natalidade

Maternidade homoafetiva é tabu na Coreia do Sul, apesar da crise demográfica

Apesar das políticas para aumentar as taxas de natalidade, bancos de esperma são limitados à casais heterosexuais na Coreia do Sul

Casal de lésbicas sul-coreano posando com uma imagem de ultrassom fetal - Jung Yeon-je / AFP

A Coréia do Sul investe bilhões de dólares em políticas para aumentar as taxas de natalidade. Mas quando Kim Kyu-jin e sua companheira, ambas mulheres, quiseram ter um filho, precisaram viajar para a Bélgica.

Kim se casou em Nova York, porque na Coréia do Sul os casamentos homoafetivos não são reconhecidos. Seu estado civil ainda é de solteira.

O casal encontrou muitas barreiras quando decidiu ter um filho, já que as pessoas solteiras não têm acesso à adoção e os bancos de esperma são para casais heterossexuais com problemas de fertilidade.

Kim Kyu-jin e sua esposa Kim Sae-yeon, que coincidentemente têm o mesmo sobrenome, decidiram seguir para um banco de esperma na Bélgica.

Agora, Kyu-jin está grávida de oito meses e as duas querem que seu filho nasça na Coreia do Sul, no mesmo hospital onde Sae-yeon trabalha como médica, para conscientizar o público sobre a maternidade homoafetiva.

"Este bebê vai crescer com duas mães felizes. É muito provável que seja muito feliz", disse Sae-yeon.

Obstáculos e críticas
A taxa de natalidade na Coreia do Sul é de 0,78 filho por mulher, uma das menores do mundo. O país investe bilhões de dólares para incentivar seus cidadãos a terem filhos, sem sucesso.

Entre as políticas adotadas está o benefício para tratamentos de fertilidade, auxílio às famílias e creches gratuitas. Mas essa política é voltada exclusivamente para casais heterossexuais e reflete o preconceito contra mães solo, em um país onde apenas 2,5% das crianças nascem fora do casamento, ante 40% nos países da OCDE.

Na Coreia do Sul, as pessoas que tentam ser pais e mães "fora do sistema convencional" enfrentam muitas críticas, disse Sae-yeon.

Há também os obstáculos práticos. Por exemplo, Sae-yeon não tem nenhum direito legal sobre seu filho e também não pode tirar a licença maternidade.

A ideia de ter filhos surgiu quando Kyu-jin trabalhava na França. Quando seu chefe descobriu que ela era lésbica e casada, perguntou se ela planejava constituir família.

"Isso me pegou de surpresa. Foi uma pergunta tão pessoal e pensei que se as pessoas perguntam isso a alguém que morreu de conhecer, é porque deve haver muitas lésbicas que têm filhos" na França, contorno.

Na Coréia do Sul, as duas foram criticadas por serem "egoístas", já que alguns afirmam que seu filho será discriminado.

Elas cogitam emigrar caso considerem que a educação em seu país é muito complicada.

"Existem pessoas bem-intencionadas que se preocupam com nosso filho, que estão preocupadas com o sofrimento [emocional] que ele vai vivenciar", disse Kyu-jin.

Os avós do bebê não têm planos de conhecê-lo, já que Sae-yeon tem uma relação difícil com os pais, que não compareceram ao casamento dela em 2019. Ela espera que um dia eles aceitem seu relacionamento com Kyu-jin e conheçam o neto.

"Não sei quanto tempo vai demorar até lá. Mas acho que eles vão se arrepender de perder tantos bons momentos divertidos", afirmou.