul, "atualmente não avança tão rápido", admitiu o chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andrii Yermak, referindo-se à intensidade dos combates.

Na última semana, as tropas ucranianas avançaram apenas 1.700 metros no sul, explicou Kiev.

A Ucrânia assegura que os pequenos avanços se devem à lentidão de seus aliados ocidentais na entrega das armas prometidas.

O país também pede mais armas de longo alcance e aviões de combate para enfrentar as tropas russas.

A contraofensiva acontece ao mesmo tempo que os bombardeios russos periódicos contra várias cidades, incluindo a capital, Kiev.

O Exército ucraniano indicou que derrubou 16 dos 17 drones de combate de fabricação iraniana Shahed 136/131 lançados pela Rússia a partir do sudeste.

Apesar da lentidão da contraofensiva, houve alguns avanços no sul e no norte de Bakhmut, que caiu em mãos russas em junho depois de meses de combate nos quais os homens do grupo Wagner tiveram um papel fundamental.

"Bakhmut será nossa", assegurou à AFP Maisk, um operador de drones ucraniano.

Yermak, considerado o principal assessor do presidente Volodimir Zelensky, recordou que a Ucrânia só irá abrir negociações de paz "depois que as tropas russas abandonarem nosso território".

Ansiedade pelo acordo de cereais
A falta de sinais para uma saída negociada do conflito se dá a poucos dias da expiração do acordo que permite à Ucrânia exportar cereais pelo Mar Negro.

O pacto, selado entre Kiev e Moscou em julho de 2022 e prolongado diversas vezes, ajudou a amenizar a crise alimentar mundial provocada pelo conflito entre esses dois grandes produtores de matérias-primas e alimentos.

A Rússia ameaça regularmente se retirar desse acordo, que expirará às 18h00 de segunda-feira, no horário de Brasília.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, afirmou em uma reunião com seus pares do sudeste asiático na Indonésia que os países em desenvolvimento "pagarão o preço" se a Rússia se negar a prolongá-lo.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que atuou ao lado da ONU como mediador dessas negociações, assegurou que Putin "está de acordo" em assinar uma nova prorrogação do pacto.