MARIELLE FRANCO

Caso Marielle: delação de Élcio Queiroz começou com transferência para presídio federal de Brasília

Trabalho junto ao detento começou no percurso em que ele foi escoltado do Rio de Janeiro para a capital

Homenagem à Marielle Franco - Tomaz Silva / Agência Brasil

A colaboração premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz teve como ponto de partida a transferência dele para a penitenciária federal de Brasília, em março de 2019. Um agente de inteligência da Polícia Penal Federal foi escalado para acompanhá-lo, entrevistá-lo e monitorá-lo rotineiramente.

O agente teria ganhado a confiança do ex-PM, que passou a contar alguns detalhes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. O trabalho junto ao detento iniciou-se logo no percurso em que ele foi escoltado do Rio de Janeiro a Brasília. Depois, a equipe de inteligência penitenciária acionou a PF para dar prosseguimento às investigações

— Élcio de Queiroz está custodiado no Sistema Penitenciário Federal (SPF) desde 2019. E desde então a polícia penal federal vem trabalhando em cima desse indivíduo. Quando percebemos que havia possibilidades de um acordo de delação premiada, compartilhamos os dados com a Polícia Federal. E a PF e o MPF passaram a ter uma série de encontros com ele — disse Renato Vaz, coordenador-geral de segurança e operações penais.

Em março de 2019, Queiroz foi preso junto com o PM reformado Ronnie Lessa. Na delação premiada já homologada pela Justiça, o ex-PM relatou que Lessa matou Marielle com disparos de uma submetralhadora e confirmou que ele estava dirigindo o carro utilizado no crime. Lessa está encarcerado no presídio federal de Campo Grande (MS).

"Ele já estava de touca esse tempo todo depois que a gente saiu (para cometer o crime) (...). Nesse momento que está parado, esperando pra entrar, eu emparelhei e botei meu vidro... a minha janela paralela ao carona do carro do Anderson; não vi, pois o vidro é escuro; ele já estava com o vidro aberto e eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço (...) aí caíram as cápsulas em mim e ele falou “vão bora”; eu nem vi se acertou quem, se não acertou", diz a transcrição do depoimento de Queiroz.
 

Esse interrogatório foi feito no hangar da PF no aeroporto de Brasília, em 14 de junho de 2023. Além de um delegado e agente da PF, estavam presentes um promotor do Rio de Janeiro e a advogado do ex-PM. A polícia penal federal era a responsável por fazer o translado dele do presídio federal ao local do depoimento.

Em sua colaboração, o ex-policial também delatou o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, que foi preso nesta segunda-feira durante a Operação Élpis. Ele é acusado de ter atuado para atrapalhar as investigações do caso Marielle — segundo as investigações, ele tentou plantar falsas testemunhas e cedeu um carro à quadrilha de Lessa para esconder as armas do crime.

Em coletiva nesta segunda, o ministro da Justiça Flávio Dino afirmou que Suel também deve ser encaminhado ao sistema penitenciário federal.