BRASIL

Galípolo estreia em reunião do Copom sem expectativa de "virada de mesa" pela equipe econômica

Até meados de julho, a composição do Banco Central estava unicamente com nomes indicados ou reconduzidos na gestão de Bolsonaro

Gabriel Galípolo - Pedro França / Agência Senado

A reunião que vai decidir a nova taxa básica de juros da economia nesta quarta-feira (2) traz uma estreia: o ex-número 2 do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, o novo diretor de Política Monetária — área chave para o embasamento técnico à decisão sobre juros.

O anúncio ocorrerá no início da noite. Em comum, os analistas do mercado financeiro têm a expectativa de redução na taxa atual de 13,75% ao ano. A dúvida é se o Banco Central (BC) fará um corte de 0,25 ou de 0,5 ponto percentual.

Gabriel Galípolo faz parte da primeira leva de indicados de Lula à cúpula da autarquia, junto com o servidor de carreira Ailton Aquino, novo diretor de Fiscalização. Ambos devem introduzir a visão do governo no colegiado.

Desde o início do terceiro mandato de Lula, integrantes do Executivo e o próprio presidente vêm repetindo críticas à elevada taxa de juros.

Quando Galípolo passou pela sabatina do Senado, ele argumentou que a "necessária" discussão técnica sobre os movimentos econômicos do país não pode “interditar” o debate público. Ele é visto como um possível sucessor do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, em 2025 (veja abaixo o fim do mandato de cada um dos integrantes).
 

— Não cabe a nenhum economista, por mais excelência que tenha, impor o que ele entende ser o destino econômico do país à revelia da vontade democrática e dos seus representantes eleitos, que são os senhores — disse, naquele momento, aos senadores.

Galípolo não vai "virar a mesa"
Na reunião do Copom de junho, apesar de ter mantido a Selic em 13,75%, o Banco Central sinalizou que poderia iniciar o corte no encontro desta quarta-feira. Na divulgação da Ata, o BC afirmou que havia uma "avaliação predominante" entre os integrantes do colegiado de que "a continuação do processo desinflacionário em curso pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião".

Na Fazenda, internamente, a avaliação é que a queda dos juros já poderia ter ocorrido a partir dos indicadores macroeconômicos positivos, como inflação e a melhora da perspectiva fiscal. Por outro lado, é negado que o objetivo da indicação de Galípolo ao BC foi 'virar a mesa' do Copom.

A atuação dele, segundo um integrante do ministério, será baseada em "dados objetivos" sobre a economia.

Há a tentativa de afastar a ideia de rivalidade entre governo e Banco Central. É citado que antes do BC indicar o corte de juros, a defesa na redução já encontrava coro entre representantes do varejo e grupos empresariais. Portanto, nessa premissa, não foi só o governo que fez contraponto às últimas decisões do Copom.

Nos bastidores também é mencionado que a queda da Selic já foi defendida, esta semana, pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro.

Decisões unânimes até agora
Até meados de julho, a composição dos integrantes do Banco Central estava unicamente com nomes indicados pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e nomes que já estavam no corpo de diretores e foram reconduzidos também pela gestão anterior.

Até o momento, as decisões sobre juros da autarquia vêm seguindo uma trajetória de unanimidade. A única exceção foi em setembro do ano passado. Os diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais) e Renato Gomes (Sistema Financeiro) votaram pela elevação de 0,25 pontos percentuais, enquanto a maioria decidiu pela manutenção da taxa de 13,75%, na época.

Mais recentemente, o BC também ficou dividido - desde vez sobre a sinalização da queda de juros em agosto. A maioria estava observando espaço para cortes, enquanto um grupo menor estava com uma perspectiva mais conversadora.

Composição:
A Selic é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne a cada 45 dias para analisar o cenário econômico e definir a taxa que valerá até a próxima reunião. Veja a atual composição do Copom:

Roberto Campos Neto - Presidente do BC - com mandato até dezembro de 2024;

Fernanda Magalhães Rumenos Guardado - Diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos - com mandato até dezembro de 2023;

Maurício Costa de Moura - Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta - com mandato até dezembro de 2023;

Carolina de Assis Barros - Diretora de Administração - com mandato até dezembro de 2024;

Otávio Ribeiro Damaso - Diretor de Regulação - com mandato até dezembro de 2024;

Diogo Abry Guillén - Diretor de Política Econômica - com mandato até dezembro de 2025;

Renato Dias de Brito Gomes - Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução - com mandato até dezembro de 2025;

Gabriel Muricca Galípolo - Diretor de Política Monetária - com mandato até março de 2027;

Ailton Aquino dos Santos - Diretor de Fiscalização - com mandato até março de 2027.