Psiquiatra, sobrecarga, baixo efetivo e estruturas aos pedaços: a rotina por baixo da farda da PCPE
Atualmente, Pernambuco conta com apenas cerca de seis mil agentes
Por baixo da farda da Polícia Civil de Pernambuco (PCPE), os agentes de segurança denunciam algumas das precárias condições em que realizam o seu trabalho diariamente. Consultas com psiquiatra, delegacias com estruturas precárias, salários sem reajustes e efetivo reduzido são os principais alertas.
De acordo com informações repassadas pelo Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), atualmente todo o efetivo da corporação é representado por cerca de seis mil pessoas, que se distribuem entre delegados, agentes, peritos e escrivães, por exemplo.
As queixas foram apresentadas através do presidente do Sinpol-PE, Rafael Cavalcanti, que classificou o cenário como “um pacote muito perverso”.
“São delegacias improvisadas, estruturas completamente precárias, adaptações mal feitas e caindo aos pedaços. Temos também a questão da saúde mental e a necessidade urgente de completar o efetivo, além de perseguições muitas vezes dentro da própria estrutura da polícia. É um pacote muito perverso. A gente vem alertando há muito tempo”, garantiu.
A saúde mental dos policiais foi um quesito enfatizado por ele, assim como a constância do trabalho em meio aos desafios.
“A nossa matéria-prima é trabalhar com o pior da sociedade e isso, sem sombra de dúvidas, recai sobre a saúde mental do policial, aí você adiciona isso a falta de efetivo e sobrecarga de trabalho. Ainda assim, vemos a Polícia Civil toda semana fazendo operação, para ressaltar a importância que o policial tem”, disse.
Uma das razões que justificam a necessidade de uma maior atenção aos cuidados psicológicos dos policiais, está na demanda que ocasionou o início de tratamentos psiquiátricos dentro do próprio sindicato da categoria.
“Nós temos um setor de psicologia, e no final de 2021, tivemos que contratar um médico psiquiatra para poder dar conta daquilo que o Estado não consegue dar conta. A gente vê o policial adoecendo e em condições péssimas”, pontuou Cavalcanti.
Papel de investigação e redução de crimes
O presidente detalhou o papel investigativo da Polícia Civil e, em porcentagens, alertou para o aumento da criminalidade como resultado de uma conta de “matemática básica”, em consequência da baixa no número de profissionais da corporação.
“A (Polícia) Civil é investigativa. Apenas 5% das ocorrências que acontecem aqui são de flagrante pela Polícia Militar. De resto, para dar conta dos outros 95%, temos que apurar quem fez o crime e porquê, para a Justiça condenar e manter essas pessoas presas. Recai sobre uma sensação de impunidade. O bandido faz o cálculo entre o que ele pode obter cometendo a atividade delituosa e o risco de ser preso. Quando o risco é pequeno, já que a polícia investigativa não tem condição, começa a valer mais a pena cometer crimes. É isso o que a gente está vendo em Pernambuco”, afirmou.
Vai mudar?
As perspectivas de mudanças no dia a dia de trabalho da corporação passam por uma sinalização positiva do atual governo, que já tem uma lista de reivindicações. Uma reunião entre gestão e policiais está prevista para acontecer no próximo dia 26.
“Foi um compromisso de Raquel (Lyra) discutir a segurança pública e isso não vem sendo cumprido. Há quatro meses pedimos à Secretaria de Defesa Social (SDS) uma reunião urgente para tratar sobre a saúde mental dos policiais, e até agora nada. Apresentamos uma proposta salarial contendo essas informações em abril e até agora nada. Temos uma reunião marcada para o próximo dia 26, mas sequer há sinalização de alguma coisa”, disse Cavalcanti.
Ele também citou que a corporação, até o momento, não foi cotada para fazer parte da construção do Plano de Segurança estadual.
“Esse governo assumiu com a responsabilidade de resolver, mas a gente sequer tem contato pra falar sobre isso ou, por exemplo, para contribuir com o Plano de Segurança que desde abril não saiu. Não sabemos nem quem construiu, quem dialogou e quem debateu”, lamentou.
A reportagem da Folha de Pernambuco entrou em contato com o Governo de Pernambuco e a Secretaria de Defesa Social (SDS) para pedir respostas sobre as denúncias do Sinpol-PE. Até a veiculação desta matéria, nenhuma pergunta havia sido respondida.