Colômbia

Preso por lavagem de dinheiro, filho do presidente colombiano foi denunciado pela ex-mulher

Segundo Day Vásquez, Nicolás Petro embolsou valores doados por contrabandistas e narcotraficantes para a campanha presidencial de seu pai, Gustavo Petro, em 2022

Gustavo e Nicolás Petro - Eitan Abramovich/AFP

Poucos meses depois de se separar de Nicolás Petro, o filho mais velho do presidente Gustavo Petro, sua ex-mulher Day Vásquez procurou a revista Semana para dar uma entrevista que deu origem ao caso judicial mais pessoal e escandaloso que o chefe de Estado colombiano enfrentou em seu primeiro ano de governo — mesmo que, segundo ela, não quisesse envolver o mandatário.

"Tudo foi feito pelas costas do papai", afirmou Vásquez no início da entrevista.

Acusado de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, Nicolas foi preso no sábado.

Saiba quais foram as principais denúncias feitas por Vásquez contra ele:

De acordo com o Ministério Público da Colômbia, Vásquez acusa Nicolás de ter recebido 400 milhões de pesos colombianos (cerca de R$ 481,5 mil) do empresário Alfonso "El Turco" Hilsaca para a campanha presidencial de Gustavo Petro e de tê-los guardado para si.

De acordo com Vásquez, Hilsaca "primeiro lhe deu 200 e, cerca de dez ou oito dias depois, deu-lhe outros 200". A primeira entrega, em espécie, foi feita pelo filho de Hilsaca, de acordo com Vásquez. Hilsaca é um empresário e empreiteiro que foi investigado por assassinato e financiamento de grupo criminoso em 2009.

Vásquez também acusa Nicolás de ter recebido uma caminhonete de uma "mega empreiteira" em Villavicencio para a campanha e de ter se apropriado dela. Embora não se lembre do nome do empreiteiro, ela afirma que o carro fazia parte das "doações" que seu ex-marido acabou embolsando. Mais tarde, a revista Cambio revelou o nome: Juan Manuel Sarmiento, um empreiteiro de construção do departamento de Meta.
 

Ela acusa Nicolás de receber 400 milhões de pesos colombianos (cerca de R$ 481,5 mil) do empresário Alfonso "El Turco" Hilsaca para a campanha presidencial de Gustavo Petro e de tê-los guardado para si. De acordo com Vásquez, Hilsaca "primeiro lhe deu 200 e, cerca de dez ou oito dias depois, deu-lhe outros 200". A primeira entrega, em espécie, foi feita pelo filho de Hilsaca, de acordo com Vásquez. Hilsaca é um empresário e empreiteiro que foi investigado por assassinato e financiamento de grupo criminoso em 2009.

De acordo com ela, Nicolás recebeu 600 milhões de pesos colombianos (cerca de R$ 722 mil) do ex-contrabandista e traficante de drogas Samuel Santander Lopesierra, mas este valor “nunca foi entregue legalmente à campanha, porque ele guardou o dinheiro", declarou. Lopesierra é conhecido como "Homem Marlboro", devido ao seu passado de contrabando de cigarros, entre outras coisas. Ele cumpriu 18 anos de prisão por tráfico de drogas nos Estados Unidos e retornou à Colômbia em 2021. Em 2022, convidou as pessoas a votarem em Gustavo Petro em uma estação de rádio local e, neste ano, apresentou-se como candidato a prefeito de Maicao, no norte do país.

Day Vásquez acusa o candidato do petrismo em Atlántico, Máximo Noriega, de ser o intermediário entre Nicolás e Lopesierra. De acrodo com ela, “o dinheiro que ele [Lopesierra] entregou [à campanha] foi dado a Máximo. Ele [Lopesierra] nunca deu nada diretamente a Nicolás”, afirmou, esclarecendo que o dinheiro era sempre em espécie. “Até onde eu sei, ele fez mais de três entregas. Porque eles não me contaram tudo”. Após a prisão de Nicolás, no sábado, Noriega recebeu o endosso do partido petrista Colômbia Humana para concorrer ao cargo de governador de Atlántico, mas a legenda retirou o endosso do candidato no final do dia. Outras pessoas próximas a Nicolás que foram identificadas como intermediários entre ele e os doadores são seu primo, Camilo Burgos, e seu melhor amigo, Germán Londoño.

Ela disse que ainda guarda o dinheiro recebido de Lopesierra em um banco. Vásquez insiste que o dinheiro não foi para a campanha presidencial e afirma que Nicolás esperava que ele fosse usado para comprar uma casa. Antes de finalizar o negócio, porém, ela preferiu mantê-lo no banco, “por motivos óbvios”, explicando que “parte do dinheiro que foi pago pela casa, ela manteve em um Certificado de Depósito Bancário (CDB)”, sem devolvê-lo a Nicolás.

Vásquez acusa Nicolás de continuar pedindo dinheiro a Lopesierra após a vitória de Gustavo Petro e que ouviu isso da filha do “Homem Malboro”. Segundo ela, Lopesierra estava tentando manter o apoio de Nicolás, porque queria ter o endosso do petrismo para concorrer ao cargo de governador de La Guajira nas eleições de outubro.

Nicolás também teria pedido cargos aos ministros de seu pai, afirma Vásquez, que mostrou uma conversa que teve com o ex-marido, quando Gustavo Petro já era presidente, e na qual o filho diz que "Prada me deu algumas cotas. Ele me deu 10 cotas". Alfonso Prada era então o Ministro do Interior, e por "cotas" ele se referia aos cargos que Nicolás pedia aos ministros. Embora não forneça detalhes, Vásquez diz que Nicolás também se reuniu com os ministros de Minas, Saúde, Educação, o então secretário-geral da Presidência e a diretora de Prosperidade Social.

Por fim, Vásquez acusa Nicolás de ter conseguido um cargo administrativo para o filho do político condenado Musa Besaile. Embora se soubesse que o filho do presidente havia se encontrado com Musa Besaile Flores (filho do ex-senador Musa Besaile Fayad, condenado por corrupção), Vásquez alega que Nicolás o pressionou a nomear uma cota política dos Besailes para a administração da Sena — uma instituição educacional pública — no departamento caribenho de Córdoba, reduto político da família.