Mais denúncias, foragidos e inquéritos concluídos: Polícia Civil faz balanço do caso padre Airton
Jailson Leonardo da Silva e Landelino Rodrigues da Costa Filho são procurados pela polícia
A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) divulgou, na tarde desta quarta-feira (26), atualizações do caso do Padre Airton Freire, de 67 anos, acusado de cometer crimes sexuais contra fiéis. Existem cinco inquéritos contra o religioso, dos quais dois já estão concluídos. Um deles, aliás, garantiu a prisão preventiva dele, que deixou a prisão recentemente e está internado no Real Hospital Português (RHP), por um pico de hipertensão.
Após as denúncias de Sílvia Tavares, outras apareceram e foi criada uma força-tarefa, coordenada por cinco delegadas.
Uma delas é a titular da Delegacia da Mulher de Afogados da Ingazeira, no Sertão de Pernambuco, Andreza Gregório. Ela revelou que das cinco vítimas iniciais, quatro são mulheres e exaltou confiança nos relatos que ouviu.
“O relato das vítimas merece credibilidade nesse tipo de crime. Quando recebemos qualquer notícia dessa natureza, buscamos todos os elementos para corroborar com a elucidação dos fatos. Todas essas mulheres que nos procuraram, relataram de forma detalhada e segura. São mulheres que não se conhecem, além de um homem. Elas demonstram dor ao relembrar e não há indicativo de que possam estar inventando e fantasiando algo contra um homem que era tido como um homem santo”, disse a delegada.
Nos meses de fevereiro e julho deste ano, dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Pernambuco, sendo um na sede do Instituto dos Servos de Deus, localizado na Fazenda Malhada, em Arcoverde. O material recolhido e a quantidade foram mantidos em sigilo pela polícia.
O inquérito que tomou como base as acusações de Sílvia Tavares foi convertido na prisão preventiva do padre Airton Freire. Ele foi detido no dia 14 deste mês e atualmente está no Real Hospital Português (RHP), no Recife, após apresentar um quadro hipertensivo. A defesa dele tenta reverter o cenário para uma prisão domiciliar, alegando avanço de idade e questões de saúde.
“Com base nos indícios e nas provas, entendemos que era necessário o indiciamento. A Polícia Civil se convenceu de que ocorreu o fato. O inquérito foi submetido ao Ministério Público de Pernambuco, que deu parecer favorável, e ao Judiciário, que deferiu”, explicou Andreza.
“Ele continua preso e à disposição da Justiça para começar o estado criminal”, acrescentou.
Força-tarefa criada
O subchefe da Polícia Civil de Pernambuco, Mauro Cabral, sinalizou a conclusão de dois dos cinco inquéritos e também ressaltou o aparecimento de novas vítimas após a primeira exposição do caso.
“No final de 2022, a Polícia Civil foi notificada dessa primeira vítima e imediatamente foi designada uma investigação. No curso, foram surgindo outras vítimas e, então, achamos por bem constituir uma força-tarefa para a apuração. Até o momento, temos cinco vítimas denunciadas e dois inquéritos já foram concluídos. Um com prisão preventiva, inclusive. Três inquéritos ainda estão em aberto, em investigação”, afirmou Cabral.
Indiciados e foragidos
Ao todo, quatro pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil de Pernambuco (PCPE): o padre Airton Freire, Jailson Leonardo da Silva, Landelino Rodrigues da Costa Filho e um outro homem que também trabalhava como motorista do religioso. Esse último foi indiciado por falso testemunho, mas ainda não há um mandado de prisão contra ele, por isso a polícia não divulgou seu nome.
No caso de Jailson Leonardo da Silva e Landelino Rodrigues da Costa Filho, os dois têm mandados de prisão e são considerados foragidos. O primeiro atuava como segurança e motorista de padre Airton e foi apontado por Sílvia como autor do estupro contra ela. O segundo era responsável por fazer filmagens das celebrações religiosas da Fundação Terra. Ambos têm residências registradas em seus nomes na cidade de Arcoverde e são funcionários antigos e de confiança do padre.
“Existem dois alvos a serem capturados e já podemos considerar foragidos. Esses mandados são as maiores provas da robustez das investigações”, disse Andreza Gregório.
Mais vítimas
Apesar da abertura de cinco inquéritos, o número de vítimas, que não foi precisado pela polícia, é maior. A expectativa é de que a partir da apuração e coleta de provas, novos inquéritos sejam instaurados. Pessoas de outros estados também estão sendo ouvidas atualmente pelas autoridades. O alcance do crime, inclusive, pode ultrapassar as fronteiras do Brasil, por conta das tradicionais “caravanas” promovidas pela Fundação Terra.
A delegada Fabiana Leandro também fez menção ao título de “figura pública” que o acusado tem, além de enfatizar que existem diferentes formas de comprovar o crime sexual, não apenas com a roupa usada pela vítima no momento da ação.
“O autor é uma pessoa reconhecida e as pessoas podem calar por medo e receio de serem desacreditadas. Esse lapso temporal faz com que as provas tradicionalmente usadas nesse tipo de crime não sejam usadas. Há as caravanas de outros estados para Pernambuco e então, naturalmente, podem ter vítimas de qualquer estado do país e até do mundo”, pontuou.
Denúncias e informações
Foi criado um canal exclusivo, através do número de telefone (81) 994887082, para receber denúncias sobre o caso do Padre Airton.
Por esse número, é possível denunciar outros casos e também passar informações à polícia que possam ajudar nas investigações e também no paradeiro dos outros dois homens foragidos.
Delegada e diretora do Departamento de Polícia da Mulher (DPMUL), Fabiana Leandro reforçou o papel do novo serviço. “A partir da primeira vítima, outras quebraram o silêncio. Criamos esse número exclusivo para o padre Airton, que é através do Departamento de Denúncia da Mulher. O contato está à disposição da população para outras vítimas realizarem denúncias, ou ainda testemunhas e colaboradores”, disse.
A delegada também explicou o que deve ser feito no caso de pessoas de fora de Pernambuco.
“Se as vítimas tiverem em outros estados, podem entrar em contato nesse mesmo número ou nas delegacias do seu estado, para que entrem em contato com a gente em Pernambuco, se o caso ocorreu aqui”, explicou.