Marielle Franco

PM que teria intermediado contratação de Lessa ligou 20 vezes para ex-bombeiro dias após execução

Edimilson Oliveira, o Macalé, foi assassinado em 2021

Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé, e Maxwell Simões, o Suel - Reprodução

As ligações telefônicas entre Edimilson Oliveira, o Macalé, apontado como intermediador da execução de Marielle Franco, e o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, preso na operação realizada nesta segunda-feira, se intensificaram após a morte da vereadora. Durante investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro, descobriu que nas semanas seguintes aos crime eles se falaram por 20 vezes no telefone. Os dois, segundo a delação de Élcio de Queiroz, participaram das tocaias de observação da vereadora e da tentativa frustrada de execução da política ainda em 2017.

Na nova denúncia do Ministério Público, os promotores detalham que Macalé ligou para Suel seis vezes antes da execução. Nas semanas seguintes ao crime, esse número subiu para 20 — algumas com intervalo menor de duas horas entre as ligações.

A vereadora e o motorista Anderson Gomes foram assassinados no dia 14 de março. Segundo a investigação do MPRJ, do dia 20 ao dia 29 de março de 2018, Macalé ligou 20 vezes para Suel. Em abril, ele ligou 22 vezes para o ex-bombeiro em um intervalo de oito dias. No sentido oposto, Suel ligou para Macalé 20 vezes entre março e abril daquele ano.

"Não bastasse a existência de fortes indícios do essencial auxílio do ora denunciado (Maxwell) no “pré crime”, tal como apontado pelo colaborador (Élcio de Queiroz), fato é que sua participação prosseguiu no “pós crime”, na medida em que, sempre seguindo plano previamente ajustado entre os envolvidos, além de fornecer inegável ajuda aos executores para a obtenção de uma nova placa, troca, destruição e desaparecimento daquela que anteriormente guarnecia o automóvel, juntamente com algumas das cápsulas dos projéteis, foi ele o responsável por contactar o indivíduo que fez desaparecer o Chevrolet/Cobalt utilizado na empreitada", diz trecho da denúncia.

Novo personagem
De acordo com a delação de Élcio Queiroz, a contratação de Ronnie Lessa para matar a vereadora Marielle Franco teria sido intermediada por Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé. Ele era sargento reformado da Polícia Militar e foi executado em novembro de 2021, aos 54 anos. À época, testemunhas contaram que ele caminhava pela Avenida Santa Cruz, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, em direção ao seu carro, uma BMW, quando foi abordado por homens em um veículo branco. O policial foi atingido por vários disparos e morreu no local.

O delator disse ainda que Macalé teria participado das "campanas" feitas para vigiar os passos de Marielle na preparação para o crime. "Inclusive foi através do Edimilson que trouxe... vamos dizer, esse trabalho pra eles; essa missão pra eles foi através do Macalé que chegou até o Ronnie", disse Queiroz aos investigadores.

Amigos há décadas, Élcio passou a festa de réveillon de 2017 para 2018 com sua a família e a de Ronnie no condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste, onde o atirador morava. No meio da noite, Ronnie, alcoolizado, confidenciou que estava chateado pois não consegui concluir um trabalho há algum tempo com dois cúmplices: Maxwell Simões Correa, o Suel (preso na segunda-feira em operação da PF), e Edimilson Oliveira, o Macalé, que foi assassinado.

Lessa então detalhou a noite que saiu com os dois: Maxwell era o motorista do Cobalt, o atirador no carona com sua submetralhadora e Edimilson no banco traseiro com um fuzil Ak-47. Marielle estava num táxi, também no Estácio, bairro onde foi assassinada meses depois. Em seu desabafo ao amigo, o atirador contou que o trio se aproximou do veículo da vereadora, mas, apesar da ordem de emparelhar com o carro, Suel não conseguira se aproximar. O motorista explicou a Lessa que o carro dera um problema, mas o ex-Bope não acreditou e achava que Suel tinha ficado com medo.

Quem é Suel?
Maxwell Simões Correa, o Suel, é ex-sargento do Corpo de Bombeiros e já havia sido detido anteriormente, em 2020. Ele é apontado como cúmplice do ex-sargento da Polícia Militar Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes. Suel, de acordo com as investigações, ajudou no descarte de armas escondidas por Lessa.

Quem é Ronnie Lessa?
Ronnie Lessa foi apontado por Élcio Queiroz, em delação premiada, como sendo o autor dos disparos que mataram Marielle Franco e Anderson Gomes. Ex-policial militar, ele foi preso em março de 2019 pela participação nos assassinatos e acabou expulso da PM em fevereiro deste ano. Em 2021 foi condenado a quatro anos e meio de prisão pela ocultação das armas que teriam sido usadas na execução.