SAÚDE

Risco em locais fechados: cigarro eletrônico aumenta em 22 vezes as toxinas no ambiente

Resultados de novo estudo contrastam com a visão comum de que os dispositivos poderiam ser utilizados em locais como carros e baladas sem oferecer riscos aos fumantes passivos

Cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil - Eva Hambach/AFP

Uma das interpretações comuns em relação aos cigarros eletrônicos é que os dispositivos podem ser utilizados em ambientes fechados. Isso porque, como não envolvem a combustão – o líquido é vaporizado –, a fumaça expelida por eles some rapidamente e não aparenta perpetuar no local. No entanto, um novo estudo mostra que a realidade não é bem assim.

Por meio de um experimento que envolveu o uso dos dispositivos, também conhecidos como vapes ou pods, em um veículo fechado, os pesquisadores observaram que a concentração de toxinas nocivas à saúde aumenta em 22 vezes no ambiente após o uso, levando a riscos também para aqueles presentes que não utilizaram os aparelhos, os fumantes passivos.

O trabalho, publicado na revista científica Drug and Alcohol Dependence, envolveu 60 participantes que eram usuários de cigarro eletrônico. Eles responderam um questionário e utilizaram os dispositivos durante meia hora dentro dos carros. Em seguida, eles mediram a concentração da PM 2.5 no ambiente.

As PM 2.5 são partículas de material particulado fino de 2,5 micrômetros. São comumente utilizadas para avaliar a poluição do ar por serem expelidas em processos químicos e facilmente inaláveis. Ao chegarem no trato respiratório, podem penetrar de forma profunda levando a danos que aumentam o risco de doenças respiratórias e cardiovasculares.
 

Os resultados do estudo mostraram que, durante a meia hora, os participantes deram em média 18 puffs (como é chamada a tragada do cigarro eletrônico). Em média, a concentração da PM 2.5 aumentou de 4,78 µg/m3 para 107,40 µg/m3 no ambiente. No pico, foi observada uma concentração de 464,48 µg/m3.

“As concentrações de PM2.5 variaram muito entre os participantes, no entanto, as concentrações medianas de pico de PM2.5 durante a sessão foram aproximadamente 22 vezes maiores do que os níveis basais antes de qualquer uso ter ocorrido”, escreveram os pesquisadores no estudo.

Eles alertaram sobre como os resultados indicam riscos à saúde também para os passageiros que não utilizam os dispositivos: “o uso de cigarros eletrônicos em veículos afeta negativamente a qualidade do ar e pode representar riscos à saúde de todas as pessoas presentes nos veículos quando o uso está ocorrendo”.

Uso em ambiente fechado é proibido no Brasil
Desde 2009, a comercialização, distribuição e propaganda de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) são proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No ano passado, um grupo da autarquia reavaliou a decisão, mas optou pela manutenção do veto.

Ainda assim, é comum encontrar produtos do tipo à venda em bancas de jornal, tabacarias e nos mais diversos estabelecimentos, e o uso em si não é proibido. Porém, de acordo com uma pesquisa nacional, a Covitel 2023, 4,3% dos usuários dizem que optam pelo cigarro eletrônico porque ele “pode ser usado onde cigarro industrializado é proibido”.

No entanto, uma nota técnica da Anvisa de maio deste ano reforçou que as mesmas regras referentes ao uso dos cigarros convencionais são aplicadas aos dispositivos eletrônicos. Por isso, os vapes também não podem ser utilizados em ambientes coletivos fechados, sejam eles privados ou públicos.