Sobe para 300 o número de famílias que ocupam condomínio residencial em Jaboatão dos Guararapes
Local foi interditado, em 2009
Subiu para 300 o número de famílias que ocupam o condomínio residencial Vila do Mar, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR).
As pessoas chegaram para ocupar o local por volta das 5h da última segunda-feira (24), lideradas pelo Movimento de Luta por Teto, Terra e Trabalho (MLTT). O conjunto foi interditado em 2009 por risco de desabamento. O movimento é composto por pessoas em situação de vulnerabilidade.
A ação acontece pouco menos de um mês após o desabamento de parte do Conjunto Beira-Mar, em Paulista, também na RMR. A tragédia deixou um saldo de 14 mortos e sete feridos.
De acordo com o presidente do MLTT, Davi Lira, mesmo com a interdição de 2009, os prédios oferecem condições para moradia, uma vez que, ainda segundo ele, as instalações não apresentariam rachaduras e a equipe do MLTT tentou contato com autoridades.
"A gente chegou a ligar duas vezes para o Governo do Estado e a Prefeitura [de Jaboatão]. O Governo do Estado vai mandar representantes da CEHAB [Companhia Estadual de Habitação e Obras], hoje, pela parte da tarde, já a Prefeitura não abriu espaço para diálogo e soluções, só fez o contrário, lançando notas pedindo para as famílias se retirarem, mas elas vão para onde, se já vieram de área de risco?", interroga.
O laudo feito pela Prefeitura precisa ser reavaliado, porque não tem detalhes e nem um estudo, de fato, do que foi feito. A gente está contestando esse laudo. Não é válido o que a Prefeitura está fazendo.
O movimento tem nome de local afetado por chuvas, em 2022
A ocupação recebeu o nome de Jardim Monteverde, fazendo alusão ao local mais afetado pelas torrenciais chuvas que caíram sobre Pernambuco, no ano passado, deixando dezenas de mortos e um verdadeiro cenário de guerra.
No local, existem pessoas que moravam no Monteverde e que perderam absolutamente tudo com as tempestades, a exemplo de Rosimere Maria, de 41 anos. Ela tem seis filhos, é mãe solteira e sobrevive com R$ 600 que recebe do Bolsa Família. A ocupante contou à reportagem da Folha de Pernambuco o drama que vive após a tragédia.
"Estas horas que a gente chegou aqui têm sido de limpeza do terreno para poder ocupar, porque está tudo muito sujo. Desde ontem a gente está se organizando e fazendo grupos para limpar os blocos e poder ocupar. Eu perdi a minha casa com o deslizamento de barreira, no Jardim Monteverde. A Prefeitura [de Jaboatão] esteve lá para nos inscrever no Auxílio Moradia, mas até hoje ninguém deu resultado. Apenas pegaram o nome e nada. Eu conheci o movimento [O MLTT] e estou atrás de algo que seja meu, porque hoje eu moro na casa dos outros, de favor, com os meus seis filhos. A gente não quer nada de ninguém. Não viemos aqui para invadir nada de ninguém. Está desocupado, a gente ocupa", explicou.
Moradora de Cajueiro Seco, Simara Alves também está nessa ocupação do Vila do Mar. Ela mora de aluguel, usa o dinheiro que ganha com reciclagem para sustentar os quatro filhos e acredita numa resposta positiva desse movimento.
"Eu pago R$ 300 de aluguel. Eu cato reciclagem. Consigo tirar de R$ 30 a R$ 50, é difícil de tirar esse dinheiro por mês para pagar e comprar alimento. Os meus filhos estudam. Às vezes, eles querem alguma coisa para comer, mas eu não tenho para dar", relata.
Veja as imagens da ocupação