DESABAMENTO EM PAULISTA

Moradores denunciam furtos e insegurança em prédios interditados no Janga

Os residentes relatam ainda que vivem desamparo social dos órgãos públicos no processo de mudança

Falta de Segurança nos prédios que estão sendo desocupados do Conjunto Beira Mar - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Após o desabamento parcial de um dos prédios do Conjunto Beira Mar, no Janga, em Paulista, ter deixado 14 mortos, 18 dos 29 edifícios do Conjunto foram interditados pela Defesa Civil.

Embora à primeira vista parecesse que as coisas estavam começando a caminhar melhor novamente, a realidade não poderia ser mais diferente. Diversos moradores da área estão denunciando furtos aos apartamentos dos prédios que foram interditados, e momentos de apreensão e insegurança por terem que permanecer no local por mais alguns dias enquanto aguardam por sua mudança. 

Este é o caso de Maria da Conceição, de 60 anos, dona de casa que cuida da irmã, Ana Nery, de 65, que possui um quadro de esquizofrenia.

"Estamos vivendo um desamparo completo. No apartamento abaixo ao meu, tentaram levar uma grade de proteção da porta. Não tem policiamento nenhum por aqui e estamos à mercê da ação desses criminosos", iniciou.

"Eu estou tendo que usar uma corrente com cadeado para fechar a grade da entrada porque fico com muito medo de invadirem. Tenho a minha irmã aqui dentro comigo e não quero que nenhum mal aconteça a ela", completou.

Maria da Conceição é moradora do Bloco D13 do Conjunto e, aos prantos, comentou sua situação atual, já que não tem para onde ir depois da interdição e que não recebeu nenhum tipo de amparo social.

"Eu não tenho para onde ir com a minha irmã. Teremos que ir para Maranguape, para ficar com alguns parentes, porque não recebemos nenhuma ajuda por aqui. Tenho fé de que vai tudo melhorar, mas está sendo muito difícil", desabafou.
 

Assim como Maria da Conceição, moradores de diversas áreas do Conjunto relatam situações semelhantes. Este é o caso de Maria Susana Botelho, de 59 anos, que teve seu apartamento, no Bloco C13A, invadido na madrugada desta terça-feira. 

"Algumas pessoas invadiram a minha casa de madrugada. Levaram algumas coisas que estavam em uma caixa, como uma furadeira. Levaram também a estrutura que usávamos para suportar o ar-condicionado, que, graças a Deus, tínhamos retirado no dia anterior, senão também teriam levado", começou.

"Também bagunçaram muito por aqui, espalharam muitas coisas pelo chão... Tentaram levar as privadas, mas deixaram elas por aqui mesmo, quebradas. Foi um prejuízo muito grande", completou.

Como Maria Susana havia retirado a maior parte dos seus pertences no dia anterior, não havia mais muitas coisas no local. Ainda assim, apesar dos bens materiais, o que ficam são as lembranças. Ela mora no bairro desde que tinha 16 anos e, com muita tristeza, aponta para uma parede com registros feitos com tinta pela filha ao relatar que não há segurança alguma no Conjunto e também cobrou amparo do Governo Estadual.

"Não tem segurança nenhuma por aqui. Moro aqui há muitos anos e nunca vi nada do tipo. Depois que o prédio caiu e 14 pessoas morreram, ainda não vimos a governadora Raquel Lyra ou a sua vice por aqui. Não recebemos mais informações ou ajudas. Apenas a prefeitura de Paulista está atuando como auxílio para a gente, com o caminhão para a mudança. Mas não passa disso", afirmou.



Desamparo social
Além das denúncias de furtos nos prédios, muitos moradores relatam também desamparo das autoridades competentes, tanto para serviços de segurança, quanto para prestação de ajuda para a mudança e realocação.

Este é o caso de um morador que mora no Conjunto há três anos e preferiu não se identificar. Ele contou à Folha de Pernambuco que é uma das pessoas que sofrem com os aluguéis cada vez mais caros no bairro e que sente muito medo de continuar no seu apartamento com os furtos e invasões que têm acontecido.

"Eu não estou conseguindo dormir direito. Não temos segurança nenhuma por aqui e estão acontecendo diversos saques em todos os prédios que foram interditados", iniciou. 

"Estamos tendo que fazer as mudanças sem nenhuma ajuda. Foi disponibilizado um caminhão para ajudar na mudança e temos que agendar para poder usá-lo. Para além disso, não há nenhum tipo de auxilio", continuou.

"Eu tô parado e vou ter que pagar um aluguel de 600 reais, só com o salário da minha esposa. Vou ter que ficar aqui até a segunda-feira, quando vou fazer a minha mudança, mas, até lá,vou ter que ficar em casa sozinho enquanto têm pessoas entrando para invadir", completou.

Segurança no bairro
No local, foi possível perceber duas viaturas da Guarda Municipal atuando na vigília do local e realizando rondas no bairro, mas nada a mais do que isso.

A reportagem da Folha de Pernambuco entrou em contato com a seguradora responsável pelos imóveis, a SulAmérica, para saber como está sendo feito o serviço de segurança do local e o motivo para não terem enviado agentes para atuarem na proteção e vigilância dos prédios, mas, até o momento, não recebeu retorno.

Procurada pela Folha de Pernambuco, a Polícia Militar informou que, por meio do 17º BPM, a unidade disponibilizou uma guarnição ordinária para o local. Disse, ainda, que caso algum morador queira acionar a PM, pode ligar para o número 190 ou registrar boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil.

A reportagem também entrou em contato com a Prefeitura de Paulista para saber como está sendo feita a assistência aos moradores e a segurança na região. Segundo a prefeitura, foram disponibilizadas três viaturas com 12 Guardas Municipais para o monitoramento do Conjunto Beira-Mar.

"Essa segurança por parte dos 12 guardas é de 24 horas, com a equipe dividida por turno, sendo 8 guardas durante o dia e 4 guardas durante a noite", comunicou o órgão. 

A Prefeitura de Paulista também informou que o local foi reforçado com uma viatura de trânsito, com três agentes atuando na área.

Questionada sobre o o auxílio que está prestando aos moradores no processo de mundança, a prefeitura afirmou, apenas, que disponibilizou caminhões que estão à disposição dos moradores dos prédios que precisam ser desocupados após a interdição. 

O órgão infrmou, também, que, de acordo com um levantamento do ITEP [Instituto de Tecnologia de Pernambuco] realizado em 2008, existem 245 prédios no município. Deste total, 70% são do tipo caixão e 30% são do tipo pilotis.

A prefeitura informou, ainda, que desde o mês de maio deste ano, foram realizadas 108 vistorias no município. De 2007 até hoje, 22 prédios do tipo caixão foram interditados em Paulista.

No Conjunto Beira Mar, dos 29 blocos do tipo caixão, 18 foram interditados pela Defesa Civil.