BRASIL

Busca por crédito no primeiro semestre deste ano tem maior queda desde 2008, diz Serasa

Maior retração ocorreu entre aqueles que recebem até R$ 500, com baixa de 14,4%

Marcello Casal Jr/Agência Brasiil

Com os juros em patamar elevado, a busca dos consumidores brasileiros por recursos financeiros nos primeiros seis meses deste ano atingiu a maior queda desde 2008, de acordo com os dados do Indicador de Demanda dos Consumidores por Crédito da Serasa Experian. Entre janeiro e junho, o recuo foi de 12,5%. Antes disso, a maior retração havia ocorrido no início de 2020 (-8,1%).

Em relação ao volume de renda mensal dos consumidores, a maior queda ocorreu entre aqueles que recebem até R$ 500, com retração de 14,4%.

Todas as outras faixas de renda também fecharam o semestre em baixa. Em seguida, quem tem rendimento entre R$ 500 e R$ 1 mil registrou recuo de 13,8%, assim como os com renda de R$ 1 mil a R$ 2 mil (-11,5%), os de R$ 2 mil a R$ 5 mil (-10,6%), de R$ 5 mil a R$ 10 mil (-10%) e os que ganham acima de R$ 10 mil (-9,5%).

Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, disse que o resultado não surpreende:

- Se por um lado as altas taxas de juros diminuem o apetite por linhas de crédito, do outro temos os elevados índices de inadimplência, que representam um risco para os credores e reduzem as ofertas do recurso. O mercado de crédito brasileiro sofreu uma desaceleração condizente com o cenário econômico, mas que deve melhorar a partir do segundo semestre por conta da queda dos juros - disse Rabi.

A baixa procura por crédito ocorre em um momento de inadimplência recorde. Dados também da Serasa revelam que o número de pessoas com contas atrasadas chegou a 66,8 milhões em junho, maior patamar desde o início do levantamento em 2016. O vilão, diz a Serasa, são as dívidas contraídas em bancos e cartões, que somam 27,8% das contas em atraso. Em seguida, há despesas como água, luz e gás, com 22,6%. Compras no varejo e empréstimos em financeiras aparecem na sequência, com 13,2 e 12,5%, respectivamente.

Na última segunda-feira (17), começou a primeira etapa do Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas do governo Lula. Com ele, quem tem dívida bancária de até R$ 100 terá seu nome limpo automaticamente, mas o valor terá de ser renegociado com bancos. Esta fase é focada em pessoas que ganham até R$ 20 mil. Numa segunda etapa, prevista para setembro, pessoas que ganham até dois salários mínimos também poderão renegociar dívidas como água e luz, além das bancárias. O programa vai até 30 de dezembro de 2023.

Assim, no primeiro semestre deste ano, todos os estados do Brasil registraram queda na procura por crédito. Segundo a Serasa, os consumidores do Amapá tiveram a maior retração na demanda por crédito (-25%). Em segundo lugar ficou o Rio de Janeiro (-22,5%), seguido por Alagoas (-21,5%), Rio Grande do Norte (-17,6%) e Piauí (-16,8%). São Paulo teve queda de 8,4%.

Demanda por crédito (Nos primeiros seis meses do ano):

2008: +9,7%

2009: -6,8%

2010: +16,6%

2011: +13,7%

2012: -7,4%

2013: +6,1%

2014: -5,4%

2015: +4,8%

2016: +3,2%

2017: +2,1%

2018: +11,1%

2019: +7,8%

2020: -8,1%

2021: +26,2%

2022: +11,1%

2023: -12,5%