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Uma criança é morta ou ferida por hora na 'guerra esquecida' do Sudão

Conflito chega ao 100º dia com saldo de 435 menores mortos e mais de 2 mil feridos, diz ONU

Duas crianças caminham com fumaça dos confrontos em Cartum, capital do Sudão, ao fundo - AFP

O Sudão completou cem dias de conflito nesta segunda-feira com a revelação de um dado alarmante: a cada uma hora, uma criança morre ou acaba ferida em razão dos confrontos, anunciou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Segundo a ONU, ao menos 3.900 pessoas morreram no conflito, embora a própria organização considere o número subestimado. Entre elas, há pelo menos 435 crianças, e 2.025 menores estão entre os feridos nos confrontos, que se concentram na capital Cartum.

Desde 15 de abril, as tropas do Exército sudanês, lideradas pelo líder de facto Abdel Fatah al Burhan, lutam contra a milícia das Forças de Apoio Rápido (RSF), sob comando do general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como Hemedti. No passado, ambos foram aliados no golpe que destituiu um governo civil e destruiu a esperança dos sudaneses de alcançar a democracia após três décadas da ditadura de Omar al-Bashir, condenado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

A agência da ONU para crianças também afirma ter registrado "2.500 graves violações dos direitos humanos, pelo menos uma a cada hora", embora seja provável que haja "muito mais na realidade". De acordo com o Unicef, 14 milhões de crianças precisam de assistência humanitária.

As crianças representam mais da metade da população do Sudão, que é de 45 milhões de habitantes, segundo o Unicef. Entre elas, 620 mil sofrem de desnutrição aguda — sendo que a metade destas pode morrer caso não receba tratamento imediato, alertou o Fundo para a Infância em junho.

"Todos os dias, crianças são mortas, feridas, sequestradas e deixadas sem nada além de escolas, hospitais e infraestrutura danificados ou saqueados", denunciou a agência da ONU. "Pais e avós que viveram ciclos anteriores de violência estão tendo que ver seus filhos e netos viverem as mesmas experiências atrozes", acrescentou.

Milhões de pessoas estão passando fome e mais da metade dos 48 milhões de habitantes do Sudão precisa de ajuda humanitária para sobreviver. No entanto, a ONU e ONGs que atuam no país não têm permissão das autoridades e financiamento internacional para fornecer a ajuda devida.

Além disso, mais de 3,7 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas e, dessas, mais de 1,1 milhão se refugiaram no exterior — muitos em países que já enfrentavam suas próprias crises humanitárias e guerras civis antes. A Etiópia, por exemplo, que acolheu mais de 72 mil migrantes vindos do Sudão, convive desde 2018 com os violentos combates na região do Tigré, que já vitimaram mais de 600 mil pessoas.

No mês passado, o Unicef alertou que mais de um milhão de crianças — incluindo 270 mil só em Darfur — foram obrigadas a se deslocar em razão dos combates entre o Exército e os paramilitares.

"O Sudão está à beira do colapso, afetado por uma série de crises que, combinadas, não têm precedentes", alertou o Conselho Norueguês de Refugiados (NRC).

"Os primeiros 100 dias de guerra trouxeram terror e desolação e os próximos 100 provavelmente serão piores. A violência não está diminuindo e as próximas semanas podem trazer inundações, deslocamentos e epidemias devastadoras", acrescentou a organização (Com AFP).