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Coreia do Norte confirma ter a custódia de soldado americano Travis King

Militar enfrenta processo de expulsão das Forças Armadas americanas e cruzou ilegalmente a fronteira do país com a Coreia do Sul

Travis King, de 23 anos, estaria sob custódia norte-coreana, em um incidente que poderia aumentar as tensões entre Washington e Pyongyang - Reprodução

O governo da Coreia do Norte confirmou que o soldado americano Travis King é mantido sob custódia no país em um breve contato com a ONU. O militar entrou no país ilegalmente cruzando a fronteira com a Coreia do Sul, como informou o Departamento de Estado americano.

— Foi uma ligação para o Comando das Nações Unidas na zona desmilitarizada (na fronteira entre as Coreias) — disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, a jornalistas em Washington, nesta quarta, completando que foi apenas uma “ligação de reconhecimento”. Miller confirmou que a Coreia do Norte ainda não respondeu aos esforços dos Estado Unidos para manter contato por meio de canais diplomáticos.

— Como não foi substancial, certamente não vemos isso como um progresso de forma alguma — acrescentou.

Travis King, de 23 anos, estava em uma visita turística à Zona Desmilitarizada (DMZ), quando cruzou a fronteira do país com a Coreia do Sul. Ele entrou para o Exército americano em janeiro 2021. King foi preso por quase dois meses na Coreia do Sul por agressão e deveria voar para o Texas, onde enfrenta um processo de expulsão das Forças Armadas. No entanto, antes de embarcar, ele deixou o aeroporto e se juntou a uma excursão à Área de Segurança Conjunta no vilarejo de Panmunjom, onde atravessou a fronteira e acabou sendo levado por militares norte-coreanos.

A Zona Desmilitarizada que separa as duas Coreias é uma das áreas mais fortificadas do mundo. Como apontou a BBC, o local está repleto de minas terrestres e possui cercas elétricas de arame farpado, além de câmeras de vigilância e guardas armados, que devem permanecer em alerta 24 horas por dia.
 

Por e-mail, o Comando das Nações Unidas que ajuda a manter o Armistício que encerrou a Guerra da Coreia há 70 anos confirmou à Bloomberg que Pyongyang respondeu, mas justificou que “para não interferir em nossos esforços para levá-lo para casa, não entraremos em detalhes neste momento”.

A Coreia do Norte não mencionou King em sua mídia oficial, o que pode indicar que o soldado enfrenta intenso interrogatório e que o governo norte-coreano ainda não sabe se vale a pena mantê-lo mais tempo no país. Em casos semelhantes anteriores, o regime de Kim Jong-un fez um anúncio oficial da detenção semanas depois do incidente, alegando que a decisão ocorria após interrogatório.

O último americano detido na Coreia do Norte foi Bruce Lowrance, há aproximadamente cinco anos, preso por cruzar ilegalmente a fronteira. Pyongyang fez apenas uma menção a ele em um despacho de três frases divulgado pela mídia estatal quando ele foi deportado cerca de um mês após a detenção.

A maioria dos cerca de 20 americanos detidos desde o fim da guerra no país ficou sob custódia por um ano ou menos. A Coreia do Norte também já buscou que os Estados Unidos mandassem enviados de peso, como os ex-presidentes Jimmy Carter e Bill Clinton, para resgatar os detidos, em movimentos destinados a marcar pontos internamento para o líder norte-coreano.

As relações entre o país e os Estados Unidos se deterioraram, em 2017, quando um estudante americano de 22 anos, que havia sido preso um ano antes por roubar um cartaz com slogan político do hotel onde estava alojado, foi devolvido aos EUA em coma e morreu pouco depois.

Ainda em 2017, um soldado norte-coreano foi alvo de tiros ao desertar e correr rumo ao sul. Ele conseguiu concluir o trajeto na Zona Comum de Segurança (JSA), em Panmunjom, no entanto, foi removido por soldados sul-coreanos e encaminhado em estado grave ao hospital. Atualmente, seis sul-coreanos estão sob custódia da Coreia do Norte. (Com Bloomberg)