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Petrobras: analistas já veem 'algum impacto' do preço 'descolado' da gasolina no 2º trimestre

Atenções no mercado estão voltadas para a nova política de dividendos

Petrobras - Fernando Frazão/Agência Brasil

Analistas de mercado já esperam "algum impacto" dos preços menores dos combustíveis praticados pela Petrobras no balanço da companhia, que será divulgado na próxima semana. Outro fator no radar é a previsão de anúncio de uma nova política de dividendos, tema que faz parte da reunião do conselho da estatal nesta sexta-feira.

— Devemos começar a ver um impacto nas margens no segmento de refino, como reflexo das mudanças recentes na política de precificação — afirma Ruy Hungria, analista da Empiricus Research.

Reportagem do Globo mostrou que os preços da gasolina e do diesel praticados no país estão cerca de 20% abaixo das cotações no mercado internacional. Em nota, a Petrobras afirmou que evita repassar a volatilidade das cotações e do dólar e destaca aumento de vendas e de produção.

No primeiro trimestre deste ano, a Petrobras reportou lucro líquido de R$ 38,1 bilhões e receita de R$ 139,068 bilhões.

O analista de commodities da gestora Mantaro Capital, Pedro Acioli, avalia que a empresa deve divulgar resultados piores tanto na comparação trimestral quanto anual basicamente em razão do preço do petróleo.

Para Acioli, as mudanças na política de preços devem afetar o balanço deste trimestre apenas parcialmente, com efeitos no maior uso das refinarias e nas menores margens de refino.

— Apesar de a nova política ter sido anunciada em maio, os preços de diesel e da gasolina só se afastaram materialmente da paridade de importação, que era a referência da antiga política, a partir de meados de junho — afirma.

Desde o início do ano é esperada uma mudança na política de dividendos. Os lucros compartilhados com os acionistas já foram alvos de crítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estatal pretende rever o modelo para destinar mais recursos a investimentos. No ano passado, a empresa foi a segunda maior pagadora de dividendos do mundo, de acordo com o Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson.

Desempenho sólido, mas menor
A expectativa do mercado é por um desempenho sólido de abril a junho, mas com números mais modestos comparados a divulgações anteriores. Embora nos últimos dias o petróleo esteja em trajetória de alta, as cotações atuais são menores do que as do segundo trimestre do ano passado.

— Em ambos os casos (trimestral e anual) devemos observar uma queda, principalmente por conta da queda dos preços do petróleo. No entanto, o recuo será mais forte na comparação anual, já que o barril de petróleo estava negociando em patamares acima de US$ 100 no segundo trimestre de 2022 por causa da guerra na Ucrânia, enquanto os preços ficaram abaixo dos US$ 80 em boa parte do segundo trimestre — explica Hungria.

Nova política de preços
Desde 16 de maio, a Petrobras adota uma nova política de preços, que leva em conta custos internos de produção, preços de concorrentes em diferentes mercados no país e as parcelas de combustíveis produzidas no país ou compradas no exterior. Antes disso, a empresa adotava a política de paridade de importação (PPI), que toma como referência as cotações do dólar e do petróleo.

Para o BTG Pactual, os dados do relatório de produção e vendas, divulgados pela empresa nesta semana, já destacam a nova estratégia da companhia. Com a estatal buscando aumentar a produção local e ganhar participação de mercado, a taxa de utilização das refinarias subiu para 93% no segundo trimestre. Em junho, a estatal informou que chega a 95%.

Nos cálculos do BTG, com preços do petróleo e dos combustíveis vendidos no mercado doméstico menores, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização deve ficar em R$ 57,1 bilhões. O banco prevê lucro líquido de R$ 26,457 bilhões.

Os analistas Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz do Santander esperaram que a empresa apresente “resultados sólidos” apesar dos ventos contrários. Eles projetam um Ebtida de US$ 12,4 bilhões (cerca de R$ 58,9 bi) neste trimestre e um lucro líquido de US$ 6,48 bilhões (cerca de R$ 30,78 bi), o que representa uma queda de 12% no trimestre e de 41% na base anual.

Entre os fatores de pressão, eles citam os preços mais baixos do petróleo no mercado internacional, os impostos de exportação de petróleo adotados pelo governo, e os menores preços dos combustíveis no mercado doméstico em relação à paridade internacional

O Santander espera um pagamento de dividendos de US$ 3,1 bilhões.

Na mesma linha, os analistas da XP aguardam outro “trimestre sólido”, mas com piora em relação ao trimestre anterior devido a fatores como a queda do Brent e a apreciação recente do real.

A XP tem projeção de lucro líquido de US$ 5,385 bilhões (cerca de R$ 25,58 bi) e de receita de vendas de US$ 23,003 bilhões (cerca de R$ 109,25 bi)

O Itaú BBA e o Goldman Sachs também estimam quedas no lucro e na receita, que devem se manter em patamares elevados.

Os analistas do Itaú BBA têm estimativa de lucro líquido de US$ 6,076 (R$ 28,86 bilhões), uma queda anual de 44,8% e de 17,2% ante o trimestre anterior.