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Vacina contra o sarampo no Brasil tem queda mais forte em cidades pobres; veja cobertura atual

Novo estudo destaca como disparidades de renda entre os municípios afetam a cobertura com o imunizante no país, inferior a 60% do público-alvo

Imunização é feita por meio da aplicação da vacina tríplice viral, que também protege contra rubéola e sarampo - Paullo Allmeida

Entre 2006 e 2020, a cobertura vacinal com a primeira dose da tríplice viral – imunizante que protege contra sarampo, caxumba e rubéola – caiu em média 1,2% a cada ano no Brasil. O declínio levou o país a estagnar no patamar em que sucessivamente o número de crianças desprotegidas fica bem abaixo da meta do Ministério de Saúde, de 95%. Desde 2019, a cobertura com o esquema completo de imunização está abaixo de 65%.

Além disso, essa realidade de queda é mais dramática em cidades pobres. É o que mostra um novo estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, no Reino Unido, da Universidade de São Paulo (USP) e da Fiocruz. O trabalho, publicado na revista científica PLOS Global Public Health, analisou os dados de imunização nas 5.565 cidades do país no período de 15 anos.

Os responsáveis observaram que a queda foi de, em média, 1,2% a cada 12 meses em âmbito nacional. Porém, nos municípios de baixa renda, essa diminuição foi mais acentuada, em 1,64% anualmente. Por outro lado, nos locais de maior renda, o declínio foi menor, de somente 0,64% a cada ano.

“A queda na cobertura da vacina tríplice viral de primeira dose no Brasil é generalizada, mas declínios mais acentuados têm sido observados nos municípios mais carentes. Para promover a equidade vacinal e prevenir futuros surtos, mais pesquisas são urgentemente necessárias para compreender os mecanismos causais subjacentes às associações observadas entre a cobertura e a privação da vacina tríplice viral no nível municipal”, escrevem os autores no estudo.

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Além disso, eles destacam a continuidade do declínio após o ano de 2020, último do levantamento. Segundo eles, a queda, que é mundial, “continuou durante a pandemia de Covid-19, e 2021 teve a menor cobertura desde 2008 em todo o mundo”, citando informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Destacam ainda que o Brasil foi “identificado como um dos principais dez países no mundo com a maior proporção de bebês que não receberam uma dose da tríplice viral”.

Cobertura estagna distante da meta
Segundo dados da OMS divulgados recentemente, em 2022 a cobertura vacinal das crianças no mundo teve uma leve melhora, porém ainda distante das metas. A dose que protege contra o sarampo foi a que teve a pior recuperação após a emergência da Covid-19, saindo de 81% dos pequenos protegidos, em 2021, para apenas 83% no ano seguinte – enquanto, em 2019, esse percentual era de 86%.

No Brasil, os dados da OMS indicam um cenário pior que a média global. A cobertura saiu de 73%, em 2021, para 81%, em 2022 – percentual referente apenas à primeira dose. Desde 2016, ano em que recebeu o certificado de erradicação do sarampo, o país não alcança a meta de 95%. O status de país livre da doença foi revogado em 2019 devido à volta de casos e das sucessivas coberturas abaixo do ideal.

A proteção com as duas doses em 2022, por exemplo, é bem inferior à meta: somente 58% foram completamente protegidos. Segundo dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI/CGPNI/DEIDT/SVS/MS) do Ministério da Saúde, disponíveis no DataSUS e consultados nesta quinta-feira, a cobertura em 2023 está em 56,31% com a primeira dose, e 39,13% para o esquema com as duas aplicações.

A vacina tríplice viral protege contra três doenças infecciosas causadas por vírus: o sarampo, a caxumba e a rubéola. Ela está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), aplicada a partir do primeiro ano de vida. No calendário da criança, a primeira dose é orientada aos 12 meses, e a segunda, aos 15. O SUS oferece ainda a proteção de forma gratuita para pessoas mais velhas que não foram vacinadas.

Para aqueles com até 29 anos, o esquema nesse caso é feito também com duas doses, no intervalo de ao menos um mês entre elas. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomenda que sejam no máximo dois meses de espera. Para adultos entre 30 e 59 anos que não foram protegidos previamente, a vacinação é feita com apenas uma dose.