Selic

Há espaço para Copom cortar 0,5% de juros por dez reuniões seguidas, diz Haddad

Ministro disse estar preocupado com desaceleração da economia, o que atribui à taxa de juros

Fernando Haddad, ministro da Fazenda - Pedro Gontijo/Senado Federal

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a dizer que espera uma redução da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem. Haddad afirmou que a taxa neutra para o país seria "abaixo de 5%", e que o Banco Central poderia promover cortes de meio ponto percentual a cada reunião do colegiado até o fim do mandato de Roberto Campos Neto no Banco Central.

Haddad afirmou estar preocupado com o que chamou de "desaceleração na margem" da economia, apesar de comemorar as recentes elevações de notas de classificação de risco do Brasil por agências como a Fitch, no início da semana, e a DBRS Morningstar, nesta sexta-feira.

— O desemprego está em queda, mas não devemos nos iludir com isso. Apesar de o nível de desemprego estar abaixo da média dos últimos anos para o mês, já dessazonalizada, a economia está em um processo de desaceleração por conta do juro real na casa de 10%, o que é quase o dobro do país que mais paga juros depois do Brasil. Está mais do que na hora de nós alinharmos a política fiscal e a monetária para o país voltar a sonhar com dias melhores — afirmou Haddad a jornalistas em São Paulo.

O ministro salientou que a inflação do país "está muito controlada", o que daria "espaço extraordinário para crescer mais e gerar mais oportunidades". Mesmo com a redução do ritmo da atividade econômica, Haddad diz que o crescimento de 2% do PIB em 2023 "está contratado".

— Se quisermos atingir um patamar de juros neutro, teríamos que cortar em 5 pontos a taxa de juros real , o que dá dez (reuniões do) Copom com cortes de meio ponto. Dez reuniões seriam quase até o final do mandato do presidente do Banco Central, que tem mais 12 Copons (até o fim do mandato). Ele pode ficar muito à vontade (para cortar juros) porque vai estar ainda acima do juro neutro, vai estar com o freio de mão ainda puxado — ressaltou Haddad. O juro real é obtido descontando-se a taxa de inflação da Selic.

O ministro disse não ter dúvidas de que "o começo de ciclo (de redução de juros) está definido" e que "há espaço para um corte razoável".

— O espaço é real, concreto e deve ser aproveitado e pode inaugurar um tempo de crescimento sustentável no Brasil. (...) No começo do ano a pergunta era se o juro iria cair, depois passou a ser quando cairia e agora é quanto vai cair — afirmou.

O ministro salientou que as mudanças positivas de notas de risco do Brasil por agências de rating ajudam a atrair investimentos estrangeiros, mas que é preciso baixar os juros.

— O mundo inteiro já compreendeu que está acontecendo alguma coisa boa aqui no Brasil e que o rumo dado na agenda econômica vai na direção do que o país precisa para reestabelecer a confiança, atrair investimentos — disse.

Agenda prioritária
Haddad também afirmou que o marco legal de garantias e o arcabouço fiscal são temas prioritários da agenda do Ministério da Fazenda no Congresso em agosto. O marco de garantias precisa ser votado novamente pela Câmara por ter sofrido alterações no Senado.

— O presidente (da Câmara) Arthur Lira (PP-AL) e o relator do texto no Senado, senador senador Weverton Rocha (PDT-MA) estão alinhados com o propósito de dar uma satisfação à questão do crédito. Podemos realmente abaixar os spreads se aprovarmos o marco — disse o ministro.

Haddad disse que depende da aprovação do arcabouço para enviar o projeto de lei orçamentária ao Congresso.

— A agenda do Senado é o Carf e, até setembro ou outubro, a reforma tributária. Também dgostaria de ver votado também o novo marco de seguros, que pode alavancar a economia — ressaltou o ministro da Fazenda.