Investimento

Vale amplia investimentos em metais usados em carros elétricos após negócio bilionário com sauditas

Objetivo é destinar entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões na próxima década para o desenvolvimento de projetos de níquel e cobre, entre outros

Vale tem queda de 78% no lucro do segundo trimestre - Flickr/Jeso Carneiro

A Vale, que anunciou ontem a venda de parte de sua unidade de metais básicos (que reúne ativos de níquel e cobre, entre outros), mira o crescimento no Oriente Médio e não descarta futuras aquisições. Em teleconferência com analistas sobre os resultados financeiros do segundo trimestre, Eduardo Bartolomeo, presidente da mineradora, detalhou os planos de investimento em matérias-primas usadas para a produção de baterias de carros elétricos com a nova unidade de negócios da companhia, uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo.

Ontem, a Vale anunciou a venda de 13% de sua unidade de metais básicos, chamada de Vale Base Metals (VBM) por US$ 3,4 bilhões. De acordo com a companhia, a Manara Minerals, uma joint venture entre o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita e a mineradora estatal Ma'adene, ficará com 10% da companhia. Já os 3% restantes serão adquiridos pela Engine No. 1, um fundo de investimento dos Estados Unidos conhecido por apoiar projetos de transição energética.

Segundo ele, a parceira vai permitir que a mineradora cresça em novos mercados como no Oriente Médio.

- Estamos começando uma nova fase na Vale. Houve várias partes interessadas. Eles são investidores de longo prazo e não estão só no curto prazo. São vários elementos que nos fizeram trazer os parceiros certos. Eles trazem experiência do setor. A Ma'adene tem parceria com várias empresas de mineração. A Engine No. 1 traz credenciais de sustentabilidade (ESG). Temos interesse no Oriente Médio - disse Bartomeo.

Aumento da produção
Com a venda, a VBM foi avaliada em US$ 26 bilhões. O objetivo da Vale com a “parceria estratégica” é acelerar o programa de investimentos da VBM, que deverá atingir entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões na próxima década, e ajudará a impulsionar a produção de cobre de cerca de 350 mil toneladas por ano para 900 mil toneladas por ano e de níquel, de 175 mil toneladas anuais para mais de 300 mil toneladas ao ano. CObre e níquel são usados para a produção de baterias de carros elétricos.

Dos US$ 3,4 bilhões, o executivo explicou que US$ 1 bilhão será mantido na VBM para estabelecer uma estrutura de capital e financiar a nova empresa nos próximos anos. O restante será usado para alocação futura a ser decidido pela mineradora, segundo Bartolomeo. Ele destacou que a mineradora vai continuar com a "disciplina financeira e gerar valor aos acionistas".

- Completamos o redesenho da nossa operação, com a nova unidade, que terá uma gestão dedicada. Isso vai destravar valor no negócio. Assinamos parceria estratégica com investidores diversificados para a transição energética. Vai criar valor de longo prazo para todos os acionistas - afirmou Bartolomeo.

Opção de IPO para 2 a 3 anos
Ele também não descarta aquisições de novos ativos. Lembrou que nesse primeiro momento o objetivo é desenvolver os projetos com uma organização mais dedicada. Após isso, o que pode levar de dois a três anos, a nova empresa pode ver quais tipos de demanda e oportunidades estarão disponíveis.

-As oportunidades vão surgir. Estamos colocando a empresa no caminho do sucesso. A unidade de metais básicos da Vale tem muitos recursos, com reservas no Brasil, Canadá e Indonésia. O que estamos tentando fazer é como destravar valor.

O executivo destacou ainda que "o caminho agora é execução". A Vale pode analisar um IPO (abertura de capital, na sigla em inglês) ou uma fusão em dois ou três anos para a VBM:

- Arrumamos cada parte desse quebra-cabeça. O foco agora é execução. Esse negócio vai precisar de uma grande quantidade de investimento. O IPO ou uma fusão pode ser uma opção, mas isso não está no foco no momento. Isso pode acontecer em dois a três anos. Agora, é focar na aceleração de preencher e fechar as lacunas.

Ontem, a companhia anunciou ainda lucro líquido de US$ 892 milhões (R$ 4,57 bilhões) no segundo trimestre. O resultado representa uma queda de 78% na comparação com os US$ 4,09 bilhões em igual período do ano passado. De acordo com a mineradora, o resultado foi impactado pela queda no preço do minério de ferro e níquel.

Os executivos destacaram ainda o aumento na produção, como a do minério de ferro, que subiu 6% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para 78,7 milhões de toneladas. Bartolomeu citou o recorde de produção no S11D, em Carajás.

Falou ainda do avanço de produção de 41% na produção de cobre. Em níquel, o avanço chegou a 8% no mesmo período de comparação. Assim, o presidente da Vale disse que as perspectivas de produção para 2023 estão mantidas.