Rússia e África vão trabalhar por mundo 'multipolar', diz Putin
Submetido a uma chuva de sanções do Ocidente pela ofensiva na Ucrânia, Moscou organizou nesta quinta e sexta-feira sua segunda cúpula Rússia-África
O presidente Vladimir Putin afirmou, nesta sexta-feira (28), que a Rússia e os líderes africanos participantes de uma cúpula em São Petersburgo concordaram em promover um mundo multipolar e a combater o "neocolonialismo".
No segundo e último dia do encontro, Putin destacou, em um discurso de encerramento, "o compromisso de todos os nossos países para formar uma ordem mundial justa, democrática e multipolar".
Também coincidiram, segundo o mandatário russo, em sua "determinação conjunta para combater o neocolonialismo, a prática de aplicar sanções ilegítimas e as tentativas de minar os valores morais tradicionais".
Submetido a uma chuva de sanções do Ocidente pela ofensiva na Ucrânia, Moscou organizou nesta quinta e sexta-feira sua segunda cúpula Rússia-África. Desta vez, o evento reuniu as delegações de 49 países africanos, entre eles 17 chefes de Estado.
A declaração comum adotada ao término da reunião prevê uma cooperação reforçada no fornecimento de alimentos, energia e ajuda ao desenvolvimento.
O texto, publicado no site do Kremlin, convida a trabalhar em prol de "uma ordem mundial multipolar mais justa, equilibrada e sustentável, que se oponha firmemente à toda a forma de confrontação internacional no continente africano".
O documento prevê também que Moscou ajude os países africanos a "obter compensação pelos danos econômicos e humanitários causados pelas políticas coloniais" ocidentais, incluindo "a devolução de bens culturais" espoliados.
Putin detalhou que, pela noite, falará da situação na Ucrânia com "os países africanos interessados".
"Os representantes dos países africanos mostraram vontade política, e demostraram sua independência e seu autêntico interesse em desenvolver a cooperação com nosso país", acrescentou o chefe de Estado russo.
Segundo ele, a partir de agora haverá uma cúpula Rússia-África a cada três anos, e será criado "um mecanismo de associação e diálogo", para "as questões de segurança", que abrangem a luta contra o terrorismo, a segurança alimentar e a mudança climática.
Putin acrescentou que também se incentivará o uso "sistemático" de moedas nacionais, entre elas o rublo, para as transações comerciais entre Rússia e África, uma forma de livrar-se da primazia do dólar.
Na quinta-feira, Putin prometeu a entrega gratuita de cereais russos a seis países africanos (Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia), após a preocupação que causou a retirada russa do acordo que possibilitou durante um ano a exportação de grãos ucranianos através do Mar Negro.
Há anos, a Rússia empreende uma aproximação com a África, que também passa pela prestação de serviços do grupo paramilitar Wagner em várias nações do continente.
Moscou se apresenta nas relações com esses países como uma garantia perante o "imperialismo" e o "neocolonialismo" ocidental.