Deputada vítima de gordofobia na CPI do MST vai denunciar caso à PGR
Presidente da CPI do MST perguntou a Sâmia Bomfim se ela queria "um remédio ou um hambúrguer para se acalmar"
Vítima de gordofobia e machismo na sessão desta quinta-feira na CPI do MST, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) afirmou que denunciará o caso à Procuradoria Geral da República (PGR), por aquilo que entende ser uma "violência de gênero". De acordo com ela, a ironia do presidente do colegiado, Coronel Zucco (Republicanos-RS), é repetida frequentemente por homens nos corredores da Casa, nas redes sociais, e também em sessões da CPI do MST.
Desta vez, com o microfone ligado, Zucco perguntou a Sâmia Bomfim se ela queria "um remédio ou um hambúrguer para se acalmar". Na ocasião, o líder da Frente Nacional de Lutas (FNL), José Rainha, prestava depoimento. Sâmia fez o uso da palavra com o microfone desligado, fora do seu momento de fala, e ouviu este questionamento do celaga.
— Eu já tinha visto esse tipo de ironia nas redes sociais, por parte do relator da CPI, Ricardo Salles, mas nunca vindo do Zucco. Ele já havia me silenciado, cortado meu microfone, mas nunca agido desta forma tão truculenta, publicamente. Eu denuncio e seguirei denunciando sempre que houver violência política de gênero. Pedirei que a Procuradoria-Geral da República (PGR) anexe o caso de hoje à investigação já em curso contra o Zucco por violência política de gênero contra mim. Eu procuro responder à altura, acho que é pedagógico para que as demais mulheres não baixem a cabeça. Não vou retroceder — garante a parlamentar.
Zucco pediu para que a própria fala fosse retirada das notas taquigráficas e lembrou ataques anteriores de Sâmia Bomfim, que chegou a citar o irmão dele, que faz tratamento contra um câncer, como "investigado pelo Supremo Tribunal Federal". Após a fala de Zucco, o chat de transmissão da CPI no canal da Câmara do Youtube passou a receber mensagens com o Emoji de um hamburguer. O deputado também emitiu um comunicado sobre o episódio:
"Desde o início dos trabalhos desta CPI tenho sido alvo de ataques e ofensas do mais baixo nível por parte da base governista. Uma parlamentar em especial tem se notabilizado nessa estratégia rasteira e covarde: Sâmia Bomfim. Foram várias as oportunidades que as parlamentares fizeram ataques pessoais ao presidente, ao relator e aos membros do colegiado. Como ser humano que sou, me vi no dever de defender a honra do meu irmão que sofre de câncer. Trazer o nome dele para me atingir ultrapassou todos os limites. Me desculpei pela fala por entender que o respeito deve imperar em qualquer relação", disse.
Em depoimento à CPI do MST, o líder da Frente Nacional de Lutas (FNL), José Rainha, reconheceu nesta quinta-feira que "tem relações políticas e fraternas" com a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Questionado pelo relator do colegiado, Ricardo Salles (PL-SP), Rainha não negou o vínculo. Em seguida foi exibido um vídeo, no qual o líder da FNL pedia votos para a parlamentar nas últimas eleições. Ele disse não ter nenhuma ingerência sobre o fato de a sua ex-esposa ser empregada atualmente por Sâmia.
— Minha relação com a Sâmia e outros deputados é fraterna e política. Tenho relações diplomáticas e pedi votos para vários nomes nesta eleição — disse.
O depoimento é considerado o mais aguardado até o momento pela oposição. A sabatina a Ra/inha ocorre depois de o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter determinado, nesta terça, que o depoimento fosse mantido.
A defesa do líder da FNL havia argumentado que Rainha tem "justo e firmado receio" em depor para a CPI, porque ele responde a um processo criminal que "abrange fatos com tema semelhante ao do colegiado". Apesar de ter determinado a ida, Fux autorizou que Rainha f em silêncio sobre fatos que possam "implicar em sua incriminação". Ele cumpriu prisão preventiva entre março e junho deste ano por suspeita de extorquir fazendeiros e produtores rurais, além de participação em conflitos agrários armados.
Rainha foi convocado pela CPI do MST na condição de testemunha para esclarecer a atuação da FNL e "sanar questionamentos sobre possíveis cometimentos de crimes pelos representantes e pelo próprio movimento na condição de testemunha". Com esses elementos, o depoimento dele se tornou o mais aguardado até o momento. Em sessão desta quarta-feira, o relator do colegiado, Ricardo Salles (PL-SP), disse durante um desentendimento com Sâmia Bomfim (PSOL-SP):
— Ela está nervosa por saber que amanhã o padrinho dela será ouvido aqui.
Além do depoimento de José Rainha, há expectativa por outros dois depoimentos à CPI do MST: na última quarta, o colegiado aprovou a convocação do ministro Rui Costa, da Casa Civil. Ele foi escolhido pelo entendimento de que em seu mandato como governador da Bahia não teria empreendido "esforços para impedir atos de invasões de terra nem para garantir a propriedade privada".
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, irá como "convidado" no próximo dia 10. Ele afirmou que não há "problemas a temer" porque não há irregularidades na relação do governo com movimentos sociais. Uma declaração dele, entretanto, gerou revolta entre os opositores.
Teixeira minimizou, nesta quarta-feira, as invasões promovidas pelo MST na área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele chamou o movimento de "protesto" e afirmou que ocorreu em razão da "ansiedade" dos militantes.
O MST realizou novas invasões ao longo das últimas semanas em terrenos em Pernambuco, Bahia e Goiás. A nova onda do movimento voltou a colocar pressão no governo em meio à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em andamento para investigar a atuação do grupo.
— Não foi uma invasão, foi um protesto. Eu tive uma reunião com eles após a feira. Eles ficaram ansiosos, fizeram aquele protesto, mas já saíram — disse Teixeira.
O ministro atribuiu a ansiedade à cobrança por políticas públicas voltadas para o setor, que, segundo ele, estão andando rapidamente. De acordo com o MST, que é historicamente ligado ao PT, a atitude foi uma reação à gestão de Lula. O movimento cobra o Ministério do Desenvolvimento Agrário por não cumprir a promessa de assentar 1.550 famílias, o que teria sido acordado.