Greve dos metroviários começa com transtornos para passageiros
Na Estação Recife, alguns usuários do metro sequer sabiam da paralisação
O primeiro dia da greve dos metroviários dificultou a mobilidade na Região Metropolitana do Recife (RMR), nesta quinta-feira (3). A paralisação afeta cerca de 180 mil usuários que dependem do modal para chegarem ao trabalho ou demais compromissos. A reportagem da Folha de Pernambuco percorreu as principais estações.
Na Estação Central do Recife, no bairro de São José, alguns passageiros sequer sabiam da greve, como é o caso do vendedor de automóveis Ronald Arthur, 22 anos.
“Eu pego o metrô todos os dias, porque eu trabalho em Afogados [na Zona Oeste do Recife]. Vou ter que me desdobrar de alguma forma para chegar lá, andando até à rua do Sol para poder pegar outro ônibus que vá sentido Afogados”, disse ele, que também afirmou estar atrasado.
Por causa da greve, o Grande Recife Consórcio de Transporte ativou um plano de contingência, que inclui a operação de três linhas especiais e o reforço na frota ou viagens em outras — confira aqui todos os detalhes.
Uma das pautas da greve é a não privatização do sistema. Ronald é de acordo com a desestatização, porém aponta prejuízos, caso isso aconteça.
“Eu acredito que privatizar pode ser a solução, porque pode melhorar a situação do atendimento, mas pode ser um problema, porque colocar nas mãos de uma empresa privada pode acabar subindo tarifa e gerando um contratempo para o trabalhador”, finaliza.
A copeira Maria Lúcia trabalhou 12 horas e teve que optar por algum ônibus para chegar a Jaboatão Velho, onde mora. “Eu vou ter que pegar três ônibus. De metrô eu levo uns 30 minutos, mas de ônibus eu vou chegar lá pro meio-dia. Deveria ter um entendimento antes de ter essa greve. O trabalhador que sempre paga a conta”, pontuou.
Sobre a greve
A paralisação foi definida na noite de ontem, em assembleia da categoria, que pede melhores condições de trabalho, o cumprimento de um acordo coletivo com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e abano privatização do sistema.
Terminal Integrado do Barro
A movimentação no Terminal Integrado do Barro, Zona Oeste do Recife, era maior. Maria de Lurdes, 59 anos, dependia do metrô para chegar em um hospital que fica na área central do Recife, para cuidar da filha, mas a ida ao terminal do Barro foi em vão. Ela conversou com a reportagem e desabafou sobre os problemas estruturais na estação de metrô.
“Eu preciso socorrer a minha filha. Eu não sabia da greve, mas eu sou a favor deles [dos metroviários] e que fecham todas as estações para que haja manutenção, porque é telhado enferrujado e caindo, a parte elétrica falhando. Nós estamos correndo risco de vida”, destaca.
Arthur Patrício, auxiliar de mecânico teve que optar por um ônibus para chegar até o bairro da Mangueira, Zona Oeste do Recife.
“Isso triplica o tempo de chegada. Eu moro em São Lourenço, tive que pegar um ônibus para a Estação da Macaxeira, aí peguei o BR-101 para chegar aqui [no Barro]. Eu fiquei sabendo da greve hoje de manhã”, disse.
Grande Recife reforça linhas, em plano de contingência
Em virtude da greve dos metroviários, o Grande Recife Consórcio de Transporte colocou um plano de contingência no ar, ativando linhas especiais, além de reforço e alteração e prolongamento no itinerário de outras que devem seguir viagem até a área central do Recife. São elas:
- 238 - TI Jaboatão/ TI Barro
- 2481 - TI Camaragibe/ TI TIP
- 858 - TI Joana Bezerra/ TI Afogados/ TI Barro
Terminal Integrado de Jaboatão
No Terminal Integrado de Jaboatão, onde uma dessas linhas opera em regime de reforço, a TI Jaboatão/ TI Barro, o fluxo de passageiros era intenso. A professora Silvaneide Maria se atrasou para chegar ao trabalho, em Olinda. A expectativa de chegada dela é para perto do meio-dia.
“Mesmo com o reforço, a vida da gente fica atrasada. Agora mesmo, eu vou pro centro do Recife para pegar o TI Xambá para chegar [no trabalho]. De metrô eu levo 40 minutos. Estou super atrasada”, desabafou.
Leandro Cândido, vigilante, trabalhou a noite inteira. Ele sabia da greve, mas achou que algum esquema especial do metrô fosse oferecido aos usuários. Ele mora no Engenho do Meio, Zona Oeste da capital.
“A gente entende que o metrô precisa de melhorias e os funcionários precisam de valorização, mas acho que deveria ter sido vista a questão dos passageiros. O pessoal que está indo pro trabalho é que fica prejudicada”, explica.
Terminal Integrado Joana Bezerra
Muitos passageiros tiveram que optar por algum ônibus que circula pelo TI Joana Bezerra, na área central da capital pernambucana. Por falta de condições financeiras, a opção por um transporte de aplicativo era nula. O agente de Direitos Humanos Moisés Cardoso estava no local. Ele ia para Olinda de metrô, mas pela falta do modal, estava aguardando um amigo para o levar ao trabalho.
"Infelizmente, a gente tem que se deslocar para trabalhar, resolver os problemas e as situações. Gera-se um gasto, um rombo financeiro no bolso. Muita gente tem uma programação de gasto, coloca a passagem no VEM [Vale Eletrônico Metropolitano], porque pega o metrô, se desloca até o TI [Terminal Integrado], porque tem um horário de até duas horas para que a pessoa pegue um ônibus e chegue no local de destino. Havendo a greve, dificulta a situação. Mas é porque há um objetivo de melhoria, de qualidade, porque os metrôs precisam de mais qualidade e manutenções. Se tem a greve, é porque precisa-se de equilibrar alguma coisa e a gente tem que entender a situação", explicou.
Sindicato dos Metroviários de Pernambuco tem ato programado para amanhã
Em entrevista à Folha de Pernambuco, o presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (SINDMETRO-PE), Luiz Soares, parabenizou os profissionais pela aderência total da greve, agradeceu aos usuários pela compreensão, mesmo com prejuízos que a paralização possa causar e contou os próximos passos que os trabalhadores vão seguir daqui pra frente.
"Amanhã [quarta-feira, 4], às 14h, a gente vai fazer uma concentração na Estação Recife para realizarmos uma caminhada e, depois, voltando à estação, vamos fazer uma assembleia para tirarmos os encaminhamentos que vão ser entregues à governadora Raquel Lyra", explicou.
TRT determina funcionamento de 60% da frota do metrô
Neste primeiro dia de greve, o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região determinou que 60% da frota de trens do metrô devem voltar a funcionar nos horários de pico.
Em outros períodos, a operação deve ser de 40%. A decisão vem após análise da ação cautelar que foi movida pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Em caso de descumpriumento por parte da categoria, o TRT-6 prevê pagamento de multa de R$ 60 mil por dia.