Israel

Netanyahu diz que reforma judicial amplamente criticada 'não é o fim, mas a essência da democracia'

Multidões vão às ruas do país em repúdio à medida, que veem como uma ameaça ao Estado de Direito

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante sessão na Knesset - RONALDO SCHEMIDT/AFP

Em seu primeiro pronunciamento à nação após o Parlamento de Israel aprovar a primeira parte de uma controversa reforma judicial, disse que a medida é um "passo necessário para a democracia". Milhares de pessoas protestam nas ruas do país pela 29ª semana seguida, contudo, argumentando que a proposta do governo mais à direita da História da nação é uma ameaça ao Estado de Direito.

Em um vídeo gravado no seu escritório, à frente de uma estante de livros e fotos da sua família, Netanyahu disse que haverá espaço amplo nos próximos meses para que se chegue a um consenso sobre o futuro do país. Horas antes, os deputados haviam dado o sinal verde — foram 64 votos a zero, com boicote da oposição — para a medida que derrubou a capacidade da Suprema Corte de barrar medidas do governo, indicações de ministros ou nomeações para cargos públicos que não sejam "razoáveis".

— É um passo democrático necessário para restaurar o equilíbrio entre os Poderes — disse o premier. — [A reforma é necessária] para garantir que o governo eleito pode implementar medidas de acordo com a decisão da maioria dos cidadãos. A concretização da vontade popular não é o fim, mas a essência da democracia.

Em uma declaração que provavelmente não acalmará os ânimos, afirmou que recorrerá à oposição nos próximos dias para que negociem quais serão os próximos passos. As tentativas de chegar a um meio-termo adentraram na sessão desta segunda, com o próprio Netanyahu fazendo algumas ligações enquanto estava na plenária.

A Knesset entra em recesso em julho, e Netanyahu sugeriu que pode pôr o resto da reforma em pausa até o fim de novembro. A medida atual estava prevista para ser votada em março, mas o premier decidiu adiá-la em abril para depois da folga de primavera, buscando também acalmar aos ânimos em meio a uma greve geral.

— Nós estamos prontos para discutir tudo, imediatamente e durante o recesso e, se mais tempo for necessário, até o fim de novembro — disse ele, afirmando que "temos um país, uma casa, um povo".

Pouco antes do pronunciamento do premier, que teve alta do hospital nesta segunda após pôr um marca-passo na véspera, o líder da oposição Benny Gantz acusou Netanyahu de fracassar com Israel. Após afala do mandatário, outro líder da oposição, o centrista Yair Lapid, disse que a oferta do premier de adiar a votação é vazia:

— Esse governo extremista e messiânico não pode estraçalhar nossa democracia ao meio-dia e, de noite, enviar Netanyahu para dizer que oferece negociações — afirmou Lapid. — Não desistiremos. A batalha apenas começou.

Enquanto o premier falava, multidões de israelenses tomavam ruas em Jerusalém, Tel Aviv, Haifa e outras cidades pelo país. No centro do país, um motorista lançou seu veículo contra os manifestantes, deixando três pessoas feridas e sendo preso em seguida. O cenário é particularmente caótico em Tel Aviv, onde a polícia usa canhões d'água e a cavalaria para tentar dispersar os críticos.

Em um manifesto, a liderança das manifestações afirmou que Netanyahu é o "único culpado pela fissura na nação, a destruição do Exército e o esmagamento da economia". A nota continua afirmando que "lutaremos contra Netanyahu até o fim para que Israel continue a ser uma democracia liberal".

"Não há nada para ser conversado com alguém que decide se transformar em [Vladimir] Putin e fazer de Israel uma ditadura", diz o documento.

No fim de semana, 10 mil reservistas anunciaram que vão parar de servir, levantando temores de que a capacidade de preparação das Forças Armadas esteja prejudicada. Desde o voto desta segunda, mais centenas juntaram-se a eles, o que levou Netanyahu a dizer que as Forças de Defesa Israelenses (IDF, em inglês) devem permanecer apolíticas:

— Irmãs e irmãos reservistas, mantenham o serviço do IDF distante dos argumentos políticos — disse ele. — Nós temos uma nação, uma casa, um povo.