Saúde

Descoberta abre caminho para desenvolver ultraprotetor solar à base de melanina

Estudo publicado na Nature Chemistry abre caminho para a possibilidade de desenvolver filtro solar ultraprotetor usando a melanina, substância que dá cor à pele

Câncer de pele não melanoma é o mais incidente no Brasil, responsável por 31,3% do total de casos estimados para os próximos três anos. - Freepik

O uso diário de protetor solar é recomendação unânime não apenas entre dermatologistas, mas médicos de todas as especialidades. Além de contribuir para o aparecimento de manchas e o envelhecimento precoce da pele, a exposição ao sol sem a devida proteção aumenta o risco de câncer.

O câncer de pele não melanoma é o mais incidente no Brasil, responsável por 31,3% do total de casos estimados para os próximos três anos. Por isso, as empresas de cosméticos sempre estão em busca de opções mais eficientes. Um caminho a ser explorado é aproveitar os poderes protetores da melanina, o pigmento que dá aos humanos a cor da pele, olhos e cabelos.

A dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), explica que a melanina é a primeira e melhor defesa do corpo contra os raios nocivos do sol.

— Quando ocorre a exposição solar sem fotoproteção, a radiação ultravioleta penetra na pele, e provoca um dano. Consequentemente, a pele, que conta com seu próprio mecanismo de proteção, aciona os melanócitos a produzir mais melanina – que evita mais danos pela sua capacidade de absorver a luz do ultravioleta — explica a médica.

Com base nesse efeito, a melanina poderia, por exemplo, ser usada em protetores solares e outros produtos de cuidado com a pele para produzir uma barreira contra a radiação. O problema é que a melanina é tão instável e difícil de estudar que os cientistas desconheciam sua fórmula molecular. Por isso, as tentativas feitas até hoje de produzir esse "super protetor solar" foram frustradas. Mas isso pode estar prestes a mudar.

Em um estudo publicado recentemente na revista científica Nature Chemistry, pesquisadores do Departamento de Química de McGill, no Canadá, em colaboração com a Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos e a Universidade de Girona, na Espanha, relataram a estrutura de um componente chave da melanina.

A equipe descobriu que esse componente converte a luz de todos os comprimentos de onda em calor, abrangendo do ultravioleta ao infravermelho e oferecendo um amplo espectro de proteção. Além disso, essa molécula é notavelmente pequena, o que pode ter benefícios práticos porque o número de átomos necessários para fornecer esse nível de proteção solar é menor.

"Demos um grande passo na compreensão de um novo mecanismo de como a melanina pode servir como protetor solar", disse Jean-Philip Lumb, um dos autores do estudo, em comunicado.

Para Pomerantzeff, essa melhor compreensão da estrutura da melanina abre caminho para produzir alternativas de proteção solar com melhor desempenho do que o que está disponível atualmente.