"Polidrogas": cresce o uso mortal de drogas combinadas; entenda
Segundo o CDC, dos EUA, houve um aumento preocupante nas mortes
A utilização de diferentes tipos de drogas de uma só vez se tornando cada vez mais comum nos Estados Unidos. O resultado desse crescimento desse "policonsumo" visto entre as estimulantes e as depressoras tem como consequência o aumento no número de mortes. De acordo com um novo relatório dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, houve um crescimento drástico nos óbitos envolvendo tanto opióides quanto cocaína.
O documento também revela que dobraram no período entre 2011 e 2021 o número de mortes relacionadas a drogas associadas a estimulantes, como cocaína, metanfetamina, anfetamina e metilfenidato. Enquanto as mortes associadas à mistura de estimulantes e opióides (depressores), aumentaram cerca de sete vezes no mesmo período.
Os EUA não estão sozinhos no crescimento desmedido das misturas. Segundo dados do Centro Europeu de Monitoração para Drogas e Abuso de Drogas, óbitos por policonsumo, especialmente envolvendo opióides, também estão aumentando na Europa.
Estimulantes versus depressores
A diferença entre as substâncias se dá na maneira como funcionam os seus mecanismos. A cocaína e a metanfetamina, por exemplo, são drogas estimulantes, enquanto os opioides, como a heroína e a metadona, são depressores. Os estimulantes funcionam principalmente ativando o sistema de dopamina do cérebro. A dopamina é um neurotransmissor, ou mensageiro químico, importante no sistema de recompensa do cérebro, por isso é fundamental para sentir alegria e euforia.
Isto é, a cocaína e a metanfetamina tendem a deixar o indivíduo eufórico, mais alerta e com mais energia, enquanto a heroína tem como efeito o completo oposto. O cérebro e o corpo têm várias proteínas ligadas às superfícies celulares envolvidas na transmissão dos sinais opióides. Esses receptores são ativados pelas substâncias. Após uma pequena onda inicial de euforia, os usuários de heroína relatam um longo período de sonolência.
"Infelizmente, é fácil ter uma overdose de opióides como a heroína. A superdose pode levar à depressão respiratória e, posteriormente, à insuficiência respiratória. É quando há longas pausas entre as respirações, que se tornam mais como suspiros e então uma perda de consciência seguida pela cessação da respiração" escreve Colin Davidson, professor de Neurofarmacologia da Universidade Central de Lancashire, no Reino Unido, para o The Conversation.
O especialista explica que a cocaína e a metanfetamina são menos propensas a matar uma pessoa, mas ainda são drogas perigosas pois causam palpitações cardíacas, aumento da pressão arterial e aumento do risco de derrame. Tomar estimulantes junto com um opióide claramente aumenta o risco de morte relacionada às drogas.
"Uma razão pela qual podemos estar vendo mais mortes relacionadas a drogas é devido ao aumento do uso de fentanil. Ele é um opióide sintético 50 vezes mais potente que a heroína e 100 vezes mais potente que a morfina, com início de ação mais rápido. Portanto, é mais provável que leve à depressão respiratória do que outros do da mesma classe, como a heroína ou metadona" explica.