Guerra

Zelensky ordena Forças Armadas a garantir exportação de grãos da Ucrânia

Presidente reage a ameaças da Rússia após Moscou abandonar acordo firmado ano passado

O primeiro navio fretado pela ONU deixava a Ucrânia com mais de 23 mil toneladas de grãos, no ano passado - OLEKSANDR GIMANOV/AFP

No quarto dia consecutivo de ataques russos à infraestrutura agrícola e de exportação de grãos em Odessa, no Sul do país, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, aumentou a escalada de tensão com a Rússia ao ordenar ao Exército e à Marinha que atuem em plano para garantir a saída de navios em seus portos no Mar Negro.

O ucraniano se reuniu nesta sexta-feira com os chefes das Forças Armadas, bem como com o ministro das Infraestruturas, com o objetivo de coordenar iniciativas frente às ameaças lançadas pela Rússia — que não só abandonou o acordo que garantiu um corredor de saída seguro para os grãos, levando a uma esperada alta de preços no mercado global, mas tem intimidado qualquer navio que se aproxime dos portos ucranianos.

O objetivo é que o general Valerii Zalujnyi, comandante do Exército, o contra-almirante Oleksiy Neijpapa e o ministro da Infraestrutura, Oleksandr Kubrakov, desenvolvam um "conjunto de ações" para manter aberto o corredor do Mar Negro, disse o presidente em seu canal no Telegram. Ao mesmo tempo, ele pediu ao Ministério das Relações Exteriores que empreenda "medidas diplomáticas semelhantes".

Enquanto isso, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tenta, como fez durante a guerra, navegar entre as duas águas. Ele pediu que fossem ouvidas e levadas em consideração as condições exigidas por Moscou para retornar ao acordo de grãos, que nada mais são do que a suspensão das sanções ao comércio internacional de seus produtos como punição por ter invadido a Ucrânia.

— A Rússia também tem algumas expectativas. Se forem resolvidas, a Rússia é a favor da operação do corredor de grãos — disse Erdogan nesta sexta-feira a jornalistas que o acompanhavam no retorno de uma visita aos países do Golfo Pérsico, informou a agência de notícias Efe.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Vershinin, disse que é possível um novo acordo de grãos entre a Rússia e a Turquia — o pacto foi firmado ano passado por Kiev e Moscou, com Erdogan e a ONU como partes mediadoras — se as condições do Kremlin forem aceitas, que incluem a flexibilização das sanções sobre seus materiais e produtos.

Novos ataques em Odessa
Paralelamente, Odessa, principal cidade ucraniana às margens do Mar Negro, voltou a ser atacada na madrugada desta sexta-feira pela Rússia e pelo quarto dia consecutivo. Vários mísseis foram lançados na madrugada, um deles ainda quando os serviços de emergência já estavam a postos, denunciou um porta-voz militar.

"Infelizmente, os terminais de grãos de uma empresa agrícola da região de Odessa foram atingidos. O inimigo destruiu 100 toneladas de ervilhas e 20 toneladas de cevada", disse o governador regional, Oleh Kiper, pela manhã no Telegram. Não houve vítimas mortais no ataque.

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Moscou considera seus bombardeios em Odessa como uma retaliação aos ataques que Kiev realizou nos últimos dias contra posições russas na Península ucraniana da Crimeia, que a Rússia ocupa desde 2014.

A Rússia não apenas bombardeou Odessa nos últimos dias, mas também passou a considerar qualquer navio que navegue na área um objetivo militar. Num movimento semelhante, Kiev anunciou na quinta-feira que, a partir de agora, todos os navios com destino a portos russos ou ucranianos nas águas do Mar Negro localizados em áreas ocupadas pelo invasor "podem ser considerados pela Ucrânia como transportadores de material militar, com todos os riscos associados", segundo um comunicado do Ministério da Defesa.

Por sua vez, a ONU voltou a acusar a Rússia de colocar em risco a segurança alimentar dos países com menos recursos.

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— Os eventos da semana passada são apenas os últimos desenvolvimentos na guerra sem sentido da Federação Russa contra seu vizinho, uma guerra cujas consequências estão sendo sentidas em todo o mundo — disse a chefe de Assuntos Políticos das Nações Unidas, Rosemary DiCarlo.

A Organização das Nações Unidas Para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) também condenou os ataques de forças russas contra instalações culturais da cidade portuária. O local entrou para a lista do Patrimônio Mundial e do Patrimônio Mundial em Perigo em meio ao início da invasão da Rússia no território ucraniano, em fevereiro do ano passado.

Enquanto isso, a União Europeia (UE) acusou na quinta-feira o líder russo, Vladimir Putin, de usar a fome como arma no conflito. O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, também advertiu que a sua retirada do acordo para retirar o grão ucraniano trará graves consequências que se agravarão também com a "atitude bárbara" que implicam os constantes ataques em Odessa.

— Isso vai criar uma enorme crise alimentar no mundo — disse Borrell.