SEGURANÇA

Psiquiatra, sobrecarga, baixo efetivo e estruturas aos pedaços: a rotina por baixo da farda da PCPE

Atualmente, Pernambuco conta com apenas cerca de seis mil agentes

Entre reivindicações, policiais pedem melhores condições de salário e trabalho; saúde mental é tema exaltado - Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Por baixo da farda da Polícia Civil de Pernambuco (PCPE), os agentes de segurança denunciam algumas das precárias condições em que realizam o seu trabalho diariamente. Consultas com psiquiatra, delegacias com estruturas precárias, salários sem reajustes e efetivo reduzido são os principais alertas.

De acordo com informações repassadas pelo Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), atualmente todo o efetivo da corporação é representado por cerca de seis mil pessoas, que se distribuem entre delegados, agentes, peritos e escrivães, por exemplo.

As queixas foram apresentadas através do presidente do Sinpol-PE, Rafael Cavalcanti, que classificou o cenário como “um pacote muito perverso”.

“São delegacias improvisadas, estruturas completamente precárias, adaptações mal feitas e caindo aos pedaços. Temos também a questão da saúde mental e a necessidade urgente de completar o efetivo, além de perseguições muitas vezes dentro da própria estrutura da polícia. É um pacote muito perverso. A gente vem alertando há muito tempo”, garantiu.

A saúde mental dos policiais foi um quesito enfatizado por ele, assim como a constância do trabalho em meio aos desafios. 

“A nossa matéria-prima é trabalhar com o pior da sociedade e isso, sem sombra de dúvidas, recai sobre a saúde mental do policial, aí você adiciona isso a falta de efetivo e sobrecarga de trabalho. Ainda assim, vemos a Polícia Civil toda semana fazendo operação, para ressaltar a importância que o policial tem”, disse.

Uma das razões que justificam a necessidade de uma maior atenção aos cuidados psicológicos dos policiais, está na demanda que ocasionou o início de tratamentos psiquiátricos dentro do próprio sindicato da categoria.

“Nós temos um setor de psicologia, e no final de 2021, tivemos que contratar um médico psiquiatra para poder dar conta daquilo que o Estado não consegue dar conta. A gente vê o policial adoecendo e em condições péssimas”, pontuou Cavalcanti. 

Concentração de policiais civis em frente ao Sinpol-PE, no bairro de Santo Amaro (Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco)

Papel de investigação e redução de crimes
O presidente detalhou o papel investigativo da Polícia Civil e, em porcentagens, alertou para o aumento da criminalidade como resultado de uma conta de “matemática básica”, em consequência da baixa no número de profissionais da corporação.

“A (Polícia) Civil é investigativa. Apenas 5% das ocorrências que acontecem aqui são de flagrante pela Polícia Militar. De resto, para dar conta dos outros 95%, temos que apurar quem fez o crime e porquê, para a Justiça condenar e manter essas pessoas presas. Recai sobre uma sensação de impunidade. O bandido faz o cálculo entre o que ele pode obter cometendo a atividade delituosa e o risco de ser preso. Quando o risco é pequeno, já que a polícia investigativa não tem condição, começa a valer mais a pena cometer crimes. É isso o que a gente está vendo em Pernambuco”, afirmou.

Vai mudar?
As perspectivas de mudanças no dia a dia de trabalho da corporação passam por uma sinalização positiva do atual governo, que já tem uma lista de reivindicações. Uma reunião entre gestão e policiais está prevista para acontecer no próximo dia 26.

Uma passeata em protesto por melhorias “salariais e funcionais” estava prevista para acontecer na tarde desta terça-feira (18), pelas ruas do Recife, mas acabou adiada para a data da reunião, por baixa adesão.

“Foi um compromisso de Raquel (Lyra) discutir a segurança pública e isso não vem sendo cumprido. Há quatro meses pedimos à Secretaria de Defesa Social (SDS) uma reunião urgente para tratar sobre a saúde mental dos policiais, e até agora nada. Apresentamos uma proposta salarial contendo essas informações em abril e até agora nada. Temos uma reunião marcada para o próximo dia 26, mas sequer há sinalização de alguma coisa”, disse Cavalcanti.

Ele também citou que a corporação, até o momento, não foi cotada para fazer parte da construção do Plano de Segurança estadual.

“Esse governo assumiu com a responsabilidade de resolver, mas a gente sequer tem contato pra falar sobre isso ou, por exemplo, para contribuir com o Plano de Segurança que desde abril não saiu. Não sabemos nem quem construiu, quem dialogou e quem debateu”, lamentou.

A reportagem da Folha de Pernambuco entrou em contato com o Governo de Pernambuco e a Secretaria de Defesa Social (SDS) para pedir respostas sobre as denúncias do Sinpol-PE. Até a veiculação desta matéria, nenhuma pergunta havia sido respondida.