GREVES NO TRANSPORTE PÚBLICO

Na volta para casa, poucos ônibus e passageiros nas avenidas e Terminais Integrados do Recife

No primeiro dia de paralisação dos metroviários e rodoviários, o Recife em nada aparentava ser o que é em dias normais

Terminal Integrado Joana Bezerra com poucos passageiros nesta quarta (26) - Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Uma quarta-feira (26) atípica no Recife. No costumeiro horário de pico da volta para casa (entre 17h e 20h), em alguns dos principais pontos de embarque e desembarque de passageiros de ônibus mais parecia dia de feriado. Poucos eram os ônibus em circulação nas ruas, assim como eram poucas as pessoas que aguardavam coletivos – isso se comparado a dias úteis “normais”. Esse foi o retrato do primeiro dia de paralisação dos metroviários (por 48 horas) e rodoviários (por tempo indeterminado) na Região Metropolitana.

A reportagem da Folha de Pernambuco esteve em quatro dos principais locais de grande fluxo de passageiros – os terminais integrados da Macaxeira e de Joana Bezerra e as avenidas Guararapes e Conde da Boa Vista – para conferir o movimento e conversar com quem arriscou a voltar para casa de ônibus.

No Terminal Integrado de Joana Bezerra, na região central da cidade, quase ninguém se via. A doméstica Messiana Maria Gomes, 47 anos, mora em São Lourenço da Mata e trabalha em Boa Viagem. Ao saber da paralisação, ainda na terça (25), dormiu no trabalho. Mas, ao voltar para casa, nesta quarta (26), havia saído às 15h do trabalho e às 17h30, ainda estava no TI. Apesar da longa espera, apoia a paralisação.

 “Eu acho justa a greve, só que eles não estão sabendo fazer. Se eles querem realmente fazer greve, pega o ônibus, abre a porta pra todo mundo entrar de graça, vai e volta. Aí eles (empresas) vão sentir no bolso, e eles (funcionários/motoristas) vão chegar aonde eles querem”, disse.

O cirurgião dentista Thiago da Cunha, 32 anos, tem cinco opções de ônibus para sair do Centro do Recife, onde trabalha, e chegar ao Poço da Panela, onde mora. Em torno de 15 minutos de espera na Avenida Guararapes, nenhum dos ônibus havia passado ainda. “Geralmente, eles vêm um atrás do outro”, comentou. “Eu vim de uber trabalhar porque já tava um deserto de manhã. Eu saí do trabalho agora pra ver se pegava um ônibus, mas ainda não passou nenhum”, continuou. 

Sobre a greve, ele disse: “Atrapalha a galera um pouco, mas é extremamente importante para a categoria. O mais importante é atender os direitos dos caras. Então, eu vou engolir meu orgulho e me virar para ir pra casa”, concluiu, cogitando a possibilidade de voltar a pé. “Coragem, né não?”

Terminal Integrado de Joana Bezerra teve movimento bem abaixo do que os dias habituais. Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Na Conde da Boa Vista, a habitual maior concentração de comércio (formal e ambulante), assim como o movimento no shopping, parecia trazer mais gente às ruas, mas muito menos do que o comum. O porteiro Otávio Augusto Santos, 41 anos, sai todos os dias de bicicleta, do Pacheco, no limite com Jaboatão dos Guararapes, para o bairro da Boa Vista, no Centro do Recife. No véspera da paralisação, deu azar: a bike quebrou. Nem metrô, nem ônibus.

“Eu vim de uber, com minha esposa. Deu R$ 45, aí já coçou o bolso, né? Agora, voltando, eu vou de ônibus mesmo, porque não dá, não”, lamentava Otávio, que já aguardava o Vila Dois Carneiros há 40 minutos, na esperança de que – de acordo com o aplicativo – o veículo chegaria dali a pouco tempo.

Dos locais visitados pela Folha, o Terminal Integrado da Macaxeira era o mais movimentado. Mas também não chegava perto do que costuma ser nos dias úteis. A comerciante Nalva Pereira, 56 anos, estava lá, aguardando o TI Macaxeira/Encruzilhada. Ela saiu de casa, no Alto do Mandu, por volta das 10h, para ir a uma consulta médica no Hospital Eduardo Campos, no Caçote, Zona Oeste do Recife. Foi de mototáxi. 

“Se não, como é que eu ia chegar lá, se os ônibus estão passando de uma em uma hora?”. Na volta, saiu da unidade de saúde às 17h, já eram quase 20h e ela ainda estava no TI. “Eu acho um absurdo isso”, falou sobre a paralisação, “mas eu acho que tem que ver o outro lado também… o salário deles (motoristas)”, continuou. “Mas, no final das contas, quem sofre é a gente, né? Os trabalhadores. Fazer o que, né, se a gente tá no Brasil?”