CINEMA

"Oppenheimer" é Christopher Nolan em ótima forma; leia a crítica do filme

Longa-metragem estrelado por Cillian Murphy conta a história do "pai da bomba atômica"

"Oppenheimer" estreia nesta quinta-feira (20) - Divulgação

Em total contraste com o mundo cor-de-rosa de “Barbie”, outro filme ansiosamente aguardado pelo público chega nesta quinta-feira (20) aos cinemas. Bem mais sóbrio e soturno do que o seu principal concorrente nas bilheterias, “Oppenheimer” traz as mãos de Christopher Nolan na direção e escrita do roteiro, o que por si só já é um considerável chamariz de público.

Primeira cinebiografia do diretor de “A Origem” (2010) e “Interestelar” (2014), o longa-metragem se dedica a desvendar a enigmática figura de J. Robert Oppenheimer, considerado o “pai da bomba atômica”. Nos anos 1940, o cientista norte-americano integrou o Projeto Manhattan, programa de pesquisa e desenvolvimento de energia nuclear com fins militares, que resultou no bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

O filme coloca em evidência o dilema moral presente nos esforços científicos do seu protagonista, gerando possíveis espelhamentos atuais. Mas o longa-metragem chama atenção muito mais pela forma do que pelo conteúdo filosófico. Nolan foge à cartilha comum às cinebiografias, utilizando da linguagem poética para gerar o mesmo apelo visual de suas obras de ficção científica. 
 

A narrativa é desenvolvida entre idas e vindas temporais, com tomadas hora em preto e branco, hora em cores. Com o auxílio do excelente trabalho de montagem de Jennifer Lame, Nolan consegue conferir ao longa um dinamismo raro em títulos do mesmo gênero, abrindo mão totalmente de CGI para criar cenas exuberantes. As inacreditáveis três horas de duração do filme parecem passar voando. 

Mesmo que a ciência esteja no centro das discussões de “Oppenheimer”, o filme acerta ao focar na humanização do seu protagonista. Cillian Murphy dá o tom exato a um personagem complexo, impossível de ser enquadrado por rótulos como “vilão” ou “mocinho”. No entanto, a admiração de Nolan pelo cientista fica nítida na forma como o roteiro tenta, aproximando-se do seu desfecho, redimir sua imagem pública. Além disso, o diretor parece assumir um certo tom patriótico, sem de fato responsabilizar os Estados Unidos por seus atos na Segunda Guerra Mundial. 

O elenco ainda traz como destaque Robert Downey Jr., interpretando Lewis Strauss, e Matt Damon no papel do General Leslie Groves Jr. Com a bióloga Emily Blunt (Kitty Oppenheimer) e Jean Tatlock (Florence Pugh), Nolan repete o erro de outros filmes seus, conferindo tratamento superficial às suas personagens femininas, que aqui surgem como meras muletas ou até mesmo obstáculos para o protagonista.