Igreja

Papa encontra vítimas de pedofilia da Igreja no primeiro dia de visita a Portugal

Relatório divulgado em fevereiro revelou mais de 4.800 casos de abuso por integrantes do clero português desde 1950

Papa Francisco - Andreas Solaro/AFP

O Papa Francisco se encontrou, nesta quarta-feira, em Lisboa, com 13 vítimas de abuso sexual por integrantes da Igreja Católica quando eram crianças, no primeiro dia da visita a Portugal para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o evento católico que atrai o maior número de fiéis do mundo todo.

Em março, a Igreja Católica portuguesa pediu perdão às vítimas de pedofilia por religiosos, após a publicação de um relatório independente que expôs milhares de abusos sofridos por menores durante mais de meio século.

"É com dor que, novamente, pedimos perdão a todas as vítimas de abusos sexuais no seio da Igreja Católica em Portugal", disse a Igreja em um comunicado na época.

Durante a tarde, o Pontífice já havia tocado no tema durante o discurso para o clero português, quando defendeu que “o grito de dor das vítimas” seja escutado.

Um relatório divulgado em fevereiro e elaborado por um grupo de especialistas independentes revelou que integrantes do clero católico português haviam abusado sexualmente de 4.815 menores desde 1950. Os abusos foram encobertos pela hierarquia eclesiástica de forma "sistêmica", ressaltaram os especialistas em suas conclusões, após ouvirem mais de 500 testemunhos.

Pontes para a paz

Na chegada a Portugal, o jesuíta argentino de 86 anos foi recebido com honras militares, antes de iniciar a sua intensa agenda na capital portuguesa, onde são esperados até domingo cerca de um milhão de jovens católicos de todo o mundo. Francisco falou sobre o conflito na Ucrânia e defendeu que a Europa seja "construtora de pontes" para a paz.

— Olhando com grande afeto para a Europa, no espírito de diálogo que a caracteriza, apetece perguntar-lhe: para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo — questionou o Papa, de 86 anos.

O Pontífice argentino lamentou ainda que "no oceano da História, estamos navegando num momento tempestuoso e sente-se a falta de rotas corajosas de paz", afirmou às autoridades e corpo diplomático portugueses no centro cultural de Belém, pedindo repetidamente pela paz na Ucrânia desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022.

Francisco também recordou "o sonho europeu de um multilateralismo mais amplo do que o mero contexto ocidental", capaz de "captar o mais débil sinal de distensão e de o ler por entre as linhas mais tortas da realidade".

— O mundo precisa da Europa, da Europa verdadeira: precisa do seu papel de construtora de pontes e de pacificadora no Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente — destacou.

Fiel aos temas centrais de seu pontificado iniciado em 2013, o Papa criticou os flagelos que enfraquecem, segundo ele, o Ocidente, como as políticas de imigração, a crise demográfica, a eutanásia e o comércio de armas.

— Para onde navegais, Europa e Ocidente, com o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios? Para onde ides se, perante o tormento de viver, vos limitais a oferecer remédios rápidos e errados como o fácil acesso à morte, solução cômoda que parece doce, mas na realidade é mais amarga que as águas do mar? — indicou.

Portugal aprovou em maio uma lei que regula "a morte assistida", unindo-se ao grupo de países europeus que legalizaram a eutanásia e o suicídio assistido, entre eles a vizinha Espanha. (Com AFP)