ABISSAL

Como a Pequena Sereia seria se vivesse na região mais profunda do oceano?

De acordo com o oceanógrafo e professor da UERJ Marcelo Sperle, a personagem Ariel teria uma figura mais próxima à dos peixes abissais

Desenho da Pequena Sereia e ilustração da Buzzfeed - reprodução

O filme A Pequena Sereia, que teve sua versão em live-action lançada recentemente, tem como personagem principal a princesa Ariel, que vive no reino imaginário de Atlântida, localizada no Oceano Atlântico. Na história, por viver próxima da terra, ela abdica da sua vida como sereia para casar com o príncipe Eric. Mas o que aconteceria se a sua localização fosse em uma parte diferente do oceano onde vive?

De acordo com Joseph Shaw, professor associado na Universidade de Indiana, nos EUA, a princesa certamente seria assustadora, com dentes grandes e pontiagudos, uma antena e olhos brancos esbugalhados. Como na ilustração abaixo, do site Buzzfeed:

Ilustração da Buzzfeed de uma Pequena Sereia das profundezas do oceano

Princesa das profundezas
Ao Globo, Marcelo Sperle, professor de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) explica que a possível localização do castelo de Ariel, criado pela Disney, provavelmente foi pensada para ser em águas mais próximas ao continente. Por isso, é possível fazer a comparação entre o design da Ariel original e a ilustração que mostra o que aconteceria se a evolução da sua espécie tivesse se dado em uma região mais profunda.

— A personagem está sempre cercada de corais, que não existem em partes mais profundas do oceano. Por isso, ela poderia morar em uma zona mais rasa — pontua.

A evolução dos animais aquáticos que residem em regiões abissais, isto é, abaixo dos 6 mil metros de profundidade é diferente da encontrada dos seres marinhos encontrados próximo a superfície, na parte chamada Plataforma Continental. Nela, é possível observar um decline considerável, mas sua profundidade não chega a 100 metros.

Além disso, essas áreas próximas ao continente são extensas. No caso do Rio de Janeiro, como exemplifica o pesquisador, são cerca de 200 km de faixa, o que permitiria a compreensão da da personagem ter seu reino imaginário localizado em uma Plataforma.

A espécie de peixe que inspirou a Ariel de águas profundas, chamada de peixe-ogro (ilustração acima), vive na zona abissal do oceano, onde a luz não chega, por isso uma das suas características mais marcantes é a "antena" com bioluminescência. Encontrada na parte de cima da cabeça do peixe funciona como uma "lâmpada". Segundo o oceanógrafo, esse detalhe é o maior acerto do desenho feito pela equipe do Buzzfeed.

Em relação as outras características físicas representadas na ilustração, o especialista mudaria apenas duas coisas: retiraria os caninos acentuados e aumentaria as orelhas, deixando-as mais pontiagudas para ser mais próxima à realidade dos peixes abissais.

— Eles acertaram na maioria das outras coisas. Aqueles dentes grandes é para facilitar a captura das presas. Fica mais fácil prender os peixes menores elas sendo assim mais protuberantes. Outro detalhe é que sendo mais "para fora" da boca projetam uma distância maior. Já os olhos desses animais são grandes para conseguir perceber os arredores — esclarece.