Rússia ataca outro terminal de grãos, intensificando campanha contra portos da Ucrânia
Zelensky prometeu construir defesas ao redor da costa sul de seu país
As forças russas atacaram, neste sábado (29), mais um terminal de grãos na Ucrânia, desta vez na cidade de Kherson, no sul do país, o que levantou dúvidas sobre a capacidade de Kiev de enviar grãos para o mundo.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, prometeu aumentar as defesas aéreas ao redor do porto e da costa sul, mas os recursos de Kiev são escassos e ele enfrenta escolhas difíceis sobre onde implantar o número limitado de sistemas de defesa aérea que possui capazes de derrubar os mísseis mais sofisticados da Rússia.
Kiev vem pedindo a seus aliados ocidentais que acelerem a entrega de mais sistemas de defesa aérea e alerta que o bombardeio contínuo por parte de Moscou pode deixar o país sem a infraestrutura necessária para transportar grãos, mesmo que as rotas marítimas do Mar Negro aumentem. Moscou atingiu portos ucranianos quase diariamente desde que desistiu de um acordo, na semana passada, que permitia à Ucrânia embarcar seus grãos apesar da guerra.
— Em dois ou três meses, podemos não ter mais um único porto — disse Natalia Humeniuk, porta-voz do comando militar sul ucraniano, a jornalistas franceses na semana passada. — Eles querem dominar o Mar Negro. Eles querem ter o monopólio dos grãos.
Neste sábado, Humeniuk disse que a Ucrânia havia tomado medidas para proteger melhor os portos, mas alertou que a Rússia pode mais uma vez mudar suas táticas antes de atacar novamente.
O novo ataque, um dos 29 contra Kherson nas últimas 24 horas, atingiu um terminal de grãos no distrito de Beryslav, segundo militares ucranianos. Pelo menos quatro civis ficaram feridos no total, em ataques com morteiros, artilharia, tanques e aeronaves.
O bombardeio da cidade portuária ocorre enquanto as tensões nas águas da costa sul da Ucrânia continuam aumentando. Kiev acusa navios de guerra russos de ameaçar uma embarcação civil, enquanto a Frota Russa do Mar Negro vem realizando exercícios na região. Moscou alertou que qualquer navio que navegue em direção aos portos da Ucrânia seria considerado potencialmente hostil.
O Instituto para o Estudo da Guerra, centro de estudos com sede em Washington, disse na sexta-feira que a postura naval russa no Mar Negro, era “intencionalmente ambígua para gerar preocupação generalizada”.
“O Kremlin provavelmente pretende que essa postura tenha um efeito inibidor na atividade marítima, para que os recursos navais russos não precisem impor um bloqueio real aos portos ucranianos”, escreveram os analistas.
Guardas de fronteira ucranianos disseram ter interceptado uma mensagem ameaçadora de um navio de guerra russo, que se comunicou em um canal aberto com um navio civil. Blogueiros militares russos reproduziram a gravação da mensagem, que pode ser verificada de maneira independente.
A Ucrânia, por sua vez, prometeu intensificar seus esforços para atingir navios russos, de guerra ou não, que usam portos russos, e tem trabalhado para expandir sua frota de drones navais.
Em resposta, autoridades russas anunciaram a proibição de navegação noturna para todas as pequenas embarcações perto do Estreito de Kerch, depois que a Ucrânia usou drones navais em um ataque à ponte que liga a Península da Crimeia ocupada à Rússia. O ataque deixou a estrada bastante danificada mas a linha férrea sobre a ponte ainda está funcionando e a Ucrânia prometeu continuar os ataques. O local faz parte da rota primária de abastecimento para as tropas russas que lutam no sul da Ucrânia.
Nesse cenário, parecia improvável que Moscou cedesse à pressão internacional e voltasse ao acordo que por quase um ano permitiu à Ucrânia exportar dezenas de milhões de toneladas de grãos de seus portos. Moscou alega que o pacto é unilateral a favor da Ucrânia e que as sanções ocidentais impostas após a invasão da Ucrânia continuaram a restringir a venda de seus próprios produtos agrícolas.
Na sexta-feira, líderes africanos presentes na cúpula Rússia-África, em São Petersburgo, pressionaram o presidente russo, Vladimir Putin, para voltar a fazer parte do acordo, alegando que o continente foi desproporcionalmente afetado pelas interrupções no suprimento global de alimentos. Um dia antes, Putin enviar gratuitamente até 50 mil toneladas de grãos a seis países africanos que têm fortes elos com Moscou.
Para o presidente Azali Assoumani, das Comores, presidente da União Africana, a promessa é “importante, mas talvez não suficiente”.