Grupo incendeia casas de suspeitos de obrigar mulheres a desfilarem nuas na Índia
Imagens mostram duas vítimas da tribo cristã Kuki andando sem roupa por uma rua, ridicularizadas e assediadas por uma multidão
Um grupo de pessoas incendiou as casas de quatro suspeitos de terem forçado duas mulheres a desfilar nuas no estado indiano de Manipur, onde confrontos étnicos deixaram pelo menos 120 mortos nos últimos meses, segundo um vídeo divulgado nesta sexta-feira.
Os suspeitos foram identificados a partir de um vídeo do incidente, ocorrido no início de maio, que se tornou viral nas redes sociais na quarta-feira e gerou indignação em todo o país. "Quatro réus foram presos no caso do vídeo viral", escreveu a polícia do estado de Manipur no Twitter na noite de quinta-feira.
As imagens mostram duas mulheres da tribo cristã Kuki andando nuas por uma rua, ridicularizadas e assediadas por uma multidão, presumivelmente do grupo étnico dominante Meitei, principalmente hindu.
Após a prisão dos suspeitos, um grupo de ativistas do Meitei jogou feno na casa de um dos réus em Imfal, capital do estado, e ateou fogo. Outro grupo de mulheres fez o mesmo na sexta-feira, incendiando a casa de um segundo suspeito.
A Índia é um país conservador e patriarcal, mas na comunidade meitei, as mulheres têm um papel maior do que em outros lugares e uma história de luta por seus direitos.
O estado de Manipur tem sido palco de confrontos étnicos nos últimos meses, provocados principalmente pela possibilidade de os Meitei obterem status preferencial sobre os Kuki.
O surto de violência entre os dois grupos tribais, o pior em décadas, deixou pelo menos 120 mortos e milhares de deslocados.
'Atos repugnantes'
O vídeo que se tornou viral provocou manifestações em todo o país na sexta-feira, pedindo a renúncia do chefe do governo local.
— Existem pessoas normais que podem fazer isso? (...) Nem mesmo gatos, cachorros, animais cometem atos tão repugnantes — disse um manifestante perto de Imfal.
A filmagem também provocou uma reação do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que na quinta-feira chamou o incidente de "uma vergonha para qualquer sociedade civilizada".
O governo local, liderado pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP), disse que a polícia agiu assim que o vídeo foi divulgado, mais de dois meses após o incidente. No Twitter, o ministro-chefe de Manipur, Biren Singh, observou que uma "investigação completa" estava em andamento. "Vamos garantir que medidas estritas sejam tomadas contra todos os perpetradores, incluindo a possibilidade de pena capital", acrescentou.
A violência de maio eclodiu após uma marcha de protesto contra a possibilidade de a comunidade Meitei obter o status mais vantajoso de "tribo registrada", que lhes garantiria cotas para empregos públicos e ingresso em universidades.
Essa hipótese reavivou antigos temores da tribo Kuki de que os Meitei pudessem adquirir terras em áreas hoje reservadas a eles e a outros grupos tribais.
Em um relatório apresentado ao tribunal em junho, o grupo da sociedade civil Manipur Tribal Forum afirmou que muitos atos de violência, incluindo estupros e decapitações, foram cometidos sem investigação das autoridades locais.