Banco Central indica novos cortes de 0,5 ponto na Selic, veja os principais pontos do comunicado
Campos Neto vota junto com Galípolo e reduz pressão sobre o Banco, cenário fiscal deixa de ser citado como fator de risco
A decisão do Banco Central de cortar os juros em 0,5 ponto não era a aposta principal do mercado financeiro, mas estava no radar de muitos economistas. No comunicado do Copom desta quarta-feira, um dos principais recados dos diretores do BC foi a indicação de que esse será o ritmo de cortes nas próximas reuniões. Confira abaixo os principais recados do Banco.
Cortes continuarão no ritmo de 0,5 ponto
O Banco Central foi bastante claro de que novos cortes de juros vão acontecer, e na mesma intensidade de 0,5 ponto percentual. Ou seja, se hoje a Selic caiu de 13,75% para 13,25%, na reunião de 20 de setembro, a Selic cairá mais meio ponto, para 12,75%.
"Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", disse o comunicado do Banco Central.
Sem meta definida para o fim do ciclo
O BC também deixou em aberto o tamanho do ciclo de cortes da Selic. Ou seja, não é possível ainda afirmar por quantas reuniões haverá cortes, embora o mercado financeiro faça as suas apostas. De acordo com o Boletim Focus, a Selic chegará em dezembro em 12% e no final de 2024 em 09,25%;
"O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos."
Campos Neto unido a Galípolo
Embora todos os nove membros do Copom tenham votado pela queda dos juros, a decisão foi dividida em relação à intensidade do corte. Cinco membro, entre eles o presidente Roberto Campos Neto e o diretor Gabriel Galípolo, indicado por Lula e cotado para assumir a presidência do Banco, votaram pelo corte de meio ponto. Ao votar junto com o nome indicado pelo atual presidente, Campos Neto deve conseguir diminuir a pressão e as críticas públicas que vem recebendo de Lula.
Essa é a segunda divisão do Copom no mandato de Campos Neto, que comanda o BC desde 2019. O presidente do BC acompanhou os votos dos dois diretores nomeados pro Lula: Ailton de Aquino Santos (Fiscalização) e Gabriel Muricca Galípolo (Política Monetária). Outros dois diretores também votaram pela redução de 0,50 pontos. O restante voltou pela queda de 0,25 ponto percentual.
— O fato de RCN e Galipolo terem votado juntos evita problemas de conflitos internos da diretoria do BCB na condução da política monetária e alivia pressões sobre o BCB — avalia o economista André Perfeito.
Melhora no cenário fiscal
Um fator diferencial em relação às últimas decisões, é que não houve nenhuma menção do risco fiscal - ou seja, de descontrole das contas públicas. O projeto de Lei do governo, que cria novas regras fiscais, sequer é citado. No último comunicado, o Copom citava alguma “incerteza residual” sobre o desenho do arcabouço fiscal. A regra está para ser aprovada na Câmara ainda este mês, de forma definitiva.
O cenário apresentado, como fatores de risco, está concentrado nos indicadores de preços: núcleos de inflação, expectativas dos agentes de mercado e inflação de serviços.