CINEMA

"Barbie" corresponde às expectativas? Leia a crítica do filme que estreia nesta quinta-feira (20)

Após um mar cor-de-rosa de ações de marketing e memes invadir a internet, o live-action da boneca mais famosa do mundo chega hoje aos cinemas

"Barbie" chega aos cinemas - Divulgação

Para quem esteve ativo nas redes sociais nos últimos meses, foi quase impossível fugir do “hype” que envolveu o lançamento de “Barbie” - sem dúvidas, um dos filmes mais aguardados do ano. Após um mar cor-de-rosa de ações de marketing e memes invadir a internet, o live-action da boneca mais famosa do mundo chega hoje aos cinemas e o resultado visto na tela de fato corresponde às expectativas alimentadas até agora.  

“Barbie” é, sim, um filme divertido e com forte apelo nostálgico - as referências às roupas, casas, carros e demais acessórios são de fazer brilhar os olhos de quem um dia já brincou com a boneca. A direção da ótima Greta Gerwig, no entanto, eleva o status do longa-metragem para algo que vai além do que uma mera homenagem ao brinquedo criado em 1959.

Assim como fez em “Lady Bird” (2017) e “Adoráveis Mulheres” (2019), Greta mergulha no universo feminino, tecendo críticas aos valores sexistas que ainda permeiam as nossas relações. Por mais contraditório que isso possa soar, ela consegue fazer isso utilizando como ponto de partida uma personagem que ao longo de décadas levou meninas a buscarem um padrão de beleza irreal e que, nos últimos tempos, vem abraçando a diversidade como estratégia comercial para atender às demandas atuais do seu público.
 

A Barbieland - universo paralelo onde as bonecas vivem no filme - é a síntese da imagem que a marca vem tentando vender. Nesse mundo colorido, há Barbies de todas as formas e etnias, ocupando cargos importantes, como presidente, médica, astronauta e até mesmo vencedora do Prêmio Nobel. Não há tempo a perder com atividades triviais, como descer uma escada. Tudo está ao alcance das Barbies.

Margot Robbie interpreta a “Barbie Estereotipada”, aquela que segue o modelo clássico da boneca. A personagem entra em crise existencial após começar a ter pensamentos sobre a morte. Depois disso, vem a celulite, o mau hálito e os calcanhares que agora tocam o chão. O único caminho para entender o que está acontecendo é visitar o mundo real, mas esse encontro pode trazer consequências inimagináveis.

O roteiro coescrito por Greta e seu marido, Noah Baumbach, é uma fábula feminista recheada de metalinguagem e simbologias que permitem várias camadas de interpretação. O contraste entre os problemas do mundo real e a vida na Barbielândia funciona como uma crítica ao feminismo liberal e seu ideal limitado de empoderamento. O machismo - que por vezes surge de forma mais escrachada e outras de maneira sútil - é motor para as ácidas piadas do filme, que podem provocar no espectador aquela sensação de “rir de nervoso”.

Margot Robbie encara com maestria a missão de dar vida à icônica boneca de plástico, mas outros nomes roubam a cena em certos momentos. Ryan Gosling, com seu Ken em busca de um lugar no mundo das Barbies, é o responsável pela principal virada da trama. Já America Ferrera interpreta uma das poucas humanas da história, dando voz aos desejos e problemas das mulheres reais. No elenco, ainda estão nomes como Michael Cera, Will Ferrell, Emma Mackey, Ariana Greenblatt, Issa Rae e Simu Liu.

Com um humor que transita entre o irônico e o ingênuo, “Barbie” às vezes “perde a mão” na repetição de tiradas cômicas e nos números musicais que se estendem para além do esperado. A capacidade de “rir de si mesmo” se faz presente no filme quando a Barbie é confrontada com opiniões negativas sobre ela e até na maneira como a Mattel, fabricante da boneca, é retratada. Esse poder de autocrítica, no entanto, é feito dentro de um limite que beneficia a imagem da empresa, fazendo com que a produção não deixe de ser - até certo ponto - uma muito bem arquitetada jogada de marketing.