Restos mortais achados em instalações militares no Uruguai são de desaparecida durante a ditadura
Morte ocorreu de forma "violenta, por ação de terceiros, no contexto de privação de liberdade, maus-tratos ou tortura"
Os restos ósseos encontrados no mês passado em uma instalação militar no Uruguai pertencem a uma mulher desaparecida durante a última ditadura, mas sua identidade ainda não pôde ser determinada, informaram nesta sexta-feira (21) o Ministério Público e a equipe de investigadores responsáveis pelo caso.
A análise genética "confirma que os restos são de uma mulher", embora "as comparações não tenham apresentado nenhuma coincidência estatisticamente significativa e, portanto, conclusiva, em termos de identificação", disse em entrevista coletiva Alicia Lusiardo, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Antropologia Forense do Uruguai (GIAF).
O relatório concluiu que a morte ocorreu de forma "violenta, por ação de terceiros, no contexto de privação de liberdade, maus-tratos ou tortura", destacou.
No entanto, ela esclareceu que "não se trata dos restos de María Claudia García de Gelman, nem de Elena Quinteros", detidas e desaparecidas em 1976, das quais se especulava que poderia se tratar.
Os restos foram encontrados em 6 de junho no Batalhão Nº 14 do Exército em Toledo, cerca de 25 km ao norte de Montevidéu, durante escavações em busca de pessoas detidas e desaparecidas durante o regime cívico-militar de 1973 a 1985 no Uruguai.
O material genético extraído foi enviado ao Laboratório do Equipe Argentino de Antropologia Forense (EAAF) em Córdoba, Argentina, que o comparou com perfis obtidos a partir de amostras de familiares de pessoas desaparecidas.
Lusiardo indicou que existem vários casos de mulheres desaparecidas para as quais há poucas amostras de referência.
O promotor especializado em crimes de lesa-humanidade, Ricardo Perciballe, afirmou que, "embora não se tenha obtido a identidade da pessoa", há "certeza absoluta" de que se trata de uma detida desaparecida.
"A Procuradoria tomará as medidas pertinentes para conseguir a identificação", assegurou.
Oficialmente, são contabilizadas 197 pessoas desaparecidas em ações atribuídas ao Estado uruguaio entre 1968 e 1985, a grande maioria detida na Argentina no âmbito do Plano Condor de colaboração entre os regimes vizinhos.